O universo e o realejo

Nos confins do tempo e do espaço.

No ponto onde tudo começou no universo, há um velho e seu realejo.

O velho de calva exposta, barbas brancas, longas....

Um olhar cansado e fixo no nada. As sobrancelhas se torcem e apertam como a suportar o peso do universo.

Suas mãos tremulas e fracas sempre tocaram o instrumento, que de tão surrado parece desmanchar e escorrer aos poucos pelos vãos do tempo!

Ondas sonoras antigas, emitidas com um manto de sufoco, se espalham pelo universo arquejante!

A máquina já não toca mais com perfeição!

O Velho do realejo clama por descanso.

Tudo vê!

Uma lágrima desliza sinuosamente pelo canto do olho trilhando a pele enrugada.

Um suspiro!

A última nota...

A mão no peito.

O silêncio!

A contração!

O ponto único, quente e infinito!

Uma nota nova!

Corpo e mãos jovens e vigorosas!

Uma música surge!

O universo se expande e vibra com a música do jovem tocador de realejo!

Tudo se renova.

Bailam os astros e as estrelas!

Rodopiam as galáxias!

E assim, o tempo passa...

Até o ponto em que surgirá novamente última, a nota do realejo.