ENTREVISTA CONCEDIDA AO JORNALISTA EVAN DO CARMO PARA O JORNAL CORREIO BRASÍLIA

Vamos explorar o pesquisador: Como você descreve a poesia? Ela está acima de todas as outras artes, ou é ela a única arte que se exprime de tantas outras formas?

L.C: Descrever o que seja poesia é tarefa das mais fáceis e ao mesmo tempo das mais difíceis. Isso porque comumente não se fazem uma separação entre poesia e poema. Nas universidades, sobretudo nos cursos de letras, isso já foi bastante discutido e tenho uma grande tendência em pensar na mesma perspectiva do teórico Octavio Paz. Para mim, poesia é um estado poético e poema é a materialização deste estado. Em outras palavras, poesia é a sensação de beleza, de nostalgia, de contemplação, etc. Enquanto que poema é o texto escrito tendo como ponto de partida diversos estímulos proporcionados por esse estado poético. Nesse sentido, a poesia pode estar presente na música, no romance, nos discursos e na natureza de uma forma geral porque ela é a mais intensa das manifestações de beleza estética. Como poesia não é uma arte, visto que ela seja antes um estado de contemplação estética e não uma manifestação artística, ela não pode estar acima de alguma arte específica. Eu diria que a poesia é o fim último de qualquer arte e nesse sentido ela é superior a todas elas.

É possível conciliar a criatividade poética, que tanto depende de silêncio com o teu ofício de professor?

L.C: Como dizia o grande Fernando Pessoa: "ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar só". Penso que toda criação literária precisa de silêncio. Ainda que saiamos pelas ruas, como Charles Baudelaire fazia, para buscarmos “inspiração” para a escrita precisaríamos ainda assim do recolhimento para a produção escrita. O ofício de professor é também algo que se dá entre o silêncio e o barulho (risos). Talvez minha criatividade poética seja proporcional ao nível de silêncio que preciso para a produção escrita, mas isso não é uma obrigatoriedade para esta produção.

 

Em tuas pesquisas, talvez tenhas base para indicar o que é boa literatura brasileira. Pode nos dizer se descobriu algum escritor contemporâneo com potencial de se tornar um grande clássico como Machado de Assis?

L.C: O limite entre boa e má literatura é muito tênue. Muitas vezes depende de como entendemos o que seja a literatura. Anteriormente eu havia me referido ao fato de que poesia seja um estado poético e poema seja a materialização desse estado. Isso não quer dizer, entretanto, que todo e qualquer poema seja repleto de beleza e de estímulos poéticos. Isso significa que pode haver um poema sem poesia. É a morte do poema. Um texto literário que não consiga transmitir certos estímulos de contemplação e satisfação poética, isto é, que não nos toque a sensibilidade a ponto de sentirmos sensações como as do belo e do sublime, esse texto poderá ser enquadrado como uma literatura inferior. Se analisarmos a literatura contemporânea veremos diversos textos que não conseguem alcançar seus objetivos e perdem-se na perspectiva do próprio ator. Até me atrevo a dizer que nunca se descobriram tantos escritores como em nossa atualidade. Isso porque a internet proporciona essa expansão e exposição de textos literários diversos e atuais. Acontece que divulgação não implica em qualidade estética. Por isso, não acredito que em nossa contemporaneidade exista algum escritor com potencial para se aproximar de Machado de Assis que foi o maior escritor da literatura brasileira.

Morando no nordeste brasileiro, lugar de dificuldades econômicas, como consegues divulgar e vender os teus livros?

L.C: Exatamente, o nordeste, sobretudo o sertão nordestino, apresenta sérias dificuldades econômicas. No meu caso, essa dificuldade se dissipa, em partes, porque a internet proporciona chegarmos longe, no que ser refere à divulgação literária. Além disso, há a possibilidade do autor mesmo vender seus livros nas ruas. Foi isso que fiz ao publicar meu primeiro livro, os quais vendi mais de 40 exemplares em uma única semana. É isso que nossos escritores cordelistas fazem.

Como professor, procuras influenciar os teus alunos a se tornarem poetas e escritores? Como fazes? E eles têm reagido?

L.C: Sempre procurei influenciar meus alunos não só a se interessarem pela literatura, mas também em produzirem seus próprios textos. Mas confesso que não é tarefa das mais fáceis (risos). Até estou escrevendo um livro sobre o fracasso do sistema educacional brasileiro onde faço uma reflexão sobre isso. Este sistema educacional está repleto de tradicionalismos que não estimula o aluno a pensar por si próprio, a querer interferir no mundo, a se desapegarem do fácil e do conveniente. A maior parte dos alunos está interessada apenas em adquirir notas para serem aprovados. Esta é a perspectiva que estão acostumados e que suas famílias, as que se interessam pelo desenvolvimento intelectual dos filhos, que é a menor parte, exigem. Mas estou remando contra a corrente e tenho tido alguns resultados satisfatórios. Nas minhas atividades procuro ser dinâmico e exploro os meios mais significativos para eles, como leitura de textos na internet e livros impressos, levo meus próprios livros e, com isso, eles percebem que também podem escrever.

Descreva para nossos leitores, com o teu olhar apurado de poeta, de águia social, qual é a real situação do Brasil político nesta região?

L.C: A região em que moro está localizada no oeste baiano, mais precisamente no interior da Bahia a cerca de 250 quilômetros de Salvador que é a capital desse estado. A situação política dessa região é marcada por polaridades regionais, mas a presença mais forte é do estado e do governo federal. As prefeituras não têm autonomias por que precisam dos aspectos fiscais e econômicos. Isso faz com que o cenário político se desenhe com a presença, sobretudo, dos deputados estaduais e federais. Quando a região elege, por exemplo, um deputado federal ou estadual do próprio lugar geralmente este consegue dar um destaque maior para a região, diferentemente dos que aparecem buscando apenas alianças políticas. Portanto, nessa região o estado e o governo federal só tornam-se presentes quando há a presença mais significativa dos deputados.

Qual deve ser o papel do intelectual brasileiro, no teu ponto de vista, sobre as questões políticas atuais?

L.C: O intelectual brasileiro tem a obrigação de interferir em qualquer questão política da atualidade. Isso porque o intelectual não pode estar alheio a realidade. Ele tem autonomia para pensar por si próprio, ao passo que a maior parte das pessoas comuns infelizmente não tem. Isso faz da intelectualidade um sacerdócio ou uma responsabilidade.

Indique para nós as tuas referências literárias.

L.C: Sempre li muito. Com os livros descobri que não preciso viver cinquenta anos para aprender determinadas coisas. O que muitos aprendem em uma vida, certamente outros aprendem apenas com a leitura de um bom livro. Portanto, a leitura foi uma das minhas mais importantes decisões. Por isso, leio sobre diversas áreas diferentes. Com relação à literatura minhas referências como escritores foram: Graciliano Ramos, Machado de Assis, Octávio Paz, Manuel Bandeira, Victor Hugo, Cruz e Sousa, Castro Alves, Rubem Fonseca, Mário Quintana, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, entre outros.

Indique também onde encontrar teus livros

L.C: Meus livros podem ser encontrados no Clube de Autores pelo site: www.clubedeautores.com.br ou através do link https://www.clubedeautores.com.br/authors/10208

E pelo blog: www.marbravio.blogspot.com

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 15/03/2016
Código do texto: T5574718
Classificação de conteúdo: seguro