Confissão

Enxergava-me ele como uma pétala amarelada da flor que um dia julgara imaculada. Aos seus olhos já não sou mais tão branca e perfumada.

Começa a perceber um ranço ainda discreto, misturado a um odor adocicado e enjoativo, como o cheiro das flores depositadas sobre um túmulo de alguém querido.

Para ele, estou morrendo. Desvanecendo diante dos seus olhos amendoados, que um dia foram arrebatados pela melancolia de uma flor anêmica, amolecida.

Mas o que esperava eu? A mesma salva de beijos enternecidos, querendo me acordar para o café da manhã?

Não sei dizer o que me dói com mais crueza, se a coroa de espinhos que a consciência de meus erros me força a usar, ou a indiferença que dele brota, e se assoma à minha volta.

Não queria ter lhe dito palavra, mas ao mesmo tempo não saberia como respirar se por mais um dia o mantivesse na ignorância de meus atos.

É na contradição que construo alicerces vacilantes, pois a coragem para forjar pilares inabaláveis não me foi dada.