O MUNDO DO DINHEIRO

Francisco, em Evangelli Gaudium, condena o atual sistema político e econômico mundial. A fase atual do capitalismo, marcada pela ambição sem limites e pelo desejo egoísta que coloca o lucro acima da vida, degradando o meio ambiente e destruindo o ser humano. Não é preciso ser religioso para concordar com suas palavras. Basta ser ético. Ele fala em Deus, mas substitua a ideia de Deus por algo que considera sublime, como o bem público e comum, e verá que sua análise social permanece atacando o ponto em seu núcleo. A crise ambiental e social de nossos tempos será o tema de outro documento Papal, "Laudato Si, Sobre o Cuidado da casa comum". As duras palavras de Francisco em Evangelli Gaudium devem ser lidas:

"Não a um dinheiro que governa em vez de servir

Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa. Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética não ideologizada – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana. Neste sentido, animo os peritos financeiros e os governantes dos vários países a considerarem as palavras dum sábio da antiguidade: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos»*.

Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano".

Temos a tendência de não reconhecer a gravidade do presente. Muitas vezes na história, somente depois de anos ou décadas a humanidade narra os fatos como "grandes", para o bem ou para o mal. Francisco nos convida a acordar, hoje! Ainda há tempo, mas não muito.

* São João Crisóstomo, In Lazarum, II, 6: PG 48, 992D.