Espelho Negro

Olhos negros, espelhos negros

Olhos grandes como jabuticaba

Olhos que não choravam

Sequer vermelhidão de lacrimejo

Olhos negros e profundos que adoravam livros

Espelhos negros que se perdiam entre palavras

Viviam entre Clarices e Machados

Enchiam a alma com a angustia de Macabéa e o pecado de Bentinho

Eram tão cheios de esperanças o negro dos olhos

Como pérolas raras prendiam a qualquer um que os admiravam

A cada leitura terminada era tão solta a fala

Que com certeza quem a ouvia

Punha no rosto um sorriso de alegria

Com o mesmo sentimento que a enchia

Prazer que o espelho negro que refletia

Mas a vez que olhos negros choraram

Era dia de Reis pelo que contaram

Também pudera...

Que tamanho esse espelho negro achava que era a alma dela!

Enchendo-a de Jane Austen, Salinger e outras feras

O centeio cresce quando se semeia

E se a terra é boa

Germina até o que não espera

Um canteiro de tristeza num campo cheio de sonhos

Refletiam no espelho negro

Apanhe mais livros olhos negros

Jogue pra dentro dela

Renove o campo de centeio

Que um canteiro de tristeza não a fará donzela

Novos choros virão

Mas será a mesma alma sem fim a dela

Ley Gomes
Enviado por Ley Gomes em 01/04/2017
Reeditado em 02/04/2017
Código do texto: T5958776
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