As Borboletas do meu Jardim




A Lenda das Minhas Borboletas ( é a minha glosa ao texto de Wenceslau de Moraes escrito em forma de Haikais)...

Eu te dou o meu coração,
Para que o possas amar,
Deves com ele ficar!
 
****
Eu vivo só,
Quando te dou o meu coração,
Vivamos os dois juntos então!
*****
Na leveza do amarelo,
Eu pouso as minhas cores,
Em tons de cinza!
 
****
O branco sedento de amor,
Espalha o vermelho...
Da borboleta em flor!
*****
 Era uma linda borboleta,
- ali nas rosas do meu Jardim.
Tinha a cor das asas preta!
****
A Borboleta!
 
...Encontrei uma linda borboleta,
- ali nas rosas do meu Jardim.
Tinha a cor das asas preta!

-  E uma faixa amarela de cetim!
Voava muito ao de leve,
(Mais depressa que o meu pensamento!)
- Tão suave como o cair da neve,
 
Em volta da verde planta,
Que a todas ela alimenta...
--- As Almas da Borboleta e a mim! 

(in:" POESIAS SOLTAS "  De: Silvino Potêncio )
 
Ultimamente e, de uns anos a esta parte, eu tenho por distração pessoal o cultivo de um pequeno jardim por debaixo da minha janela. A cada nova cor que surge de modo natural e totalmente expontânea, por certo haverá de lá aparecer uma borboleta.
Talvez por isso,... ou porque me dá prazer observar as cores da natureza (as cores vegetais e as cores orgânicas das mariposas) eu coleciono já centenas de fotos das quais eu uso a base para postar os meus “hai Kais”.
- Isto porque Hai Kai é a palavra correcta traduzida do original Japonês "Haiku", para o Português como sendo um estilo poético muito usado na literatura e na poesia Oriental.
Geralmente o Haikai ou "Haiku" se faz pela justaposição de duas imagens. - Nestes meus haicais eu coloco um verso meu na forma de "terceto" em cima de uma imagem da minha autoria, que lhe dá o mote da quebra típica do sentido directo do estilo Haiku original.
Inclusivé, eu mesmo já fiz uns filmes sobre este tema poético que a natureza me oferece, independentemente da minha vontade, e esta é mais uma razão para vos falar de “borboletas” através do Inenarrável Venceslau de Moraes – O Maior Escritor Português das coisas da China e do Japão aonde ele viveu e exerceu as Funções de Consul além do seu Posto como Militar Tenente Coronel/Capitão de Fragata da Marinha Portuguesa...
Apaixonado que ele foi pelas suas “musumés” (mulher em Japonês) deixou-nos várias obras da cultura oriental do seu tempo – final do Século XIX e princípios do Século XX.
Assim, me lembrei das leituras que dele eu fiz e vos trago aqui a  
A lenda das borboletas. (um conto de Wenceslau de Moraes)

São tão lindas, as borboletas! Quem as vê, que não lhes queira? ahi vagabundando pelo azul dos campos, razando as corollas frescas, amando-se, beijando-se, libertas da larva abjecta, como almas de amantes despidas da miseria terreal, a viajarem no infinito... São tão lindas, as borboletas!...
Mas na China são talvez mais lindas do que todas. É um deslumbramento surprehendel-as na quietação dos bosques, voejando aos pares, que se tocam, que se abraçam, e enfiando pelas sombras mysteriosas dos bambuaes, com as suas longas azas palpitantes, lancioladas, em matizes maravilhosos, de negros avelludados, de azues meigos, de amarellos quentes, como se as loucas vestissem cabaias de setim, de sedas de alto preço...

Choc-In-Toi, a deliciosa Choc-In-Toi, habitava, ha longos seculos, uma pacifica aldeia do Yang-tsze-kiang, não longe do logar que hoje se diz Shanghae.
Como fosse muito dada a estudos litterarios e as escolas do seu sexo não lhe satisfizessem a ambição, conseguiu que seus paes lhe permittissem o disfarçar-se em homem, e assim abalou, a ir frequentar a mais famosa universidade do imperio. Volveu ao lar apóz tres annos; volveu tão pura como fôra; da sua innocencia ha provas irrecusaveis. Para não divagar muito n'estas paginas, basta dizer a quem me queira ouvir, que um lenço de seda branca, que ella enterrara na lama em presença d'uma sua cunhada predisposta a vaticinar-lhe rudes lances, foi depois tirado sem uma só mancha e sem um só farpão, branco, puro, como a alma da donzella; e basta saber que as flôres da sua preferencia, que ella deixára no jardim, rogando aos deus Choc-In-Toi, a deliciosa Choc-In-Toi, habitava, ha longos seculos, uma pacifica aldeia do Yang-tsze-kiang, não longe do logar que hoje se diz Shanghae. Como fosse muito dada a estudos litterarios e as escolas do seu sexo não lhe satisfizessem a ambição, conseguiu que seus paes lhe permittissem o disfarçar-se em homem, e assim abalou, a ir frequentar a mais famosa universidade do imperio.
Volveu ao lar apóz tres annos; volveu tão pura como fôra; da sua innocencia ha provas irrecusaveis. Para não divagar muito n'estas paginas, basta dizer a quem me queira ouvir, que um lenço de seda branca, que ella enterrara na lama em presença d'uma sua cunhada predisposta a vaticinar-lhe rudes lances, foi depois tirado sem uma só mancha e sem um só farpão, branco, puro, como a alma da donzella; e basta saber que as flôres da sua preferencia, que ella deixára no jardim, rogando aos deuses que as conservassem frescas como ella, assim se conservaram durante a longa ausencia, embora, como consta, a  cunhada as fosse regando com agua quente tirada da chaleira...

(*) texto parcialmente extraído do Livro “Paisagens da China e do Japão” De: Wenceslau de Moraes -  ( Nascido em Lisboa, 30 de Maio de 1854 - Falecido em Tokushima, 1 de Julho de 1929) foi um escritor e Militar da Marinha Portuguesa.

 



 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 27/06/2017
Reeditado em 13/04/2018
Código do texto: T6039290
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