Por que Escreves?

Isso perguntaram a uma jovem e inexperiente escritora. Eis o que ela respondeu:

"Escrevo para refletir e assim poder me comunicar. Escrever desacelera o meu pensamento e me acalma. Também me permite explorar outros caminhos, diminui meu medo de agir com impulsividade. Escrevo por compulsão!

Num de meus piores pesadelos recorrentes, agonizo porque tento me expressar e não consigo, em nenhuma das línguas que conheço. Pareço falar uma língua que ninguém mais entende. É desesperador! Nesses pesadelos, tento deixar meu próprio corpo, num esforço sobre-humano, pois parece que morrerei caso não consiga libertar-me. E eu sempre acordo antes de conseguir...

Assim como Clara em A Casa dos Espíritos (Isabel Allende), um dos meus romances preferidos, vivi por longo tempo como se fosse muda, sem ter vontade nem necessidade de falar. Num belo dia me peguei escrevendo para me reencontrar, ouvir meu coração. Então minha voz voltou e os pesadelos diminuiram.

Escrevo também para satisfazer uma pessoa extremamente tagarela que vive dentro de mim. Incrível, ela fala o tempo todo! É pior do que a menina do leite. E fala tão depressa que, mesmo me concentrando, não consigo escrever tudo o que dita. Essa pessoa, que não tem sexo, nome, nem rosto, ora me assusta, ora me fascina... De qualquer modo, adoro ouví-la.

Escrevo também para ter intimidade comigo mesma. Os momentos em que escrevo são só meus. Quando estamos sós, somente eu, o papel em branco, e a caneta, não tenho medo de revelar meus pensamentos, por mais estranhos e excêntricos que possam parecer. Saber jogar com as palavras é uma arte fascinante, da qual eu não me considero mestre. Uma coisa para mim é certa: sem exercícios e sem disciplina dificilmente se consegue alcançar um objetivo, e escrever só se aprende escrevendo, não tem outro jeito."