Meu mundo de sucata

Era um quintal grande

Com lixo de todo lado,

Mas se tratava de lixo diferente,

Que poderia ser reaproveitado.

À medida que compravam

Móveis, brinquedos ou aparelho digital

Embelezavam a casa

E jogavam os usados no quintal.

Era tanta coisa junto,

Que a sucata se expandia.

E quanto mais compravam,

Mais o quintal se comprimia.

Tinha ainda outro problema

Com o qual não conseguiam lidar:

Compravam tantas futilidades

Que o dinheiro não podia pagar.

Três crianças que lá moravam

Se sentiam sufocadas.

Observavam com tristeza

As relações familiares serem esmagadas.

Dentro da casa havia regras

Que não acabavam mais,

E o quintal onde brincavam

Sem espaço até para os animais.

Numa manhã em que os pais

Foram outra vez comprar,

As crianças aproveitaram

Para aquela bagunça erradicar.

Usaram toda a criatividade

E trabalharam pra valer.

Entre ideias postas em prática

Um quintal agradável ia aparecer.

Mesa velha com cadeiras

Num cantinho arrumada

Sobre ela muitos jogos

Para o lazer da molecada.

O rolo de corda azul

Foi amarrado na mangueira,

Fizeram com ela balanços e

Empilharam a lenha da fogueira.

Os velhos vasos de planta,

(Uau, nem dá para acreditar)

Acomodados num cantinho ao sol,

Deixaram lindo o lugar.

A lona da piscina

Num belo lago se transformou.

Os suportes serviram de cascata,

Musgo em volta brotou.

As bicicletas quebradas

Foram afixadas num tablado,

Seria ali o espaço

Para exercício físico planejado.

De uma árvore a outra,

Com o cabo de aço do varal Adaptaram uma tirolesa

Que proporcionou diversão geral.

E a pilha de pneu velho

Que papai não usava mais

Se transformou em balanço

E em suporte para plantas ornamentais.

Restos de madeira

Encontravam de montão,

Construíram uma passarela

Que deixou lindo todo o chão.

A cadeira de balanço

Que dentro de casa a mamãe não queria

Foi o móvel fundamental

Para o cantinho das histórias contadas pela tia.

Os olhinhos das crianças

Brilhavam de tanta emoção

O quintal se transformara

Num ambiente para estudo e diversão.

Do amontoado de coisas velhas

Que pareciam sem valor

Emergia a transformação

De um espaço de diversão e amor.

Aproximava-se a noite

Quando pararam de trabalhar,

Acenderam o lampião

Que clareou todo o lugar.

Algum tempo depois

Quando os pais a casa regressaram,

Ficaram de boca aberta

Com a surpresa que encontraram.

A maior felicidade das crianças

Veio com a declaração

De que daquele dia em diante

Haveria com os filhos diálogo e cooperação.

Esse livro é uma cartilha

Que nos ensina a pensar

No quanto um olhar diferente

Pode o mundo transformar.

Valéria Nunes de Almeida e Almeida
Enviado por Valéria Nunes de Almeida e Almeida em 28/02/2017
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