Em Campanha para 2018...

- Papai, quero ver a partida da mudança do Brasil, inhô deixa?

- A mudança, bom a mudança, meu fio, já está no navio há décadas; não levaram ainda porque o Brasil não cabe no Japão.

- Ué, encalhou; ou esqueceram a mudança no navio, papi?

- Sim, fiim, mas em épocas de eleições o políticos lembram da mudança e retomam o desembarque da mercadoria.

- É papai... ano que vem tem eleição, né?

- Sim. E eles vão dizer: eleitores desse meu Brasil, precisamos mudar a cara desse país. Chega de tanta roubalheira. Vote em mim: pessoa íntegra, que jamais furtou um centavo do dinheiro público, sempre trabalhando com honestidade. Preciso do seu voto para continuar mudando...

- Chega Papai, estou com 60 anos e o sinhô sempre diz a mesma coisa. Vire o lado do disco Papi, porque mudar, impossível. O Brasil não cabe dentro do Japão. Mas eu admiro o inhô pela honestidade, nunca roubou nada que é nosso.

- Fiim, quando papi estiver fazendo propaganda e publicidade, fique calado. Vote num homem ficha limpa. Que...

- Pare papi... seu nariz não ficará maior, do que está.

"Tem filho que não nasceu para a coisa. Se depender dessas misérias, morrem de fome. Ainda bem que a sobrevivência até a sexta geração está garantida." Descendo do palco, latiu nervoso para os seus botões; e foi para os braços da galera: "O Raul Seixas era a mosca na sopa, pois eu sou a alma mais honesta do Brasil".

Infelizmente, a política adotada no país está mexendo com os nervos dos brasileiros. Parece que estamos ficando loucos. E a cada segundo as coisas tendem a piorar. A empresa em que trabalho e não é de hoje, faz mais de 25 anos que é o meu único registro, está com a língua de fora para manter os compromissos.

Sem meios financeiros para demitir o pessoal e pagar os direitos trabalhistas de cada um, tomou a decisão de cortar um dia da semana. Isso mesmo, agora não teremos mais cesta. No calendário da empresa, de quinta, pula para sábado. Pense bem Recantista: economizar até nos dias da semana.

Quando forneciam, na sexta tínhamos arroz quebradinho de terceira; duas latas de sardinhas portuguesa envasadas no Rio Pinheiros, em São Paulo; um quilo de fubá; um quilo de feijão carioquinha do Rio Pequeno; um pacote de bombril desfiado; duas barras de sabão Rio; cinco quilos de ração de salmão para os cães; duas latas de óleo pelas metades; um pacote de gelatina de tutano de boi; um pacote de bolacha de Maizena; dez pacotes de sal grosso; dois quilos de açúcar; um formigueiro da marca lava-pés; um pacote de absorvente modess; uma escova de dente meia vida; duas pastas de dente. Só; agora nada, cortaram a sesta dada na sexta.

Não sei o que faço, porque vinha uma ninharia de coisas, agora não terei mais nada na sexta, deixando-me sem saber o que dar para minha família comer. O Recantista tem alguma coisa sobrando para me enviar... meus 15 filhos estão com a língua de fora e a barriga nas costas. Dicró, por exemplo, é um esqueleto em forma de tábua talhada...

Ah, como contenção de gastos, desde que cortaram a sexta, junto com a sesta, faz mais de quinze anos que não faço sexo com minha mulher. Além de operar o Chico Bento, aposentei no INSSexo; mas o recebimento do benefício, até ontem. Também, levando essa vidinha excomungada...; quem sabe hoje ouço uma palavra de consolo, ponho algumas coisas nas latas e encontro um pouco de tesão para amar minha coisinha adorada! Já fui bom naquilo...; coitada, tá que não se aguenta, matando um leão, sei que é fome; no entanto, estou sem saber de quê...; triste demais para um leão brasileiro trabalhador, brigador, viril, incansável, macho de luta, morrer numa impotência dessas! Iguais a mim e nas mesmas condições que eu, essa política está matando muita gente.

Muito bom dia e agradeço imensamente:

Mutagambi

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 17/11/2017
Reeditado em 20/11/2017
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