CADÊ OS MESTRES?

O que o professor deve ler para dar suas aulas de sociologia na escola? Esse problema é relacionado - porém não congruente! - com o do material didático que deve ser destinado aos alunos. Que este último deve ser simples, evitar ser prolixo, primar por ser direto e, com o perdão da redundância, "didático", isto está fora de dúvida. Que deve ter sido feito por um especialista voltado tão-somente para os leigos, sem o ar empolado do cientista, isso acompanha a assertiva anterior. Porém, chegamos a um impasse: o professor não deveria partir do complexo para chegar a esse "simples" e mais acessível? Não vejo como um professor possa se basear em livros-texto para dar suas aulas de sociologia, por mais que elas tenham que ser dadas para pessoas que se baseiam nesses livros! Em outros termos, os professores-sociólogos têm de ler os clássicos/grandes/originais do campo da Sociologia, e depois, sim, pensar numa forma de transmissão que não agrida o cérebro do estudante. Ele não pode partir do "mais conveniente", precisa mesmo voltar à fonte (não poderia ter esse diploma sem ter lido o que leu durante 4 anos), reentrar em contato com as problematizações sociológicas sem a intermediação de comentadores/abreviadores de raciocínio. A questão, no meu entender, é muito mais grave do que parece quando comparada a disciplinas como a História e a Filosofia, posto que os livros-textos dessas disciplinas já têm um enfoque tradicional: aqueles que começam hoje na labuta diária da classe já possuem uma herança, um arcabouço no qual se basear. Na Sociologia, batem cabeça e não sabem do que tratar, ou falam o tempo todo de uma suposta "complexidade" da disciplina que se perdeu nos calabouços e porões onde os indivíduos guardam suas monografias e demais trabalhos acadêmicos, como se isso fosse conservar suas memórias intactas por tantos anos. Se há uma vantagem nesse cenário ainda precário, é que, nunca se tendo estabelecido a organização temática dos livros-textos em uníssono, temos ainda a liberdade de construir um programa do zero, mais flexível, que não precisa ser adotado sem adaptações em outras partes do Brasil, que oferece uma chance para nossa criatividade. Onde está esse tutorial mágico: "Leia 'x', 'y' e 'z' antes da aula sobre 'Relações Étnicas' ou 'Mais-valia', ou 'Minorias', ou 'Globalização'"? E há tempo para efetuar essas leituras? Enquanto se cultivar essa cultura de que 'professor bom é o que cuida de mais turmas' (afinal, boa remuneração é indício de capacitação), haverá sempre essa distorção, pois a tendência é que o profissional seja estrangulado pela falta de tempo e, conforme se torna mais requisitado e adentra a "dedicação exclusiva", perca os meios de enriquecer os próprios atributos!