Hoje estarás no Paraíso

Sempre quis saber de que maneira os adventistas e as testemunhas de Jeová interpretam o versículo em que Jesus, no momento da crucificação, promete ao bom ladrão estar com ele no paraíso “hoje”. Afinal, as duas crenças, e por certo também outras, não acreditam que há algum tipo de consciência logo após a morte. Os mortos estariam realmente mortos, sem qualquer tipo de atividade ou mesmo conhecimento do seu estado. E permaneceriam assim até a ressurreição promovida por Jesus nos fins dos tempos.

Ora, se é assim, o bom ladrão não poderia estar no paraíso no mesmo dia em que morreu. Ele permaneceria, até os dias de hoje, completamente inconsciente, e apenas a volta de Jesus o faria chegar até o paraíso. Por isso eu tinha curiosidade de saber como esse versículo é interpretado, e acho que descobri, por meio do libreto da Ellen G. White que me colocaram na caixa postal.

Para essas crenças, trata-se de um equívoco de tradução. Basta trocar uma vírgula de lugar e, instantaneamente, o bom ladrão fica inconsciente até os nossos dias. É assim que o versículo é lido: “Na verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso”. Ou seja, o “hoje” diria respeito ao momento da fala de Jesus, e não ao tempo em que estaria ao lado do ladrão no Paraíso.

Bem, eu nada entendo das antigas línguas nas quais se escreveu o Novo Testamento, de maneira que não posso dizer qual tradução é a mais acertada. No entanto, parece-me bem estranha a versão aceita por essas religiões.

Jesus estava sendo crucificado e morreria naquele mesmo dia. Ao lado dele, dois ladrões, um bom, outro ruim, que morreriam naquele mesmo dia. Então, ao ser interpelado por um deles, Jesus diz: “Vou te dizer uma coisa hoje”. Bolas, lógico que seria “hoje”. Quando pretendias dizer, Jesus? Amanhã? Na semana que vem?

Estavam todos para morrer em questão de horas, e então Jesus usava um preciosismo de linguagem, uma expressão que poderia até ser usada coloquialmente, no dia a dia, mas que não fazia o menor sentido naquele contexto, e pode-se até dizer que foi desperdício de palavra e de energia. Não admira que Lucas tenha se lembrado de registrar uma palavra tão inútil?

Pior, uma palavra que daria margem a muitas interpretações equivocadas, que afastaria a muitos da verdade e que, por que não dizer, seria até usada pelo diabo para fazer acreditar que a vida continua após a morte. Sendo divinamente inspirado, como é que o evangelista deixou passar essa? Isso o libreto já não diz.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 01/09/2017
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