QUANTUM 15 - Berçários do Universo

A GERATRIZ.

Outra Noite, sempre no mesmo ritual de chegada do trabalho, alguns momentos com minha esposa à mesa do jantar, um pouco de jornal, um pouco de TV, e logo nos achegamos para descanso do dia, nada de anormal.

Adormeci como sempre, rapidamente estava em sono profundo.

O Frei parecia pairar em frente a nossa varanda, não possuía sombra, mas iluminava o piso de cimento bruto. Sorriu e me fez um gesto simples de chamado. - Está pronto? Vamos, vem e verá.

A viajem é súbita, mal compreendi quanto tempo se passou ou como é que se deu o traslado, mas, lá estávamos mais uma vez.

Não conclua nada, disse o Frei, deixe apenas seu coração observar, eliminando as próprias memórias sentimentais do que você já viu.

Nossos sentimentos criam visões que perturbam a realidade, e se tornam vivas. Depois dificilmente conseguimos repaginar os estímulos. É preciso muito desprendimento.

Inicialmente, continuou com voz muito suave, vamos parar aqui, neste infinito e rogar a Deus sua benção para nossa caminhada, e para o bom retorno. E que nossa experiência nos traga enriquecimento moral e espiritual, mas, que possamos transmitir estes ensinamentos com amor e paciência. Iniciada uma oração em belíssima voz feminina, quase cantada de maneira lírica, notei que havia um grande grupo, centenas como eu, era uma aula espiritual, um encontro com nossos mestres para um objetivo maior.

Concluída a prece, ainda pensativo nas palavras diretas e carinhosas, cantadas docemente para nosso Criador, olhei para adiante, onde nada havia. Os colegas desapareceram assim como haviam surgido.

O ambiente daquele mesmo mundo se mostrou agora perfeito, harmônico e confortável como berço de uma adorável e puríssima criança, havia música e as cores vibravam com grande intensidade. O que antes era semelhante ao caos, tornou-se algo especialmente confortável e harmonioso. Todas as chamas e os ventos quentes e as fumaças e os vapores estavam a dançar e vibrar ao ritmo de uma música Elemental e única que agora eu claramente podia perceber.

Fagulhas infinitésimas de luz azul-rosada caiam e se unindo-se em pequeníssimas colônias, em locais de maior harmonia, estas luzinhas vibravam entre si quanto mais se aproximavam mais harmônica era a vibração. Pareciam estar em comunhão umas com as outras, isto me intuiu vida e comunhão entre elas.

Que maravilhosos e tão simples seres são estes? O que são?

O tempo revela, disse–me ainda sorridente o Frei, por vezes até nos parece que a eternidade é um breve instante e precisamos clamar para que o tempo se estenda.

Passei a imaginar o caminhar do tempo sobre aqueles milhares seres infinitamente simples e tão pequenos, habitando no limiar entre o bruto e o vivo, quantas alterações de mundo haveriam de perceber até que pudessem ter consciência de si, eram agora apenas fragmentos de vida, mas eram vivos e eu os amava intensamente, havia neles a vontade imutável de Deus.

Havia outros visitantes amorosos com olhares esperançosos emanando fluidos de intensa luz naquele posto para que tudo aquilo se tornasse perfeitíssimo.

Compreendi que aquilo era bom.

Aos poucos fui percebendo muitos visitantes observando e aprendendo sobre tudo aquilo, eram alunos como eu, trazidos pelos seus mentores para melhor compreenderem o pulsar da vida. Tantos que não pude contar. Como eu, foram se surpreendendo aos poucos com as presenças uns dos outros sob os olhares complacentes de seus mestres, entre eles o Frei, satisfeito pelo que via.

Aconteceu em certo momento a presença de uma mulher muito iluminada, irradiava extrema gama de luzes e seu semblante era terno. Olhou a cada um com profundo amor e me sorriu em espírito, já que não podia ver seu rosto de tanta luz que dela irradiava.

Apontou carinhosamente para aquelas pequenas centelhas, imersas em chamas intensas e me fez lembrar da primeira e equivocada visão daquele lugar, que me parecera bruto e inóspito.

Houve um silêncio, perecia que o universo calou para ouvi-la.

- Assim Jesus, o Cristo, Senhor e Guardador deste Universo se mostrou, disse ela em pensamento.

Ao nascer para este mundo físico, escolheu um local bruto e indesejado pelos homens, mas resplandeceu sua divindade sobre todos.

Pois da mesma maneira é a criação desde o sempre.

Todos passaram a ouvi-la com muita atenção. Suas palavras eram nítidas e absolutamente doces.

Lembremo-nos do livro santo onde está registrado que do caos se fez a luz.

Obsevemos que o caos é a mola disparadora do surgimento da luz e assim todas as realidades brutas e aparentemente caóticas são em verdade nascedouros do bem.

Rejeitar o caos ou temê-lo é torná-lo poderoso acima da luz.

