O TeMpLo do OLHAR no MORRO da CoNtEmPlAçÃo

No sopé de uma elevação rochosa surge um vilarejo com forte influência militar e eclesiástica. Rochas açoitadas pelas ondas do mar resistem ao longo do tempo e simplesmente batizam o pedaço de chão de Torres. Neste lugarejo brotam da terra as falésias que dão o colorido e a razão de existir de seu povo torrense. A torre localizada ao norte das demais é conhecida como o histórico morro do farol cuja primeira sinalização náutica foi instalada em 1912. No primeiro platô desse monumento geológico existe a edificação da Colônia de Férias e Grupo Escolar construído entre 1937 e 1938, um exuberante patrimônio da História da Educação no Rio Grande do Sul. Também houve no período setecentista a implantação do Forte São Diogo das Torres em 1777 sofrendo algumas alterações na aurora do século XIX foi constituído como Baluarte Ipiranga com atividades militares até aproximadamente 1840. Na base oeste, revela-se o núcleo histórico da cidade com um dos templos religiosos mais antigos do litoral norte, a Igreja São Domingos das Torres edificada entre 1820 e 1824. No período colonial, nesta área ainda funcionou um pedágio conhecido como a Guarda e Registro das Torres que fazia o controle do fluxo de mercadorias e pessoas que passavam pela região limítrofe entre as províncias de Santa Catarina e São Pedro do Rio Grande do Sul. No cume da torre norte existia até a década de 1960 um antigo cemitério que remonta aos primórdios do povoamento na região. O cemitério foi removido no processo de turistificação do território onde os locais tradicionais e áreas de trabalho foram re-significados para atender os anseios dos visitantes e turistas. Na encosta leste do morro do farol existe um oratório conhecido como a Santinha e uma fonte d’água natural demarcam um local sacralizado pelo sincretrismo religioso e pelas crenças populares. Há perigo de erosão de grandes blocos basálticos que ameaçam as residências que se fixaram a partir das décadas de 1970 e 1980 na borda interna com vista para a Serra Geral e a Lagoa do Violão. A torre norte é salpicada por diversas trilhas em meio as matas que o atravessam de um lado para o outro. Atualmente, percebe-se a prática do voo em paraglider, exposição de artesanato e um intenso movimento de turistas que circulam pelo morro do farol em busca de horizontes e panoramas que propiciam o giro de 360° graus, um verdadeiro templo do olhar entre o oceano, os contornos da cidade, o nascer e o pôr do sol, o admirar e o re-admirar entremeados nas belezas do Parque da Guarita e do Parque Estadual da Itapeva, o resplandecer do esbranquiçado mosaico do farol e a captura dos sentidos que conecta as pessoas à imensidão das paisagens. A Torre Norte, morro da escola, do cemitério ou do farol merece mais atenção do poder público e da comunidade em geral para sua efetiva valorização e reconhecimento das suas reais necessidades como o melhor aproveitamento da sua ampla área e pavimentação, revitalização de suas trilhas, a construção de banheiros fixos e com acessibilidade e a visitação a parte interna do farol de Torres. O mais importante é compreender e divulgar a história e cultura que habita os recônditos dessa torre singular. Certo dia, subi o morro e fiquei surpreso com a grande movimentação de pessoas, algumas caminhando, outras sentadas em família, os casais trocando carícias ou simplesmente solitários reflexivos. Minha curiosidade indagou o que a multidão estava fazendo naquela tarde ensolarada e parei para observar as pessoas. Descobri que as pessoas estavam contemplando a paisagem, simplesmente olhando para o vazio, saboreando e desfrutando a magia do “nada”, mergulhados na paisagem, respirando um ar fresco e puro e apreciando um momento excepcional. Estou convencido, a partir daquele momento, nasce o templo do olhar no morro da contemplação!

Publicado no Jornal A Folha/ Torres e Jornal Litoral Norte/RS.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 23/02/2017
Reeditado em 23/02/2017
Código do texto: T5921982
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