UM EX-SOLDADO CONTA COMO FOI ESTAR NA PMERJ

Por motivos que assegurem a integridade física deste nobre guerreiro, não revelarei a identidade do mesmo, chamando-o, apenas de S. cuja abreviatura era o início do seu nome de guerra, usado anteriormente.

Início da entrevista, por volta de 13:25 de 28 de Agosto de 2015.

Cezar Neto

O que te levou a entrar pra PM?

S.

Fui formado Aspirante do EB (R2) e queria voltar a ser militar e dar a minha contribuição trabalhando corretamente. Mas acho que é isso, tinha o sonho de ser militar e fazer um trabalhar correto.

Cezar Neto

Em algum momento você ficou desapontado com alguma coisa na PM?

S.

Sim, inúmeras vezes.

Cezar Neto

Pode citar alguma?

S.

Por exemplo, baseamento em lugar nenhum, para possivelmente facilitar o tráfico. Patrulhar morro perigoso como a o da Coroa, sem fuzil e com apenas 20 munições de calibre .40. Além dos coletes coletivos que são fedorentos.

Cezar Neto

Considerando que a PM saiba dessas dificuldades enfrentadas pela tropa, por que não resolvem esses problemas administrativos e estratégicos?

S.

Em minha opinião, a resposta é a mesma hipocrisia de sempre: “ninguém te convidou para estar aqui e quando você veio já sabia como era, abana teu carvão”.

Cezar Neto

Você se arrepende de ter saído da PM?

S.

Só sinto saudade dos inúmeros amigos que fiz, agora, de resto não, pois a sociedade quer que a PM trabalhe de uma forma impossível e o poder dos Oficiais sobre a vida das praças é algo a ser revisto.

Cezar Neto

O que precisa ser revisto em relação a Oficial x Praça? Em sua opinião.

S.

É fato que alguém tem que gerir o sistema não apoio a anarquia, mas o controle sobre a escala, a prisão administrativa sem direito a defesa, por exemplo, são itens primários, defendo a unificação de escalas. E que o policial não seja mais usada como "moeda de troca".

Cezar Neto

Agora, você como cidadão, quem vale mais pra sociedade, o Oficial atrás da mesa, ou o praça na rua, combatendo e fazendo ocorrência?

S.

Acho que o oficial é imprescindível, para coordenar o policiamento, e o braço da polícia são as praças e são aqueles que recebem menos atenção desde a formação que é de apenas 6 (seis) meses. Mas pra mim, não há como definir quem é mais importante, um necessita do outro.

Cezar Neto

Existe vida após PM?

S.

Pra quem se planeja sim, aproveita o tempo ocioso dentro de VTR no baseamento e ao invés de ficar tricotando com o colega ou falando mal da escala, pensa em como abrir e gerir seu próprio negócio. Ou caso não tenha espírito empreendedor, estuda mais e faz outro concurso.

Cezar Neto

Qual o conselho você daria aos nobres colegas que pensam em pedir pra sair?

S.

O que mais me falaram quando comecei a cogitar a ideia de sair foi: Mas e a estabilidade? Eu respondo: que estabilidade é essa que te põe na rua primeiro depois você prova sua inocência?! Que estabilidade é essa que morre um colega toda hora? O próximo pode ser você.

O grande negócio é planejamento. E na vida nada é certo, eu arrisquei, mas cada um sabe onde seu calo aperta.

Cezar Neto

Existem muitos militares que pretendem sair, mas que tem medo pela falsa sensação de estabilidade. O que você diria a eles? Saia, não saia, planeje, faça concurso.... enfim...

S.

Então, isso não posso responder, pois cada um tem a sua própria realidade, mas se é a tua vontade, vai ficar infeliz reclamando da vida pra sempre? Trace suas metas e vá a luta.

Cezar Neto

Existe alguma coisa que você queira falar aos que lerão esta matéria?

S.

Sou um grande defensor da corporação, tenho enorme orgulho de ter servido com nobres guerreiros, mas pra mim chegou a hora de tentar vôos mais altos. E hoje tenho meu próprio negócio e não tenho que bater cabeça pra ninguém.

Entrevista feita por Cezar Neto, criador e colaborador do grupo Bizu na PMERJ no facebook e do extinto Blog Quem é sabe.