O POETRIX EM DISCUSSÃO (*)

O grupo de discussão do poetrix definiu o terceto goulartiano como um poema titulado de uma única estrofe, com o máximo de 30 sílabas métricas. Tudo ocorrera em 2003, via internet, no espaço denominado de Críticapoetrix, após exaustivo processo de troca de opiniões entre significativa parcela dos poetrixtas ligados ao MIP – Movimento Internacional Poetrix. Para elucidação do ora exposto, este escritor expões uma breve amostra de 4 poetrix de sua singela lavra:

RATOS DO ALHEIO

Bichos traçam mentes,

Frentes fazem contra certos...

Jamais foram retos!

CONSANGUINIDADE

Haicai, dito pai,

Sai também usando título...

Poetrix-discípulo!

SERIEDADE

Todo embate sério

Mistério não pode ter...

Deve ético ser!

DISFARCE

Falsidade tem

Quem simula mansidão:

Falto coração.

Independentemente do pensamento acatado e oficializado pelo grupo de discussão do terceto, este poetrixta posiciona-se favorável à restrição limitadora do uso máximo de 14 sílabas métricas por verso no trístico goulartiano, numa preocupação própria, entretanto clara quanto à manutenção da unicidade do poetrix quer na forma escrita (com o uso de vocábulos) ou quando da declamação do trístico (recitado em saraus), assim escrevendo-se e assim declamando-se os mesmos versos, o mesmo poema: igual número de versos, igual número de sílabas métricas por verso, igual ritmo, igual cadência. Trata-se, portanto, de uma visão certa que diz respeito à capacidade respiratória dos pulmões sadios de um ser humano normal, em consonância à observação experimentada pela bioestatística. Tem-se, pois, que tal restrição constitui uma limitante barreira de cunho estritamente ontológico, não se podendo ignorá-la por vontade própria ou mesmo coletiva, esta última através da coleta de opiniões ou votos, simplesmente. Todavia, o grupo de discussão do poetrix não concorda com a dita restrição, pela maioria opinante sobre o tema, tudo em modo estritamente democrático. OFM, entanto, convicto do fato racional e científico antes exposto, continua a mantê-lo nos inúmeros poetrix-frutos de sua pena, não abrindo mão de seu pensamento próprio, mas certamente não original, posto ser compartilhado por outros poetrixtas. Em decorrência da dita posição assumida, OFM acredita ainda que o número máximo de quarenta e duas sílabas poéticas para o poetrix deveria ser o batente ontológico imposto ao poetrixta.

Outra discordância de OFM foca as formas múltiplas do terceto goulartiano: o duplix, o triplix e o multiplix. Aqui, não abre mão da individualidade ou da singularidade do terceto de Goulart, entendendo que a composição das formas duplix, triplix e multiplix necessite caminhar dentro das regras mínimas do poetrix, de modo que o poema-produto, nas formas citadas antes, guarde as mesmas definições e conseqüentes restrições do poetrix. Por conseguinte, a junção de dois poetrix na composição de novo terceto, trístico-filho, deve implicar no nascimento de um poetrix ou do contrário proceder-se-á a saída ou a fuga das fronteiras poetríxticas, essas que são individualizadoras da arte minimalista dos poetas afeitos ao já universalizado poetrix, gerando-se ou criando-se poesias que em nada se parecem com a novíssima arte ou simplesmente a descaracterizem. Pense-se como seria estranho e até comprometedor se um casal de seres humanos pudessem ter como filho um cachorro, concebido e parido nos moldes que todos nós bem sabemos!

Apesar de que a prática das formas múltiplas ser a responsável pela aproximação entre os poetrixtas nos quatro cantos do mundo, os frutos desse convívio – principalmente internáutico, denominados n-plix, ainda precisam ser poemas que caracterizem o legítimo poetrix, fortalecendo a novíssima linguagem poética, gerando semelhantes crias dentro do vasto e variado universo poetríxtico.

Nos criadores das formas múltiplas, Pedro Cardoso e Tê Soares, respeitados poetas e excelentes poetrixtas, repousa a possibilidade de mudar as definições das mesmas e, em especial, rever o fruto n-plix, puxando-o ou restringindo-o ao mundo do poetrix e, assim, exigindo que o novo produto seja, de fato, um legítimo poetrix e nunca o admitindo como um trístico qualquer, posto que para composição de outras formas de poemas o versejador já sabe tudo!... Para se ter um filhote de gato basta um casal de felinos reprodutores!

Um outro policiamento na composição poetríxtica, e talvez aí repouse simplesmente um melhoramento na forma ou na estética do título que está escrito acima dos três versos. Para tanto, um princípio norteia OFM: a arte em que o poetrix está contido é a minimalista, daí dever-se usar minimamente as palavras – até mesmo quando da confecção do título! Entretanto, sabe-se que escritor algum é perfeito e nem sempre a pressa ou a irrequietude do moderno vate, quase sempre multiagendado em várias atividades, com naturezas diferentes, sofre de falta de tempo para o rigor ora proposto e, por conseguinte, falhas haverão sempre de ser identificadas na composição em poetrix.

É mister frisar que o MIP vem empreendendo uma aprofundada discussão entre os sócios para melhor definir as fronteiras desta novíssima linguagem literária. Para tanto se embrenha num estudo de fundamentos do poetrix, de modo longo e difícil. Talvez, um dia – quem sabe? – os atuais poetrixtas reconheçam a necessidade de revisar os titulados tercetos já escritos e publicados, depois de concluídas as discussões no grupo de poetrixtas: Criticapoetrix... Sim, mas o porvir a Deus pertence!...

Salvador, 2 de fevereiro de 2004.

(*) Publicado Revista da Casa do Poeta Brasileiro (POEBRAS), n. 5, 2004.

Oswaldo Francisco Martins
Enviado por Oswaldo Francisco Martins em 04/02/2017
Reeditado em 04/02/2017
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