Falar com mortos pelo rádio

Andei assistindo a alguns vídeos de transcomunicação, isto é, o uso da tecnologia, notadamente o rádio, para se comunicar com almas penadas. Essa possibilidade, que até pouco tempo me parecia totalmente absurda, tornou-se pelo menos um pouco mais admissível depois da minha leitura do padre Brune. Pode ser, pois, que seja realmente possível fazer isso. O que eu não sei é se vale a pena.

Não é toda vez que surge um Konstantin Raudive para passar mensagens esclarecedoras a respeito da vida no além. Ao que parece, boa parte dos resultados que se consegue são pálidas conversas em que não se descobre muito mais do que o possível nome do espírito desencarnado. No máximo, algumas poucas frases de sentido impreciso. E isso tudo sem poder garantir com segurança que aquilo que foi entendido tenha sido o que de fato foi dito.

Vamos admitir que os mortos que procuram passar uma comunicação para o mundo dos vivos o façam com um bom propósito. Qual seria ele? Talvez o de convencer as pessoas da continuidade da vida após a morte. Mas para isso bastaria uma única comunicação e, em verdade, aqueles que mais se dedicam à transcomunicação são pessoas que já estão há muito tempo convencidas de que existe um mundo espiritual.

Talvez, então, o propósito seja de ajudar as pessoas a evoluírem espiritualmente. Essa parece a razão mais aceitável, mas não estou certo de que quem procura esse tipo de comunicação, e até consegue resultados, seja de fato transformado positivamente por aquilo que ouve. A mim não parece que quem consegue se comunicar com os mortos via rádio tenha um efeito mais marcante do que, por exemplo, o provocado por uma EQM. Até porque, raramente se consegue uma frase inteira que possa ter algum sentido mais transcendental.

Outra possível razão para essa comunicação seria poder trazer consolo aos familiares no mundo dos vivos. Tenho visto, no entanto, casos em que as pessoas se tornam totalmente dependentes desses contatos com os seus falecidos, o que me parece muito mais um sinal de que elas estão tendo problemas para lidar com o luto do que a evidência de uma comunicação do além-túmulo. E, claro, em casos como esse a comunicação não significaria evolução espiritual.

Esses são, no entanto, os bons propósitos que consigo pensar para um morto querer se comunicar dessa maneira. Já em relação às pessoas, isto é, aos vivos que buscam o contato, destaca-se, sobretudo, a curiosidade e necessidade de um consolo ou comprovação vindo do mundo espiritual. Creio que raramente, se é que isso acontece, alguém buscará a transcomunicação como um canal para a sua própria transformação de vida. A julgar pelas frases escassas que se consegue, é até difícil admitir que isso ocorra com muita freqüência.

Como, além do mais, por vezes se capta o que não se espera, e se lida com muitas energias negativas durante o processo, será mesmo que deveríamos nos agarrar à transcomunicação como se dela dependesse a nossa felicidade neste mundo e no vindouro?

Talvez um dia as comunicações sejam mais inteligíveis, e deveremos isso aos insistentes auscultadores de nossos dias, mas ainda não me parece o tipo de coisa a contribuir decisivamente para a vida de alguém. Mais vale não acreditar em nada e praticar a caridade.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 13/08/2017
Reeditado em 13/08/2017
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