Por que Deus demorou?

Hoje já há várias religiões cristãs a admitir que o Universo é realmente tão velho quanto os cientistas dizem que ele é – quase 14 bilhões de anos. Para aceitar essa teoria, essas pessoas fazem uma leitura não literal do relato da criação no livro do Gênesis. Em relação à evolução do homem, há ainda bem mais pontos de atrito. Existem, no entanto, também os cristãos que não enxergam muito problema nas teorias de Darwin (os últimos papas se encaixam nesse grupo).

Mas, nesse caso, para os que já aceitam a teoria da evolução, seria interessante perguntar por que Deus demorou tanto tempo para se revelar ao homem. De certo ele não poderia fazer isso no momento imediato em que humanos e chimpanzés se dividiram em espécies distintas, mas é difícil não pensar que ele teve bastante tempo para isso.

Há cerca de 70 mil anos, um grupo específico de humanos, os sapiens, aprendeu novas formas de pensar e se comunicar – era o que alguns chamam de “revolução cognitiva”. Isso iria permitir que já naquela época, em que todo mundo era caçador-coletor, os seres humanos tivessem as mesmas capacidades físicas, emocionais e intelectuais que nós temos atualmente – não, eles realmente não eram burros.

Não seria possível que, assim que a revolução cognitiva estivesse bem assentada, Deus se manifestasse para a humanidade? O humano daquela época tinha lá seus anseios espirituais também, provavelmente tendendo ao animismo.

Ou, por algum motivo, Deus pretendia esperar até o surgimento dos primeiros assentamentos, o que só se daria cerca de 12 mil anos atrás, com a revolução agrícola? Bem, houve a revolução agrícola, plantas e animais foram domesticados, civilizações distintas se formaram pelo globo, mas Deus ainda não havia se manifestado. Isso só ele iria fazer, segundo se acredita nas tradições judaica e cristã, há cerca de 6 mil anos.

Ainda que desconsideremos a revolução cognitiva e nos atenhamos à revolução agrícola, foram 6 mil anos (de 12 a 6 mil anos atrás) em que pessoas tão inteligentes como nós nasceram, cresceram, se reproduziram e morreram sem fazer ideia de que havia um Deus único e verdadeiro que desejava ter com elas um relacionamento pessoal.

Nesse tempo, como eles continuavam tendo necessidades espirituais e o Deus da Bíblia ainda não havia se manifestado, eles trataram de criar para si os seus próprios deuses – e não deixa de ser curioso que depois esses mesmos deuses, criados em um tempo de “vacância”, serão duramente combatidos, assim como seus adoradores.

Mas esse problema não poderia ter sido resolvido ou pelo menos amenizado se Deus houvesse se manifestado antes? As outras civilizações tiveram muito tempo para estabilizar a sua cultura e para passar adiante as suas tradições e sua religião. E, de repente, surge o Deus da Bíblia mostrando que estiveram em pecado durante todos aqueles milênios.

Pode-se até dizer que aqueles que adoraram outros deuses em período de “ignorância” não cometeram efetivamente pecado e, portanto, também não estão condenados, mas será que se pode condenar alguém que, tendo ouvido falar no Deus hebreu, preferiu ficar com aqueles que o seu povo, sua gente e sua família cultuavam há tantas gerações?

São dúvidas que podem ocorrer ao cristão que não acredita em uma Terra de 6 mil anos.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 01/08/2017
Reeditado em 01/08/2017
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