Pequena reflexão sobre a fila

A Fila

Fila = forma organizada de se colocar pessoas,umas atrás das outras, por diversos critérios (tamanho, idade, sexo), e para os mais diversos objetivos de atendimento. Isso nos dicionários e talvez em alguns países do primeiro mundo, ops, só conheço esse daqui e muito pouco. Alguém sabe me dizer qual o segundo, terceiro, quarto, etc.? Bem, aqui nesse nosso mundinho, fila pode ser tudo, menos organizada. Também não é um atrás do outro. Também não tem critérios, se tem, não são obedecidos e os objetivos são bastante difíceis de serem alcançados.

Senão vejamos: Temos fila pra tudo. Tem lugares que temos várias, por exemplo: comprar frios em supermercado. Fila para escolher o queijo, a mortadela, o presunto, etc. Fila para pagar. Fila para liberar o estacionamento e na saída fila no engarrafamento da cancela eletrônica. Muitas vezes ouve-se: “eu cheguei primeiro, esse não estava aí, paraquedista, etc. A despeito de todos esses problemas, tem gente que gosta. Conheço uma pessoa que não pode ver duas pessoas, uma atrás da outra, que já pergunta: você é a última? E já vai se posicionando.

Fila para compra de ingressos,(shows,cinema, teatro, etc.) - forma-se grupinhos. Um grupinho aqui, outro ali, mais um adiante. Você pensa que a fila tá pequena. Quando se posiciona um atrás do outro, você fica à um quilômetro do posto de compra. E ainda tem aqueles que diz fui “ali”.Aqueles que chegam e diz: eu estava aqui ou ele tava guardando meu lugar. O outro diz aquele ali, está aqui. Como? Se está ali, como está aqui? Contrariando a física um só corpo está ocupando dois lugares.

Fila também tem suas coisas boas. Criaram as filas preferenciais, para idosos,gestantes,deficientes físicos e pessoas com criança no colo. Tem gente ganhando dinheiro alugando crianças pequenas e tem filhos que só andam com a vó ou a mãe para usar essas filas. Ah! é o Brasil! Certa vez havia uma fila preferencial num banco e nela estava uma senhorita, bem afeiçoada e faceira. Não aparentava nenhum dos requisitos para estar ali. Um senhor idoso que ali se encontrava esperando atendimento começou a protestar soltando gracinha. A “moça” saiu do seu lugar e dirigindo-se a ele disse, em tom bastante tristonho: “o senhor não gostaria de passar pelo que eu passei”. O senhor já arrependido, amavelmente perguntou: “o que lhe ocorreu filha”? Ela levantou a cabeça, olhou o idoso da cabeça aos pés e disse: “estou grávida e inquiriu: queria passar pelo que passei”? colocando as mãos abertas uma paralela a outra como que demonstrando o tamanho do causador da referida gravidez. O senhor sorrindo disse “Deus me livre” e ela voltou para o seu lugar.

Quer ver uma fila interessante? Fila de consultório médico particular. Do SUS não. Todo mundo sentado, cafezinho, água gelada, televisão, WI-FI, ar condicionado. Uma beleza. Terapia de grupo, fofocas, assuntos variados. Uma vez num desses consultórios, sentei-me ao lado de uma gentil senhorinha. Ela começou o diálogo assim que sentei. Não deixou nem esquentar a cadeira. Perguntou-me: é a primeira vez? Respondi é. (Não estava para muito papo, era comecinho do dia, não tinha acordado direito ainda). Ela estava disposta e emendou logo: Ele é muito bom. Todo mundo que vem pra ele sai muito satisfeito e não deixa mais. Já achei que não era tão bom, pois se não deixa mais, é porque ele não sabe curar, só faz acompanhar a doença, até que um dia a pessoa morra. Atrapalhando meu raciocínio, perguntou o que o senhor sente? Falei que era um pigarro constante e tinha momentos que a voz falhava. Perguntou logo em seguida: o senhor toma água? Água um pouco. Cervejinha, whisky e vinho, bem mais. Ela não gostou da resposta. Aí me contou que um filho teve isso mesmo e nem precisou ir a médico. Fez gargarejo de romã, de bicarbonato, de vinagre com sal, do diabo, e ficou bom. Brincando eu disse, então vou embora já estou medicado. Ela não gostou e cessou o diálogo. Eu paciente, em todos os sentidos. Paciente do médico e paciente com aquela senhora tagarelando ao meu ouvido, fui tomar água e com a graça de Deus alguém chegou e sentou no meu lugar.

Outra vez no Hospital Getúlio Vargas tinha atendimento médico nas especialidades de Neurologia e Urologia. Um senhor vindo do interior postou-se na fila do Neurologista porque era a menor. Quando já estava próximo do atendimento, a atendente perguntou para qual médico ele iria e ele disse o nome do médico que era Urologista. A atendente tentou convencê-lo que a fila era a outra. Ele não aceitava, dizia que a fila era aquela. Ela já sem paciência, encontrou um argumento convincente. Disse para o senhor: ” Essa fila aqui é para a cabeça de cima, o seu caso é a cabeça de baixo que é aquela ali”. Ele entendeu e trocou de fila.

Agora imaginem uma fila pra morte.

Passa uma mocinha e o primeiro da fila já diz: mulheres têm preferência, sou cavalheiro, passe na minha frente. Um outro chega e pergunta: Você é o último? O outro responde de imediato: Não, não pode passar. Quando alguém chama: o próximo. O que está na vez diz logo: pode ir estou esperando um amigo. Ninguém reclama da demora, se está em pé, se tá calor, se não tem água. Se ocorrer de algum paraquedista querer furar a fila, fato raríssimo, os de trás logo dizem: Besteira, uma pessoa só, deixa ele ir, ele deve estar apressado.

Ops, chegou minha vez, depois continuo.

Ah, acabou as fichas, volto amanhã mais cedo,.Essa fila é do SUS.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 10/01/2017
Reeditado em 18/05/2017
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