GERAÇÃO: O ANTES E O DEPOIS

A lágrima é o bálsamo para o coração tristonho, semente que nos dá também a dimensão da felicidade e a da finitude. Em ambas, nós, mortais em processo de preparação para o outro plano, saímos fortalecidos, redimensionados. A gente, em princípio, quando jovem, acha que a vida é eterna. Logo ali vemos que tudo é ilusório quanto à permanência, mas redescobrimos que a condição humana nos permite passar para a outra margem do Letes. Em verdade, o que vem depois é uma incógnita, uma eterna incógnita. Aquela que nos força a imaginar outro patamar de amadurecimento espiritual. Hosanas! Não há como tratar da lágrima somente correlacionada com a tristeza maior: o final de tudo neste plano. A lágrima é revitalização também, porque água nos olhos é fonte de clareza para o horizonte e a possiblidade de identificação da Infinitude: a outra margem. Eu creio. E se cremos, deveras recriamos. Mesmo que a matéria não mais seja a mesmo. Mas, enfim, não somos apenas matéria, formato corporal aparente. O estar-se vivo tem vários estágios. Feliz de quem acredita que é instrumento de redescoberta em cada estágio. Por isso consigo amar até aquilo que é disforme, ou o que ainda não tem formato definido, que nem sempre posso ver, somente antevejo ou prevejo como passível de ser veraz a farsa, o sonho e a fantasia. E, neste patamar, poderei – talvez – sentir o coração pleno de dengos e mitos. Eu ainda creio nas descobertas. Porque o humano ser é isto: o antes e o depois. É por e para a humanidade que nele se forjou – imanente – o conceito de espaço e tempo. É nos territórios do Mistério que vai sendo gerada a capacidade de criar e acreditar.

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2017.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5949314