Critica a esquerda: sobre a necessidade de autorreflexão e atualização á pós-modernidade.

Introdução

Recorre atualmente um constante enfraquecimento das ideias progressistas, no âmbito político-social, a crise de representatividade e discrepância da atual esquerda com seus valores característicos tem-na encolhido para a aceitação do rotulo pregado pelo senso-comum. Proponho-me, através deste texto, descobrir tais causas de tamanho enfraquecimento, mais especificamente em que a esquerda ou os grupos ditos revolucionários tem falhado, seja na teoria ou na práxis. Trazendo como cenário, o Brasil, e as suas ultimas efervescências da sociedade civil.

Causas

Podemos iniciar o nosso levantamento de causas, pelas mudanças históricas causadas pela globalização do neoliberalismo, que marca nossa atual pós-modernidade. As politicas adotadas por Ronald Reagan, nos EUA (atual potencia global) e Margareth Thatcher no Reino Unido (potencia global dos séculos anteriores), durante os anos 70, 80 e 90, se globalizaram. O livre-mercado e o trabalho-livre, foram propostos com o intuito de abrir economias fechadas para que o oportunista imperialismo das corporações as adentrassem, rompendo desde os regulamentos econômicos até as fronteiras estatais e estabelecendo então, uma universalidade voltada ao consumo.

Esta globalização, foi também marcada pela dita Terceira Revolução Industrial, com a era tecnológica, que revolucionou as relações sociais e as divisões do trabalho, modificou a vida e o tempo dos indivíduos, criou-se a "sociedade liquida", explicitada por Zygmunt Bauman, com a ideia de solidão em meio a multidão, chegou-se ao extremo do ego e do individualismo, fragmentando desta forma toda sociedade em um constante pluralismo de valores, ideologias, sentidos e particularidades.

Diante desta nova composição social, houve um rompimento com a concepção marxista ortodoxa, em relação as classes sociais, de modo que, não podemos ver neste cenário as velhas arregimentadas percepções de classes bem definidas e divididas unicamente em proletários e burgueses, pois tal concepção remonta a velha sociedade no inicio da Revolução Industrial, onde esta interpretação se fazia visível aos olhos. Assim mesmo como Marx nos alertava no Manifesto Comunista, pontuando que: " A moderna sociedade burguesa (...) não aboliu tais antagonismos de classe(...) fez apenas colocar novas classes...", a atual a pós-moderna sociedade não se limita em duas classes: burguesia e proletariado; pois tais classes encontram-se profundamente fragmentadas, de modo que, os detentores do meio de produção, que anteriormente caracterizava a burguesia, podem ser pobres autônomos nos dias de hoje e que intelectuais marxistas, que guiavam o antigo proletariado, podem fazer parte da elite social atualmente, ou seja, tanto os meios de produção quanto os valores foram individualizados e estes indivíduos estão aleatoriamente distribuídos em grupos que compõem tais classes. Como diz Guy Standing, (teórico das novas relações de classes), em O precariado e a luta de classes: " A estrutura de classes correspondente a tal sistema (industrial) era relativamente fácil de descrever, com uma burguesia – empregadores, gestores e quadros superiores assalariados – oposta ao proletariado", cujo, atualmente tornou-se: "a nível global, uma estrutura de classes profundamente diferente". O autor ainda, define as classes atuais, como fragmentadas em diversos grupos, dos quais neste presente texto não nos atentemos, pois foge do intuito atual.

Embora pareça óbvio o que até então aqui foi dito, esta obviedade ainda não atingiu as práxis da esquerda atual, deste modo, pontuo portanto o que deva ser a maior causa da disparidade da esquerda com seus valores marxistas, a falta da percepção da materialidade, ou seja, a falta de visualizar realidade. Já nos dizia Marx, na Ideologia alemã: "(a consciência) não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou se representam,(...) parte-se dos homens realmente ativos, e com base no seu processo real de vida(...)". Deste modo, a esquerda tem se idealizada em concepções que não definem literalmente a realidade vivente - não estamos aqui renunciando Marx e toda sua contribuição para as ideias progressistas em prol da libertação do homem, mas demonstrando a necessidade da esquerda de novas interpretações da teoria marxista com a realidade atual, de modo que os valores revolucionários sejam mantidos e a interpretação de classes atualizadas.

Outra causa do enfraquecimento da esquerda e de sua falta de práxis revolucionária, é o que o marxista Gramsci, tanto estudou, a hegemonia. A esquerda atualmente fragmentada difere dos sindicatos, que antigamente unia as massas trabalhadoras em prol de direitos trabalhistas, hoje fragmenta-se em diversos grupos de minorias – nos movimentos negros, feministas, secundaristas, LGBT's e tantos outros, que buscam, através de suas particularidades individuais, seus direitos; em sindicatos e partidos que fogem em suas politicas do valor marxista de revolução; em grupos de estudo que se individualizam entre Trotskistas, Leninistas e Maoístas; em colunistas e intelectuais, que rejeitam a -11ª tese sobre Feuerbach-, onde que: "(...) têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transforma-lo.".

A nível Brasil

Foi esta esquerda que vimos em 2013, sem rumo, sem a hegemonia de um grupo. Uma esquerda que se encontrou e não se reconheceu, a causa? A fragmentação! Estavam todos individualizados em seus interesses próprios, a cada um pensando a revolução a sua maneira, sem ao menos olhar para a realidade vivente. Eram diversos utópicos sem rumo e sem causa definida e que hoje perfilam as redes sociais, cada qual com sua pagina e seu grupo de pensantes iguais (me identifico neste grupo).

Na efervescência de 2013, tivemos o mesmo percalço que Max Weber vivenciou na Alemanha do século XIX, o autor se questionava, o que hoje devemos questionar quanto a esquerda. Weber questionava que grupo social adotaria o rumo da sociedade alemã, gramscianamente falando, questionamos, do mesmo modo, que grupo assumirá a hegemonia da esquerda de modo que lhe dê um rumo?

A esquerda tem sido representada no senso-comum por partidos como o PT ou os sindicatos como a CUT, dos quais os rumos apenas tem guiado para deploração das ideias ditas progressistas, centralizando-se apenas na busca de poder politico para interesses próprios, estes não representam e, consequentemente, não devem ser a hegemonia da esquerda.

Conclusão

O que cabe a esquerda é uma sociologia weberiana, que busque identificar os sentidos comuns de cada grupo que a compõe e destinar a aquele que mais têm consciência deste sentido á sua hegemonia. Também cabe aos grupos fragmentados da esquerda, a percepção de unidade, a percepção que a causa de todos os problemas particulares é a ideologia dominante e que apenas com a união pode ser vencida.

Referências Bibliográficas

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã.1845-1846. Edição de 1984. São Paulo. Editora Moraes LTDA.1984. (p.22 e 111)

________________________. Manifesto do partido comunista.1848. Trad:.Sergio Tellaroli. 1ªedição. São Paulo. Editora Schwarcz. 2012. (p.44)

STANDING, Guy. O precariado e a luta de classes. Revista Crítica de Ciências Sociais, n° 103, maio2014: pp. 10 .