Reflexão de uma educação musical

Resolvi compartilhar um momento reflexivo de minha mente:

Hoje toquei algumas notas do tema do desenho “Masha and the Bear” e minha filha, que nem chegou aos dois anos, ela parou, prestou atenção, em sua fisionomia era perceptível que havia reconhecido.

Comecei a pensar, com apenas 4 notas já reconheceu um trecho da melodia de um desenho que ela assiste, considerando que estava em um lugar diferente, sendo executado por um outro meio que ela escuta, sem o auxílio visual.

Fico imaginando quantas sonoridades a mente dela capta e armazena em seu subconsciente, e até onde isso pode afetar em sua formação de caráter. Se prestar atenção em tudo o que passa na mídia, sinto que preciso desconectá-la desse mundo midiático.

Não é raro eu presenciar, seja ao vivo ou na TV, crianças dançando ao ritmo de músicas onde a letra degrada o ser humano, e a família assistindo com aplausos e risos. Certa vez perguntei para uma mãe se diria o trecho da música para a filha, em uma conversa, como um espanto disse “claro que não”.

Não acho certo e nem errado ter uma forma de criação de um filho, pois é impossível acertar tudo, mas sempre me questiono, até que ponto uma criança pode ser influenciada por músicas desse teor, pode ser que até no momento de sua vida nem entenda a malícia que a música trás. Mas com a família, de certa forma aceitando a música, será que a criança irá assimilar o teor que a letra da música trás? Colocando que isso é normal, mesmo que os pais não aceitem quando colocado de forma não.

Já escutei em várias conversas que não é pela letra, e sim pelo ritmo. Pessoas com opiniões já formadas podem ser mais difíceis de ser influenciadas. Já tive momentos em que me ausentei de confraternizações pelo ambiente sonoro, mas ultimamente mudei, pois esses momentos geralmente são festivos a pessoas de importância em nossa vida.

Mas como posso criar minha filha nesse meio, sem precisar se desligar?

Preciso ensinar a criticar, a pensar por si mesmo.

Vem em minha mente um assunto polêmico referente às drogas (em minha prosa mental refiro-me a palavra “droga” como tudo em que possa influenciar o ser humano: remédios, álcool, cigarro, ambientes,....). É de senso comum que as drogas são o mal da sociedade, que destrói famílias, acabam com o ser humano, não estou em desacordo. Mas também penso que as “drogas” sempre existiram, tanto as lícitas quanto ilícitas (onde essa classificação possui claramente um critério financeiro, cultural e político), em minha ignorância acho impossível acabar com as drogas ou se isolar delas. Seria como viver em uma bolha tentando se proteger. Penso que não para a minha proteção dos outros, mas em proteger-me de mim mesmo.

Quando penso que as drogas são o mal da sociedade também penso que a mente da sociedade é o seu próprio mal.

Aí reflito ainda mais, somos criado em uma cultura (a palavra “cultura” em minha viagem reflexiva mental refere-se às características de uma sociedade, com suas leis, tradições, não só geográfica, mas também social, incluindo culturas religiosas) onde é incutido em nossa mente concepções de felicidade, certo ou errado, feio ou lindo, normal ou anormal, melhor ou pior, etc.

Além de ser totalmente diferente uma cultura da outra e essas concepções mudarem completamente, e até dentro de uma própria cultura ela se altera com o tempo, o qual não precisa ser muito longo. O que era errado, por vários motivos que possam acontecer se tornam certos, ou vice-versa.

Daí a importância de ser uma pessoa crítica, formadora de opinião, com a mente aberta para entender e aceitar as diferenças das pessoas, culturas. Saber respeitar, e entender que jamais a minha cultura tem que ser imposta a outra.

Mas ao mesmo tempo preciso ser centrado, se não ficarei somente divagando, sem uma estrutura em minha vida. Tudo isso reflete em minha mente, em meu ser, se pensar que não sou responsável pelos meus atos, ou que não posso mudar o que está em minha volta, minha vida perde seu rumo.

(Depois dessa profunda reflexão volto em minha linha)

Vou esforçar em ensinar minha filha a pensar, criticar, respeitar, apreciar, curtir. O discernimento, a concepção de felicidade, será construído por ela mesma.

Em fim, isso passou em minha mente em uns 5 a 10 minutos. Às vezes quando fico em meu silêncio, geralmente estou em conversas comigo mesmo. Não sei se acontecem com outras pessoas, creio que sim. Sinto-me um pouco louco, mas como Assis deixou em sua ficção a história do Dr. Bacamarte, não posso categorizar se sou louco.

Começo a saber expressar meus sentimentos com base na filosofia budista e especificamente sobre a música no que estou aprendendo na Licenciatura em Música, é comum quando entramos em um mundo científico uma desconstrução de pensamentos para uma nova acepção de idéias, que no meu caso estou apenas encontrando teorias e palavras para expressar meus pensamentos, fico entusiasmado, pois pela primeira vez dos seis cursos superiores que comecei, passei de calouro para veterano. Já ouvi de muitos que sou indeciso, mas de poucos que tive coragem em minha busca até encontrar meu lado profissional.

Fica óbvio dizer que tudo que penso não surgiu de minha mente em sua autenticidade, e sim de textos, aulas e diálogos que tive em períodos, e que. nesses momentos reflexivos. faço um confronto de idéias em minha mente, para que de forma construtiva consiga chegar a uma opinião.

Mas não que seja uma opinião final, pois estou aberto a novas discussões e idéias. Principalmente em busca de novos conhecimentos em minha área de educação musical. Com certeza é um clichê, e pareço um velho (às vezes ranzinza) em falar, mas não terei uma opinião única sobre tudo e vivo, de certa forma, como uma metamorfose constante.

Não espero que muitos leiam, na verdade nem espero que leiam (pois seria hipocrisia, se nem eu leria pelo tamanho do texto). Estou escrevendo e publicando em uma mídia social como um experimento pessoal, às vezes expressar nossas idéias e escrevê-las pode colocar em ordem alguns pensamentos e abrir a novas discussões.

Finalizando fica minha sugestão dessa pequena e longa discussão: “ouça o que você escuta”. Quando ouvir uma música critique, aprecie, ouça atentamente, reflita em sua essência, viaje em seus pensamentos e deixe-a levar onde for, converse sobre ela, conheça sua história, o porque que foi escrita e composta, também o que teve de função na sociedade ou em sua vida no decorrer do tempo, dance, deixe seu corpo mexer de acordo com ela. Com certeza teremos novas sensações ao ouvir uma música. Vou buscar conhecer vários outros estilos para novas apreciações.

Fernando Conely
Enviado por Fernando Conely em 21/02/2017
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