Santo Agostinho

Releio as confissões de Santo Agostinho – quero ver de que maneira enxergarei o livro à luz das novas visões de mundo que passei a ter desde a primeira leitura, que muito apreciei. Algo que já me chamou a atenção é a sua incrível busca pela Verdade, essa que tem V maiúsculo mesmo. Podemos questionar se as conclusões a que chegou são realmente as corretas, mas não poderemos negar o seu empenho para se aproximar da Verdade.

Ele o faz de tal maneira que a impressão que fica é que todos nós deveríamos fazer exatamente o mesmo. De fato, se há um “propósito” por trás da nossa vida material, não se imagina que possa existir algo mais importante a fazer do que descobrir qual é ele. O mais comum, no entanto, é que raramente pensemos a respeito dessas coisas. Adotamos a religião que era dos nossos pais, ou nos convertermos posteriormente a alguma outra, mas, em ambos os casos, geralmente paramos de pensar por nós mesmos acerca dos mistérios da nossa existência.

Se tudo se resume, por exemplo, a aceitar ou não aceitar Jesus, então se pode dizer que há até razão em não querer fazer mergulhos profundos como os de Santo Agostinho. Para quê tudo isso, que só gera discussões inúteis, se meu destino no paraíso já está selado? Por outro lado, se a vida após a morte se assemelhar ao que os espíritas e outras tradições espiritualistas acreditam, quem não refletir nessas graves questões aqui terá, fatalmente, que o fazer no lado de lá – seria bom, então, que se começasse já por aqui.

É interessante que muitos dos pecados que Santo Agostinho atribui a si só foram identificados a partir da contínua reflexão a respeito de si mesmo e da natureza de Deus. Se não se dispusesse a pensar da maneira que fez, ele permaneceria sustentando as visões que, mais tarde, considerou equivocadas e ofensivas ao próprio Deus.

Ora, podemos imaginar que, igualmente nós, se não pararmos para refletir sobre as nossas vidas e de que maneira elas devem se relacionar com o restante do Cosmos, deixaremos passar muitos pecados, por ignorância. E Santo Agostinho faz parecer tão terríveis os pecados que cometia no tempo da sua ignorância, muitas vezes apenas visões teológicas, que é de se perguntar se os pecados que ignoramos, por não refletirmos, não serão capazes, até, de nos tirar a salvação que cremos a nós destinada.

O certo é que bem poucos têm a capacidade de raciocínio de Santo Agostinho, e poucos também gostam de refletir sobre a própria vida.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 16/10/2017
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