Divina Comédia de Rui Barbosa

A sessão do Senado Federal de 14 de dezembro de 1914 tratou da solicitação à Marinha Brasileira de documentos que eram necessários para esclarecimento de despesas efetuadas por aquele órgão.

Diante da “demora” no fornecimento dos referidos documentos, Rui Barbosa expressou com veemência sua indignação, conforme se segue:

“Não havia nada, que explicasse tão larga tardança. Tudo o que o meu requerimento exigia e aquela administração nos mandou, se reduz a 68 páginas de cópias datilografadas, em que os amanuenses desse ministério não tiveram senão o trabalho de transcrever, a máquina, dos originais para o translado, os autos dos dois inquéritos, cujo conhecimento aqui se desejava. Era, pois, tarefa, que, a quatro páginas por hora, representava apenas 17 horas de ocupação folgada, e, com dois datilógrafos, constituíria, quando muito, o serviço de um dia. Em vez de um, houve mister quinze o Ministro da Marinha para dar conta do recado.

É o passo do unau, das nossas preguiças, do emblemático bradypus, o disforme tardígrado, privilegiado nas unhas e na calaçaria, que, seguro pelas garras, dorme tempos esquecidos parriba, dependurado ao galho da árvore onde trepou.”

Fonte - OBRAS COMPLETAS DE RUI BARBOSA VOL. XLI. 1914 TOMO III - pag. 04

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 20/06/2017
Reeditado em 20/06/2017
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