Nossas crianças
Entre os casais de hoje impera a afirmativa de que é difícil se criar filhos. Será que realmente isto foi mais fácil em outras épocas? Ora, observando bem, vemos que a criação em si não é muito diferente, enquanto que a vida cotidiana destes casais, esta sim, nos revela o porquê desta suposta dificuldade. Por isso, iniciemos nossas conjecturas com algumas perguntas sobre o tema e seus protagonistas: O que nossos filhos esperam de nós? O que estamos transmitindo a eles? Quanto e quando transmitimos?
Estudos revelaram, há muito, que a decisiva fase em que o ser humano deve ser preparado, para que se torne um adulto dentro dos padrões de civilidade, é do zero aos sete anos. Neste período uma criança aprende quase tudo na vida. E dentro deste aprendizado estará se formando o seu caráter. Sim, o caráter! Ele nada mais é do que um conjunto de hábitos, negativos ou positivos. E o hábito é um modo de pensar, sentir ou reagir que é aprendido pela repetição. Se não houver tempo para isso – e repetição requer tempo – como vai se criar o hábito? Diálogos polidos são sempre necessários, mas uma famosa frase atribuída ao filósofo chinês Kung-fu-tze, o Confúcio, exemplifica melhor e com maestria a arte de educar: “Uma imagem – leia-se exemplo, hábito – vale mais do que mil palavras”.
O que a gente percebe é que, por força de uma sociedade consumista que obriga pais e mães a atividades estressantes, profissionais ou não, o casal não tem tempo para praticar um mínimo de bons hábitos com seus filhos. Ou seja, não vai adiantar nada ensinar uma criança apenas nos finais de semana, por exemplo. Ambos estarão cansados. Não terão paciência para a "repetição”. Infelizmente, é bom alertar, esta é uma oportunidade única para que eles interfiram diretamente na formação do caráter de seus rebentos.
As manifestações de carinho mútuo no seio familiar – comportamento dos mais saudáveis – tendem a se replicar nas relações destas crianças e adolescentes com outros meios. Quando recebem o carinho dos pais, eles correspondem naturalmente. A partir de então, não se surpreenda se a professora da escola, um parente próximo ou mesmo um desconhecido disser que seu filho – ou sua filha – é muito educado e carinhoso. Será uma doce consequência do que ele vivencia.
Por outro lado, quando há ausência, frieza e indiferença, temos outra situação que pode ser observada na seguinte cena: numa festa de família surge uma conversa informal entre parentes. Alguém diz:
- Está vendo o Pedrinho? Ele é tímido, mas tão bem comportado! Não parece que se criou sozinho! A mãe e o pai trabalham o tempo todo, mas nem por isso ele deixou de ser a gracinha de adolescente que é!
São comentários gentis, porém, precoces e frágeis, pois é cedo para saber sobre qual adulto emergirá daquele adolescente. Perguntamos novamente: a participação dos pais na formação inicial do caráter é importante? Não. Ela é necessária e ponto final.
Na linguagem dos mineiros, “mineiro bom não perde o trem”, vale dizer que, se existe a fase criança para os pais atuarem nesta necessidade, ela tem que ser aproveitada. Não se pode perder “esse trem”. Num mundo repleto de valores equivocados, com uma mídia diariamente focada em desonestidade, vícios, violência, corrupção, terrorismo, conflitos entre nações, como agirá o futuro jovem, se não tiver uma referência? Novos estudos comprovam que eles pressentem e formam senso crítico das situações com mais facilidade do que se imagina. Seja numa roda de colegas de classe ou, principalmente, no acesso às redes sociais, as informações chegam instantaneamente e em igual velocidade são processadas e sedimentadas. Na ausência de princípios básicos, eles darão a interpretação e o destino que bem entenderem para estas informações e descobertas.
Crianças precisam vivenciar em casa, antes de tudo, ações que promovam o carinho, o respeito e a solidariedade com o próximo. Se nesta empreitada os pais tiverem êxito, estas serão algumas das características presentes no caráter do filho por toda a sua vida.
Por isso, acreditemos, arranjemos um jeito e invistamos em nossas crianças. Elas são lindas, são promissoras e serão os maravilhosos cidadãos de amanhã. Tudo por conta do que fizermos por elas hoje.
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 04/10/2017
Reeditado em 05/10/2017
Código do texto: T6132865
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