ELA SE CHAMAVA JACY

Sim, Jacy era seu nome. Um dia, li uma lenda indígena, que falava de uma índia que virara lua, chamada Jacy. Encantei-me com tal fato. Mas Dona Jacy não tinha aparência de índia. Pele clara, cabelos castanhos. Mas tinha muito de lua: calma, límpida, brilhante, presente ainda que ausente; lua que foi nova, crescente, cheia, minguante e hoje brilha, certamente, em celestiais esferas, com seu olhar manso e doce.

De humilde origem, hábil costureira, produzia as roupas de sua prole e da vizinhança, fiel colaboradora de seu dedicado marido, com quem lutou dignamente pela criação dos cinco filhos. Com amor, passava importantes valores humanos e cristãos; suas reprimendas pautavam-se em firmes orientações para a vida. A família vivia de modo simples e extremamente feliz.

A pequena vila onde vivia, forçou a saída dos filhos em busca de estudo em cidades maiores. Todos bem sucedidos nas escolas, sentiu grande orgulho e satisfação, embora a saudade sufocasse.

Um acidente vascular roubou-lhe a voz nos últimos quatro anos de vida. Mas no rosto, a mudez tornara seus traços mais expressivos; o esforço para sobreviver deixara marcas, mas nunca tirou-lhe a alegria de ali estar conosco; jamais se entregou ao desânimo, sua fé e força não o permitiam. Na face, sempre um sorriso, de quem via mais, enxergando além e, assim, ativamente participando das atividades da casa. A limitação física parece que lhe redobrara o ânimo. Lutava, a cada momento, para não tornar-se uma sombra: ao contrário, ela era luz. Percebia-se, nos menores detalhes, suas preocupações de mãe-avó e da dona de casa, posto jamais abandonado.

Foi presente de Deus com ela ter convivido. Sua imagem, vívida dentro em mim, é a de uma ternura imensa, como se ainda fosse possível tocar seus cabelos de lua prateada.

Profunda tristeza foi sua partida. Preferiria estarmos todos juntos e lembrá-la simplesmente, como agora, agradecendo a Deus grandes lições de vida, força e amor, que através dela, Ele nos enviou.

Dona Jacy era minha mãe.

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Nota: Reedição, em homenagem à minha querida, inesquecível mãezinha.

Homenageio também todas as mães do Recanto Parabéns pelo árduo exercício desta divina missão.

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gajocosta
Enviado por gajocosta em 14/05/2017
Reeditado em 14/05/2017
Código do texto: T5998686
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