Como é a vida de ator?

ENTREVISTA PARA DINA MARINA, DE GOIÂNIA.

ESTA EM CARTAZ COM ALGUMA PEÇA OU CINEMA? OU ALGUMA NOVELA?

Atualmente estou fazendo participações no show De Mala e Cuia, do Mineirinho de Maceió, em Ipanema. E em agosto começo a ensaiar uma peça bem legal com texto do americano Eric Bogosian.

COMO nasceu a vontade de seguir a carreira? Teve apoio da família

Quando eu era criança, o meu pai me levou para ver um ensaio de um espetáculo de dança, chamado Consumo-Ação, que tinha textos dele. Lembro que fiquei encantado com aquela magia, de ver os bailarinos/bailarinas lá com roupas de ensaio, fazendo a cena, repetindo, a diretora dizendo as marcas. Aquele clima realmente me encantou. E logo depois disso, aos 10 anos fiz uma peça no colégio que eu estudava chamada Saci Pererê. E eu fiz o Saci. Lembro que minha família inteira se mobilizou para fazer o meu figurino. Minha avó fez a carapuça vermelha e costurou uma calça preta - que minha mãe tinha usado no carnaval para desfilar como pirata - para eu usar, dando a ilusão de estar só com uma perna. Meu pai comprou o cachimbo. E quando aconteceu a peça e eu vi aquela plateia enorme na quadra do colégio se divertindo com o que estavam vendo, vi que aquilo era algo que eu gostaria de fazer por muito tempo. E estou nessa até hoje, com 41 anos. De uma certa forma, a família me apoiou dentro do possível, mas alertando sempre sobre a instabilidade da carreira (risos).

E o que mudou do tempo de antes da fama? Quais os projetos em andamento? um sonho?

Que fama? (risos) Digo que não sou um ator famoso e sim manjado. Muita gente olha pra mim e diz: "Eu conheço você de algum lugar!" E nunca lembram. Já me chamaram de André Gonçalves. Mas fico feliz de ver que para algumas pessoas o meu trabalho serve de referência, principalmente o humor físico que virou minha marca. Como já disse, vou começar a ensaiar uma peça em agosto. E duas peças escritas por mim estão em cartaz em Niterói: Crônicas do amor mal amado e Sexo grátis, amor a combinar. Terminei de fazer um musical infantil agora: Princesas no faz de conta. Onde eu fazia o Bruxo Malvino e eu me divertia muito. O meu sonho é continuar vivendo da profissão. E logo, logo, quero ver algum roteiro meu sendo rodado no cinema, um longa, já que escrevi um roteiro de um curta que, em breve, entrará em circuito, chamado Cama de Vidro.

Fale sobre essa peça nova e sua personagem. Como surgiu o convite?

Ainda estamos no começão. Fizemos apenas uma leitura com todo o elenco. Mas é um texto ótimo, chamado Talk Radio. E era algo que eu queria muito fazer. Eu vou fazer 7 personagens. Ainda nem estou tão familiarizado com todos. Mas tem um que é um homem, veterano de guerra, que está numa cadeira de rodas e vê a vida de modo bem positivo. O outro é um cara que estupra mulheres por compulsão e não consegue parar. Todos ligam para um programa de rádio famoso para desabafar. O texto já virou um filme que foi dirigido por Oliver Stone em 1988. A peça vai ser dirigida por Maria Maya, que é minha amiga desde os tempos da Uni-Rio, onde fizemos artes cênicas. E foi ela mesma que me fez o convite.

UMA FRASE

A comédia acaricia a alma com o riso. Minha por sinal.

Se não fosse ator, seria....? Por que?

Não consigo me ver sem fazer algo ligado a arte. Como faço muitas coisas: escrevo, dirijo, atuo, produzo, posso em um momento estar mais fazendo outra coisa do que atuando, mas sempre ligado a arte.

MANDA UM RECADO PARA SEUS FÃS

Continuem sendo meus fãs. (risos)

O que vc falaria para alguém que está iniciando a carreira?

Vou dizer uma coisa que amo que é da Fernanda Montenegro: "Desista". Todo mundo leva um susto quando vê a Fernandona dizer isso. Mas ela diz 2, 3 vezes. Porque a pessoa tem que sentir que é aquilo mesmo que ela quer. Se é uma necessidade da alma dela. E eu acredito nisso. A coisa tem que ser necessária. Você tem que fazer porque ama. Porque ser ator é um destino, sei lá. Um karma. E a pessoa tem que ter vocação. Senão vira um exibicionista, uma vedete em busca de confete. E a profissão não é isso. Pra mim é minha vida.

Qual filme preferido é uma dica de um livro?

Aí é uma pergunta bem difícil. Porque filmes e livros são minha compulsão. Tem dias que vejo 2 ou 3 filmes por dia. Mas vou dizer um que revi ontem e que é um dos meus filmes atuais prediletos: Ela, do Spike Jonze, com o brilhante Joaquin Phoenix. Um filme que mostra a questão do homem versus tecnologia, os novos tipos de interação com o qual estamos nos deparando. No filme ele se apaixona por um sistema operacional, ou seja, uma voz feminina que é uma espécie de inteligência artificial, programada para interagir com os humanos. Coisa de louco! E o livro também vou indicar um que li ontem, chamado Só por hoje e para sempre, do Renato Russo. Um livro que é baseado nas anotações dele num diário quando ele estava numa clínica para vencer a dependência química. Muito legal ver o lado humano de um mito.

Que ator vc mais gosta e pra você pra ser um ator perfeito precisa de que pra dar certo na carreira.

Sou fã de uma porção de atores. No Brasil, destaco Marco Nanini, que é um ator excepcional em qualquer papel. Basta pegar os tipos que ele fez no cinema. E o Lineu que ele fez na Grande Família é um trabalho lindo, com verdade. Dá gosto de ver uma atuação assim. Dos estrangeiros, fico com Kevin Spacey, que é altamente versátil e outro excepcional que é Leonardo Dicaprio. Fui rever Aprendiz de Sonhador onde ele faz um autista e é emocionante ver a atuação dele, novo ainda, arrebentando. Não sei se existe o ator perfeito. (risos) Mas gosto do ator que estuda muito. E tem que estudar e ler de tudo, fuçar tudo. Tem sempre que estar decorando algum texto, como exercício. Jamais tem que ficar em casa, esperando a grande chance. Porque quando pintar a grande chance, se você só ficou esperando, vai se ferrar na hora. É preciso estar se preparando sempre. No nosso caso, quanto mais experiência tivermos, mais poderemos emprestar coisas para a construção dos personagens. É isso: empenhar-se sempre, não ter preguiça e ralar muito, fazendo o que pintar pela frente e ir lapidando a sua arte.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 21/09/2017
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