Terezinha, de Jesus

A tarde é longa, e se estende ainda mais com esse horário de verão. Mas a prosa de Terezinha Lacerda vai bem além, além do gosto composto, de mana Bebel e meu, de sempre quero-mais.

Dona Terezinha Lacerda, nascida em 1929 e registrada como se fosse de 1928, por razões cujo entendimento só cabia aos antigos, foi professora de Bebel no curso primário, iniciado no Brumado em 1956 e concluído em Pitangui, em 1959.

Bem lúcida e inda mais iluminada, Terezinha nos repassa preciosas observações da vida de seu tempo de magistério, que informalmente, nunca a deixou. Conta de tomar a carona do caminhão da fábrica que, às 5:30 da matina levava os operários pitanguienses para o trabalho no Brumado, naquele trajeto de uma inteira légua sacolejado e de poeira empapado. Isso, se não chovesse, e aí então, só barro fosse amassado.

A galeria de ex-colegas de trabalho abnegadas que tomavam aquela mesma rota é alongada e por nós muito bem lembrada. Quem não reconheceria a doçura de Dona Iria, a severidade de Osvalda, a faceirice de Gilda...? Veza Dalba França é que fizera a opção mais acertada, desposando-se no Brumado e lá formando o seu lar abençoado.

O papo rola na profundidade e fluidez de Terezinha, confortavelmente instalada no casarão colonial da Praça do Jardim, onde aquele venerável piso de assoalho bicentenário passa-nos a impressão de que ali ganha mais sentido a expressão de se ter pés no chão...

A antiga sala de visitas do casarão, circunspecta, abriga agora mementos de uma vida devotada à família e à religião, onde o companheiro de longa jornada, Moacir, o Moa, e o estelar filho, Evaldo, cirurgião de extraordinária projeção, descansam junto dos santos.

A nossa instância, quando nos referimos à revistinha do Sesinho, que era o Pato Donald do operariado, Terezinha escava a memória e nos revela que Vovô Felício, Diretor e personagem emblemática da publicação, que se editava no Rio de Janeiro, já viera sim ao Brumado, justamente por sugestão sua ao então gerente da fábrica, José Lima Guimarães, o Juquita, que mui graciosamente convidara e abrigrara aquele irriquieto Vovô Felício,

de pia batizado Vicente Guimarães e, portanto, seu irmão.

E nem por tanto, Terezinha é de todo imaculada: para nós, sua mancha, nunca olvidada, é aquela pinta que traz atrás, no braco esquerdo, tão marcante e admirada que mais doce torna seu abraço tão camarada...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 09/01/2017
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