OS MOMENTOS DE SOLIDÃO

Os momentos aprazíveis de solidão que passamos durante a vida, momentos esses que nos convida a um mergulho nos subterrâneos de nossos ser mais secreto, bem como nos abismos mais inóspitos da condição humana, são boas oportunidades para escutarmos, de forma perspicaz, os anseios mais vastos de nosso coração, mas também nos dá condições para elaborarmos - em horas silenciosas - as nossas reflexões mais inquietantes, ou se isso não bastar, ou seja, se não for suficiente, alçarmos sublimes voos com a chama acesa de nossas fantasias e devaneios.

É em certos instantes da vida, reservados para uma vida de ócio absoluto, que conseguimos dar contornos mais radiantes aos nossos pensamentos, até que possamos erigir castelos de idéias ao sabor da atmosfera em que estamos inseridos. Por outro viés, os devaneios duradouros dão maior vivacidade aos nossos projetos com aquelas fortificações e adornos que alimentam sua continuação futura.

A solidão nos ensina a experimentarmos os momentos mais doces e também, por outro lado, os momentos mais amargos e angustiantes de estarmos sós. Se por um lado não temos nenhum ser humano para darmos explicações de nossas atitudes mais insólitas e do que fazemos com nossas próprias vidas; olhando por uma outra perspectiva, vivenciamos uma sensação dolorosa de sermos sós no mundo; essa situação, é claro, nos provoca fortes angustias e uma sensação profunda de desamparo, ou então, uma sensação de abandono.

Embora saibamos que há um Deus maravilhoso que zela pela nossa existência, principalmente daqueles que são bons de coração (movidos pela sinceridade que dignifica o seu ser!), nem sempre uma vida de reclusão social, sem qualquer interação com outros seres humanos, é confortável e aprazível.A solidão de um deserto existencial muitas vezes pode nos enfraquecer de maneira inesperada.

Quanto mais sentimos que estamos sós no mundo, apesar de tantos seres humanos que passam desapercebidos à nossa volta, mais ficamos motivados a buscar um amparo nos caminhos resplandecentes da fé; por meio dela nos aproximamos de uma fonte maior que nos provém daquela paz que precisamos ter a fim de alicerçarmos nossas vidas. A solidão, sem dúvida, não é sempre e necessariamente um mal, pois é nessas condições que percebemos os contornos e os traços marcantes de nossa personalidade, as nossas limitações, os nossos potenciais e as riquezas que guardamos em nosso coração.

A solidão, sobretudo, é indispensável para uma meditação mais profunda acerca da quintessência da realidade e do ser dos entes, principalmente dos que estão mais próximos de nossas vidas. Viver, sem estar em algum momento da vida sozinho, pode ser prejudicial para nossa existência, principalmente se quisermos levar uma vida espiritual mais intensamente ativa, uma vida espiritual não desencarnada da realidade em que estamos imersos.

A solidão sempre propicia o despertar de uma espiritualidade profunda e rica; através de uma vida espiritual intensa, conseguimos ficar mais unificados, até porque conseguimos estabelecer um compromisso com DEUS e com tudo aquilo que for manifestação de seu ato criador. Nessa proximidade, percebemos o quanto é importante ficarmos a sós em alguns momentos da vida, ou seja, por um tempo na qual possamos nos manter longe de toda a alienação e da cotidianidade em que nos situamos e ficamos submersos.

Desde que buscamos nos elevar em profundidade espiritual através do amor e da misericórdia de Deus (o único que nos dá amparo em tempos de grande desamparo!), sempre viveremos fortalecidos pela luz da verdade que sobremaneira nos liberta e dignifica.

O risco que corremos por não conseguirmos reservar momentos de solidão, é sempre o de ficarmos enclausurados na alienação e na banalidade do dia a dia; de tal modo que corremos riscos enormes de ficarmos sufocados pelas exigências e sugestões de outrem ou, o que é pior, de uma massa amorfa e indiferente.

Fazermos o que os outros fazem sem sabermos o porquê de certas atitudes, nos deixa numa situação de fragilidade e vulnerabilidade. Entretanto todo aquele que reservou momentos de solidão e buscou, ele mesmo, um contato mais originário com Deus e consigo mesmo no silêncio de um dia abençoado, certamente alcançou um grau de alívio e libertação diante de tudo aquilo que possa o levar a ruína e a degradação de suas capacidades cognitivas e espirituais.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 16/05/2017
Reeditado em 16/05/2017
Código do texto: T6000553
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