Lamentar-se sobre a treva ou murmurar é mantê-la no estado de treva, impedindo que a luz venha se revelar e para evitar isto é necessário que se tenha absoluta fé.

Fé em uma verdade eterna de que a Luz sempre virá sobre o caos.

Quando fraca é a fé então a Luz tardará a chegar perdurando assim o caos e a treva.

Tanto treva quanto luz foram concebidos para o crescimento e para a frutificação, atribuímos à treva a maldade e à luz o bem, mas bem e mal não residem na treva ou na luz, sim na vibração de cada um que as percebe.

O bem e o mal está no indivíduo, posto que o número é o mesmo. O indivíduo elege tanto um quanto outro.

Quando da morte entre os homens em sofrimento humano de nosso Mestre e Guardador Maior, Jesus o Cristo, se fez treva no meio da luz, mas não que a treva seja a morte, mas ela despertou em cada um o seu próprio estado de vibração.

Àqueles com coração impuro e pesado, a treva se mostrou o Mal, porem aos de coração puro e sincero, a mesma treva serviu de anúncio para salvação e para a verdade.

Vejamos estas centelhas de vida ainda por se formar, ainda não foram influenciadas por nenhum tipo de conceito de bem ou de mal, apenas emanam a vida no seu mais singular formato.

Estarão por trilhar seus caminhos diferentemente, mas cada uma em especial poderá tomar suas decisões e se juntar às vibrações iguais, atraindo-se e repelindo-se conforme estas vibrações.

Serão muitas as experiências de cada centelha até se tornarem um indivíduo bruto.

Participarão isoladamente da vida em vários mundos, em vários tempos, mas sempre estarão unidas pela vibração que emitem e que recebem.

São espíritos ainda fragmentados, partes de um espírito individual e se comportam como um único porem fracionado em milhares de partículas independentes.

Os ventos universais gerados pelo Deus de todas as Coisas, o Grande e Onipotente Senhor da Criação as espalharão pelos mundos, mas isto trará a cada uma o primeiro sentido, o de atração e o de desejo de se unir aos seus iguais para se tornar um. Assim, poderão iniciar num processo infinito de aprendizado fracionado, desenvolvendo a vontade que será o estopim da decisão e do arbítrio.

“Um vapor, porém subia da terra e regava toda a face da terra. E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente” Gênesis 2 versos 6 e 7

Aquelas palavras eram carregadas de ensinamentos, intensas de amor pela vida que ali estava sendo concebida. Fomos paulatinamente sendo contagiados por amor àquelas pequenas frações de vida genuínas que estavam sendo geradas. À medida que nosso amor crescia elas se intensificavam e suas cores variavam, uma grande comunhão.

Uma imensurável sensação de alegria me invadiu, e percebi que a mesma sensação estava invadindo todos os alunos e ouvintes ali presentes.

Esta alegria contagiante tomou a todos e nossos corações começaram a vibrar em uma sinfonia indescritível, uma música angelical que jamais poderia reproduzir com nossos instrumentos na terra por mais maestros que os entoasse.

Não conseguia parar de entoar aquela música; Quanto mais a apreciava, mais intensa se tornava. Os louvores celestiais ecoavam pelo universo infinito, mas apenas para aquele que tivesse ouvidos para os ouvir, como serenamente o Frei me lembrou, já que acompanhava atentamente meu raciocínio.

Aquelas fagulhas, neste cântico colossal gerado pelo intenso amor emanado em todos começaram a se mover como ondas de um mar agitado e multicolorido. Foram se elevando e inundando todos os pontos e todos os lugares, foram expandindo como uma grande nuvem. Ganharam vida exuberante e pulsante.

Moveram-se as águas. A vida invadiu o firmamento entre os louvores.

Acordei.

Aquele dia estava por ser diferente de todos os outros que eu já tinha vivenciado.

Me levantei absolutamente recarregado, cheio de energia, eram cinco e quinze da manhã.

Após um prazeroso banho de dez minutos e uma boa xícara de café eu já estava preparado para me pôr a caminho do trabalho, deveria visitar algumas obras pela manhã e posteriormente teria algumas reuniões na sede da empresa para qual trabalhava.

A luz do dia ainda não havia invadido a mata tropical ao meu redor, sentia o ar friozinho da madrugada entrando em meus pulmões enquanto caminhava pela área externa de minha casa em direção ao meu automóvel.

O aroma da atmosfera nesta hora do dia é particularmente agradável e leve como que se todas as árvores juntas exalassem o mais puro oxigênio naquele momento.

Os meus cães sempre vinham correndo como que para se despedir e me desejar um bom dia. Todos com aquele sorriso de cão, pareciam saber para onde eu iria, e que o dia para eles seria exatamente igual, mas sempre esperando por uma guloseima para engolir.

Parti como em todos os dias, me encontrando com o sol já na autoestrada envolvendo-me com o dia-a-dia.

Giancarlo Morettoni
Enviado por Giancarlo Morettoni em 21/04/2017
Código do texto: T5977021
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