Um Sonho do Passado Refletido no Futuro

Um sonho do passado refletido no futuro

Na aurora dos tempos passados; quando o homem ainda amanhecia; o medo e o temor dominavam por toda a natureza. E um dia; antes que o véu da noite cobrisse a Terra com seu manto de estrelas, e a prata lunar, de brilho recatado substituísse os abrasadores raios solar; chamas trepidantes dançavam sobre madeiras contidas em mágicos círculos de pedras. E; figuras humanas aconchegavam-se em torno dessas fogueiras para delas absorverem o calor e a segurança.

Lá ao longe; para além da fronteira do medo, lâminas afogueadas e brilhantes cortavam a cúpula dos céus, seguidas de estrondos ameaçadores que faziam tremer a terra e o coração da pequena comunidade de vidas em experiência. A cada estalar de descargas elétricas provocadas por partículas invisíveis, os céus se iluminavam, e os estrondos, resultantes dos choques dessas partículas, desdobravam-se, ecoando pelos vales e montanhas distantes.

Instintos maternos, de olhos arregalados, estreitavam entre seus braços alongados suas únicas esperanças de imortalidade. Suas crias eram a única fonte de existência futura, através da procriação, e do repasse hereditário de uma múltipla e variada genética. Pequenos lábios, ávidos de sustento e vida, sugavam através das glândulas mamárias de suas progenitoras a branca e líquida substância contendo todos os nutrientes necessários a aquelas pequeninas e frágeis existências.

Potentes músculos encobertos por peles queimadas pelo sol e ossos reforçados pelo esforço diário na luta pela vida, retesavam-se ao ribombar dos trovões ecoantes nas grutas habitadas por olhos sanguentos e presas e garras afiadas. Era como se a própria mãe natureza rugisse ameaçadora, mantendo os predadores longe de sua prole. E ao mesmo tempo, advertisse seus filhos contra os perigos da noite.

Mães menores protegiam e acalentavam seus filhotes com balançares de corpos e resmungos ininteligíveis cantarolados como em um místico mantra. Corpos no transe no cuidado da vida. Enquanto uma mãe maior usava o vento, que; deslocando-se entre vales e montanhas, balançava em acalento a copa das árvores, provocando um silvo sonoro como uma estranha, mas melodiosa cantiga de ninar. Carregada de bons presságios para uns, e de mal agouro para outros. Grave quando passava nas embocaduras das cavernas, e agudo quando passava por entre as frestas das pedras pontiagudas e dos galhos secos. A mãe natureza, de certa forma, parecia ensinar as mães humanas, de como acalentar seus filhos. Protegendo-os no aconchego dos braços, e cantando assustadoras canções de ninar.

Os tempos, e os ventos passaram. Os medos foram substituídos pela bravura e ousadia. E, ainda hoje; na calada das noites úmidas e frias. Quando dos interiores dos casebres situados à margem das grandes metrópoles; ou dos altos dos espelhados e reluzentes edifícios; fogueiras ao chão, lareiras ou aquecedores elétricos são acesos ou ligados. E seres humanos aconchegam-se em busca de companhia, conforto e segurança. A lição foi aprendida; e se aqui estamos; somos o resultado dos cuidados instintivos ou dirigidos conscientemente pelas mães dos mais antigos e remotos tempos. Somos o sonho de eternidade de todas as mães do passado, assim como somos também a esperança futura de nossa própria eternidade.

Dedico este ensaio a todas as mães que o lerem.

(Farias Israel – jun/2017 – SP)

Farias Israel
Enviado por Farias Israel em 15/06/2017
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