ALEGRIA E JÚBILO

"Envolvido pela aura de Deus, sinto-me profundamente feliz. É como se eu estivesse, me divertindo no campo, durante a primavera.”

(Mokiti Okada)

Em certas ocasiões somos tomados por uma sensação de grande alegria. Aparentemente sem motivo. Algumas vezes tal sensação se desdobra como experiência estética, outra como algo místico, religioso, e algumas vezes é somente um estar presente no presente, e fruir dele a simplicidade do momento.

Vejamos alguns relatos. São diferentes entre si, mas possuem em comum a alegria sentida a partir de uma experiência simples.

Primeiro, Walter Benjamin:

“A rua era das mais animadas da cidade; por todo o dia estivera cheia de gente. Mas agora, ao anoitecer, a multidão crescia de um minuto para outro; e quando se acenderam os lampiões de gás, duas densas, compactas correntes de transeuntes cruzavam diante do café. Jamais me sentira num estado de ânimo como o daquela tarde; e saboreei a nova emoção que de mim se apossara ante o oceano daquelas cabeças em movimento. Pouco a pouco perdi de vista o que acontecia no ambiente em que me encontrava e abandonei-me completamente à contemplação da cena externa.”

(Walter Benjamin – Sobre alguns temas em Baudelaire)

Benjamin foi absorvido pela alegria transbordante da vida pulsante que se revelava naquele momento. Experiência semelhante a de Jack Kerouc, o grande escritor a dar vida a "vagabundos iluminados". Seus sábios "vagabundos' talvez só sejam menos deliciosos de se ler do que os de John Steinbeck em "A rua das ilusões perdidas" e "Boêmios Errantes". Mas voltemos ao relato (literário) de Kerouc:

"Entrei na água até os joelhos e me agachei um pouco e fiquei lá "olhando para o céu noturno esplendoroso, o universo de escuridão e de diamantes da Avalokitesvara com suas dez maravilhas. "Bom, Ray", digo, contente, "só faltam mais alguns quilômetros. Você conseguiu de novo." Feliz, só com meu calção de banho, descalço, com os cabelos desgrenhados, na escuridão avermelhada pelo fogo, cantando, bebendo vinho, cuspindo, correndo, pulando – isso sim é que é viver.''

Jack Kerouac, "Os Vagabundos Iluminados"

Lá estava ele, pulando, bebendo, cantando, e sendo tomado pela alegria simples de quem aproveita o momento. Emerson também nos conta uma passagem em que está caminhando, e de repente é elevado acima da banalidade das coisas:

“Caminhando por uma lareira, sobre poças de neve, ao crepúsculo, sob um céu nublado, sem ter em mente qualquer expectativa, sinto um júbilo perfeito. Fico feliz até às raias do temor. [...] Em pé sobre a terra nua – minha cabeça banhada pelo ar jubiloso e arrebatada ao espaço infinito – todo o egoísmo some. Torno-me um olho transparente; sou nada; vejo tudo; as correntes do Ser Universal circulam através de mim; sou parte integrante de Deus”.

Tal experiência de alegria e júbilo muitas vezes dura um momento, uma fração de segundos, ou um dia. O caminho é fazer de tal Presença uma Permanência.