Se eu fosse um herói - Uma Homenagem Blasfermada

Se por um dia Deus me desse o poder de escolher entre ser ou realizar qualquer coisa, eu escolheria ser o Barry Allen (The Flash).

Ah como eu o invejo. A habilidade de poder voltar no tempo me seduz, eu pagaria qualquer preço e assumiria qualquer consequência para tê-la.

Deus perdoe as minhas blasfêmias por favor ...

Com o meu "direito adquirido", eu voltaria no tempo, mais especificamente para o dia que meus pais se conheceram, tomando as medidas cabíveis para cancelar o evento.

Duas das três pessoas mais preciosas que eu conheci, meu pai e avô, Clóvis e Cláudio, eu não mais os conheceria.

Desculpem pela pobreza das minhas palavras e também pelas redundâncias excessivas, mas é impossível explicar o inexplicável, ponderar o imponderável, ou ainda mensurar o que é imensurável. Quando você conhece pessoas com tamanha bondade, é impossível não recordá-las em todos os momentos, mas em eventos festivos, a situação fica insustentável.

Meu avô morreu quando eu tinha 10 anos e atualmente eu tenho 26, meu pai morreu o ano passado.

O tempo fez com que eu dominasse a arte de atuar, com especialidade em fornecer sorrisos dissimulados as pessoas, quando internamente, digamos por falta de adjetivos melhores que eu estava aos prantos.

"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente."

Acontece que tantos anos depois, eu já não tenho mais forças para reprimir esses sentimentos.

O mais recente falecimento, me aproximou da família do meu pai, algo que eu sempre evitei, pois todos ali, me fazem lembrar dos dois. O que cada dia mais, deixa minhas dores evidentes "meu corpo treme imaginando ter você aqui, meu coração tá disparado, não dá pra controlar, será que eu vou aguentar?"

Por conta da minha pouca idade diante da primeira perda, muitos fatos não me foram relatados, já com a minha idade mais avançada, as pessoas me relatam fatos sobre o meu avô, ajudando a deixar os sentimentos nostálgicos ainda mais fortes. Acabo descobrindo que eu não o conhecia, pois eu sempre acreditei cegamente que ele era muito bom, mas ele tem me provado ser ainda melhor.

Eu queria ser capaz de me fazer entender quanto aos meus sentimentos e enquanto eu me dispor a escrever sobre os mesmos, serei eternamente frustrado, pois as pessoas jamais os entenderão.

Como é possível uma pessoa que faleceu fazem quase 20 anos ter a capacidade de surpreender alguém, eu realmente não sei como ele faz isso e infelizmente o meu vocabulário é muito pobre para tentar me fazer entender.

Notar que algumas pessoas olham para mim e de certa forma enxergam o meu pai, tem redefinido as minhas convicções sobre sofrimento, mas também tem feito com que eu me surpreenda com a intensidade das minhas próprias forças, "me envolvo todo numa busca bem mais forte que eu, só pode ser amor de Deus....

Aí eu choro, choro de saudade ...

Eu to maluco pirado tentando te encontrar, só mais uma vez te amar."

Sentir que as pessoas me olham e suspeitam entender o que eu sinto, mas ainda assim, sensibilizam-se e compartilham da mesma dor, em contrapartida atenua as minhas dores, mas mesmo assim, as feridas permanecem incicatrizáveis. O lado bom é que eu me sinto acolhido e sei que não estou sozinho nessa intensa jornada.

Eu já passei por muitas fases, aprendi que tudo é passageiro.

A vida é um vem e vai, eternas só as saudades que eu sinto do meu pai.

"Alguns infinitos são maiores que outros."

"Não consigo olhar no fundo dos seus olhos

E enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar

As várias fases, estações que me levam com o vento

E o pensamento bem devagar

Outra vez, eu tive que fugir

Eu tive que correr, pra não me entregar

As loucuras que me levam até você

Me fazem esquecer que eu não posso chorar

Olhe bem no fundo dos meus olhos

E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar

O universo conspira a nosso favor

A consequência do destino é o amor

Pra sempre vou te amar

Mas talvez, você não entenda, essa coisa de fazer o mundo acreditar, que não será passageiro, te amarei de janeiro a janeiro, até depois que o mundo acabar."

Apesar de um texto controverso e repleto hipérboles difíceis de interpretar, se eu pudesse escolher não mais viver esse sofrimento, eu prontamente recusaria, pois cada olhar, cada beijo, cada abraço, cada sorriso, cada palavra de amor e carinho, cada forma de entoar a voz, fizeram eu me sentir a pessoa mais especial do universo inteiro e mais do que isso, fizeram tudo valer a pena.

"Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu."

Gui Machado, Nando Reis, John Green, Marcos e Belutti e Fernando Pessoa
Enviado por Gui Machado em 13/02/2017
Reeditado em 19/02/2017
Código do texto: T5911331
Classificação de conteúdo: seguro