A infância

Lembro-me com os olhos marejados de um episódio ocorrido na minha infância, tinha entre 7 e 8 anos…

Ela juntava latas de alumínio para comprar doces para eu e as demais crianças que ali moravam com ela, sacos e mais sacos, não entendiam os a necessidade dela juntar tantas latas, até que eu em uma tarde calorosa em meados de fevereiro, passei em frente a um galpão aonde haviam milhares de latas de alumínio, lembrando-me como ela sofria para juntar aquelas latas, resolvi assim, pegar as que eu conseguisse carregar e levar pra casa, uma tentativa inútil.

Estava lá, pegando algumas latas e colocando em um saco que havia encontrado jogado em um canto do galpão, quando surge um homem que ao me ver, solta um berro, nervoso, me perguntando o que diabos estava fazendo ali, expliquei a ele o porque estava ali, o que estava fazendo, então ele na mesma intensidade, fervoroso, me diz:

Isso não é teu, muitas pessoas as venderam pra mim, são minhas, se quiser que va catar na rua!

Calado, cabeça baixa, chorando, com medo, sai mais do que depressa dali.

Então entendi que aa latas que ela juntava ela vendia..

No outro dia, recolhi todas as latas e voltei a aquele galpão, vendi as latas, com o dinheiro que havia dado pela venda, passei em um supermercado, que tinha uma franquia do MC Donald’s, comprei o maior lanche que encontrei, levei pra casa, minha intenção era dar pra ela em agradecimento por todo esforço que tinha pra juntar todas aquelas latas, por nos cuidar, nos amar.

Cheguei em casa com o lanche, ela já estava a minha espera nervosa, com a cinta na mão..

Entreguei o lanche a ela, agradecendo tudo que fazia por nós, nesse momento, por um instante aquela cara nervosa se desfez, vi um pequeno sorriso, não durou muito, logo após ela brigou comigo por ter pego a bicicleta escondido, pego as latas e ter ido sozinho ao supermercado pra comprar um lanche pra ela. Daquela noite em diante, comecei a prestar mais atenção em seus atos, cada vez mais, me sentia orgulhoso de pertencer a aquela casa, aquela família, que apesar de todos os problemas, tinham me trazido ela de presente.

Todos os anos, no meu aniversário, íamos ao MC Donald's, após sua morte, continuo indo, uma vez ao ano, é como se fosse nosso ritual, nosso momento, fazem 5 anos, mas nunca esqueci o quanto carinhosa era comigo, não houve se quer uma vez, que ela esqueceu, deixou de me levar..

Talvez por coisas tão bobas, tantos detalhes, fiz dela meu espelho, decidi cuidar dos outros, como não pude fazer por ela, farei por outras pessoas.

Hoje, com 22 anos, ainda choro noites a fio, com saudades, sangrando por dentro, sua ausência no meu dia é insuportável, nada neste mundo será capaz de te substituir.

E pra todos aqueles que perderam quem mais amava, tenho algo a dizer.

As estrelas nas noites claras, podem nos deixar mais calmos, a lua nos serve de espelho, olhem o céu, deixem as lágrimas caírem, não tenham medo. Amar é a melhor coisa do mundo.

Eu tenho minha estrela, ela brilha, linda, como sempre foi. Ela se foi e a saudade ficou, nunca mais voltei a nossa casa, por não querer sofrer novamente com a sua partida.

Meu anjo, meu amor, amo você, ontem, hoje e sempre!

Charlie Gabriel Jaracevskis
Enviado por Charlie Gabriel Jaracevskis em 15/02/2017
Código do texto: T5913745
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