Fluir

“Não se pode entrar duas vezes num mesmo rio. Dispersa-se e reúne-se; avança e se retira. ” (Heráclito de Éfeso – Da Natureza – fragmento 91).

Tudo muda, e a única coisa que não muda é esta verdade de que tudo muda. Todas as dores e deleites passam. Há algo que fica? Quem é este ser que observa o fruir das coisas? Flui ele também sem perceber?

“O tempo é uma criança que brinca, movendo as pedras do jogo para lá e para cá; governo de criança. ” (Heráclito de Éfeso – Da Natureza – fragmento 52)

Muitos filósofos pensaram e levantaram questões acerca do tempo. Tempo também é questão de percepção. Nós, no senso comum, costumamos “sentir” o tempo de formas diversas em contextos diferentes. Quando estamos alegres e relaxados o tempo “corre” de maneira diferente de quando estamos ansiosos. Então será que poderíamos arriscar inferir que o tempo, e, não apenas a sua percepção, é também subjetivo?!? Sei que por vezes o ponteiro do relógio parece adquirir um ritmo anômalo. Ritmo e tempo se entrelaçam e cada ser e cada lugar tem o seu ritmo.

A velocidade do mundo virtual e sua manipulação estão nos deixando descompassados com a vida, onde as relações acontecem. Carentes de linguagens não verbais, cafuné e olhares demorados... do tempo natural de cada coisa. Acabamos por ficar ansiosos e sem paciência.

Nesse ínterim, incríveis mudanças estão acontecendo dentro e fora de nós, precisamos esvaziar a mente dos excessos, respirar e despertar para a vida. Mas o que é essencial na vida? Cada cabeça é um mundo!

Algumas pessoas passam a vida distraídas, não completamente, mas de um modo geral orbitam em torno de duas questões básicas: A busca de prazer e o esquecimento da dor. Se importam com outros temas, mas o motor de suas vidas é a fuga da realidade com seus desafios constantes de crescimento. A procura de um sempre novo paraíso artificial que as mantenha longe, bem longe de seus “buracos”.

Outras pessoas vão vivendo e aceitando tudo sem questionarem de onde vêm, para onde estão indo e quem são de verdade. Carregam grandes bagagens e, na maioria das vezes, ignoram seus conteúdos. Passam pela vida como camelos, muitas destas pessoas são valorosas, porém submissas, conformadas e ignorante de si mesmas.

Outros seres humanos vivem como sonhadores se lançando na aventura da existência. Caem, levantam e reinventam-se continuamente. Uns arriscam grandes alturas, outros são mais prudentes sem, no entanto, desistirem de seus projetos.

Outras pessoas existem e que de tão pouco que acreditam em si ou em sua importância viajam entre o nascimento e a morte mantendo o foco na vida alheia. Podem ser bem ou mal-intencionadas, mas o que existe por trás de suas intenções é uma finalidade desesperada de adiar o encontro consigo mesmas.

Guerreiros são de toda a espécie e todos somos um pouco bélicos, uns mais, outros menos. Alguns indivíduos passam por tão grandes tormentas, dificuldades e tragédias internas ou externas, que, acostumando-se ao sofrimento, acreditam não saber viver de outra forma.

Seja qual for o seu modo de ser, pois existem infinitos, nunca se feche para o novo. Somos seres em transformação constante, queiramos ou não e mesmo nos demorando em certos “sítios mentais” a mudança sempre vem, por vezes avassaladora aos desavisados.

Qual a marca que estamos deixando? Ouvi de uma amiga certa vez: “Vida importante é a vida que faz a diferença em outras vidas”. E ouso acrescentar: fazendo a diferença em nossa vida primeiro, e isto, só é possível através do conhecimento e cuidado de si.

Quanto de felicidade somos capazes de sentir, nos proporcionar e proporcionar aos outros nesse caminhar, fluir da vida? Quanto podemos ampliar nosso olhar a fim de contemplar o fluir da vida com toda a beleza, dor, prazer, contradições, amor, saber e sabores presentes nesse fluir?

Brindemos à vida!

Juanita Sacks
Enviado por Juanita Sacks em 03/02/2017
Código do texto: T5901935
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