A NÓDOA DA SERVIDÃO

Desde os primórdios da humanidade o homem cultiva no âmago de seu espírito o ímpeto de subjugar seu semelhante. Analisando a evolução social da raça humana registrada nos anais da história, nota-se a nódoa da servidão presente em todas as civilizações.

Nos séculos anteriores ao advento do Cristo os povos guerreavam pela expansão de seus territórios, dizimando reinados, saqueando seus tesouros e submetendo os prisioneiros capturados ao servilismo. Com a descoberta do Continente Americano, a ocupação e exploração do novo mundo transformou o tráfico de escravos numa atividade atraente e lucrativa para mercadores e exploradores, expandindo o comércio escravocrata do norte ao sul das Américas.

À medida que a sociedade evoluiu, o arcaico sistema de escravidão foi gradualmente substituído por outro mais brando, mais suave ou mais light.

O regime político que impera atualmente na maioria dos países é a democracia pautada no capitalismo, sistemas que delegam ao indivíduo relevante estado de liberdade, outorgando-lhe o direito de reger sua própria vida, não obstante tenha de submeter-se ao binômio capital-trabalho assalariado. Para manter e custear o Estado o trabalhador é ardilosamente envolvido num complexo labirinto de tributos compulsórios, vendo uma gorda parcela de sua renda ser confiscada pela autoridade fazendária sem poder esboçar nenhuma resistência. Há liberdade em ir e vir, escolher onde investir e o que comprar, entretanto enlaçado pela obrigação do trabalho, sacrifica sua vida numa incessante luta pela estabilidade financeira, status social ou a seguridade de sua aposentadoria, abdicando-se de curtir os anos dourados de sua existência.

As camadas que conquistaram autossuficiência, agregando bens materiais e propriedades suscetíveis de elevá-las a uma posição privilegiada, também são espoliadas pelas leis e regulamentos impostos pelo sistema tributário, tendo suas receitas e seu patrimônio amplamente taxado pelo fisco, enquanto a classe de baixo poder aquisitivo consegue suprir apenas as necessidades básicas, tornando-se reféns do mercado de trabalho e vivendo sob uma suposta ou ilusória liberdade.

Esse modelo de sistema substitui o indivíduo pelo coletivo, mecanizando o ser humano, transformando-o simultaneamente em máquina de produção e consumo, ditada por uma superestrutura imposta a todas as esferas da sociedade através da tecnologia industrial, esse poderoso instrumento gerador de produção e transformação de bens. A organização Estatal visa a manutenção dessa desigualdade social na intenção de disponibilizar ao mercado volumosa leva de trabalhadores assalariados que ao venderem a força de seu trabalho fomentam a rentabilidade nas empresas.

Houve uma evolução, não resta dúvida. A qualidade de vida hoje é muito melhor, porém a servidão permanece, mudando-se apenas os métodos de subjugação das pessoas, deixando de ser exclusivamente de uma raça para atingir a todos. Apenas a minoria que se encontra no ápice da pirâmide social não sofre essa opressão por deterem o poder e a posse do Capital.

Diferentes ferramentas de domínio e controle do cidadão foram surgindo e se reformulando com a finalidade de cercear a liberdade e regular a “massa” sem o uso da força física e sim no âmbito da subjetividade, implantando medidas coercitivas na mente das pessoas. O objetivo é controlar um número cada vez maior de indivíduos apenas com a força de uma ideia, sem a necessidade de cercas, muros ou exércitos. O surgimento desse paradigma, muito inteligente, cria elementos capazes de conter a população de forma simples e barata, disseminando um padrão moral de conduta que a padronize aos demais e refreando qualquer movimento de insurreição através da promulgação de leis e suas penalidades. A mídia com seu poder de formação de opinião utiliza-se estrategicamente desses meios para atrair a atenção das pessoas, condicionando-as a assistir programas destinados a ditar regras e comportamentos sociais, definindo, por exemplo, como se vestir, o que comer, onde morar, alimentando o desejo consumista de produtos supérfluos.

Vejo a sociedade caminhando para uma metamorfose comportamental robotizada. A tecnologia (ciência) eletrônica poderá no futuro rastrear o cidadão em tempo real, mobilizando-o tal peça de um jogo de tabuleiro, supervisionado por uma rede interligada de centrais computadorizadas. De forma inconsequente o indivíduo deixará de desfrutar de sua singularidade, permitindo a vigilância permanente em troca de algumas regalias associadas ao conforto, segurança e bem estar pessoal. Essa mudança não ocorrerá por decreto e sim pelo relaxamento ou acomodação natural aonde cada membro da sociedade progressivamente vai cedendo espaço e abrindo mão de sua liberdade até atingir o apogeu, quando se impossibilitará a reversão dessa conjuntura devido a oportunista ação de controle e monitoramento assumida pelo Estado, consumando-se “numa identidade social comum”, ou seja: um coletivismo disfarçado de comunismo.

Genézio de Abreu Martins
Enviado por Genézio de Abreu Martins em 07/03/2017
Código do texto: T5933007
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