SOU MANDACARU

“MANDACARU quando fulora na seca é o sinal que a chuva chega no sertão”...

Dizem que “... é melhor ver o copo meio cheio sempre do que o ver cheio e não dá valor.” Hoje, resolvi postar esta nota para as meninas e os meninos da Minha Região - Nordeste, do Meu Estado – Alagoas, e do chão, no qual plantei minha Minha Alma Imortal – o Interior de Alagoas.

Só uma pergunta: Você sabe o que é ser FELIZ?

Não sabe o que é ser feliz, quem nunca comeu o fruto do mandacaru, andou em carro de boi e nunca ouviu um aboio.

Você já comeu escargot?

A gente aqui, no nordeste, no Sertão de Alagoas, o nordestino dito “pé-de-serra”, come é aruá.

Você já andou de limusine em rodovias asfaltadas?

Nós, aqui no nordeste anda em carro de boi, em estrada de barro e toda esburacada.

No frio de New York, no Natal, você se embisaca todo com alpaca, arminho e veludo?

Aqui, aqui no interior do Nordeste do Brasil, no Natal, a gente usa (não é sigla, leia-se: veste) é vestido sem manga, tecido fino (opala ou chita) fica descalço ou de chinela de couro, a famosa lepe-lepe.

Enfeita, dentro da casa, com cortinas de renda, com bolas coloridas, feitas de tecido, costuradas à mão, ou coladas com goma de mandioca.

No terreiro, colocamos bandeiras, no lugar do “pisca-pisca”, no pé de caju, carregadinho de frutos.

No Natal, aqui no interior do Nordeste do Brasil, a gente mata porco, galinha, peru, carneiro, bode, rês... cevados o ano inteiro com batata, macaxeira, abobora e milho, tudo criado no cercado, pertinho da nossa casa.

Preparamos uma farofa de responsa, com a farinha d’água, fabricada no muque, no forno da nossa Casa de Farinha, recheada com toucinho (não comemos bacon), banana, cheiro verde (cebolinha e coentro), pimenta-dedo-de-moça, cominho moído, pimenta-do-reino, sal grosso e urucum (safrôa).

Preparamos tudo com capricho... e espalhamos nas travessas de argila, expostas sobre a mesa, previamente forrada com toalha colorida, jarro de porcelana antigo, vindo das nossas trisavós, cheinhos de bugaris, açucenas e bambus.

Espalhamos sob as arvores (mangueiras, cajueiros, umbuzeiros, juazeiros e etc…), mesas e cadeiras, bancos ou tronco de angico pros convidados sentarem, comerem e beberem a vontade, e os servimos, Felizes, a Alma pulsando forte, irradiando Alegria e Fraternidade por todos os poros, explodindo feito fogos de artifícios, na retina.

Aí, chega Nossa Banda de Música… você conhece? Não? Então, lhe apresento: Zezo na sanfona, Leone no pífano, Zefa na Zabumba, José nos pratos, Francisco no Triângulo, Tiliu no tarol, e todos cantando… começa o forró até raiar do dia.

Alguns dos nossos concidadãos (brasileiros de outras regiões) nos tratam por Cabeça Chata, Paraíba, Sub-raça, Analfabetos e outros adjetivos mais ultrajantes.

Expulsam-nos dos “seus Estados” de várias formas: bloqueando acesso a emprego digno, até de servente de pedreiro, doméstica, faxineira diarista, babá, etc., ou então criando uma horda de Skin Reds para nos matar a pauladas, queimados, a tiros, etc, como se fossemos monstros que não merecem viver.

Chegam a postar recados em sites, pedindo que nos exterminem, por que, segundo eles, é isso que merecemos.

Os poucos nordestinos que “conseguem subir na vida”, diante do Brasil inteiro, fora da sua Região de origem, são o quê? 0,0001% de nós.

Mas, aqui vai um recado para meus conterrâneos nordestinos: Nunca esqueçam que somos Raçudos, não sub-raça.

Aprendemos a “nadar” logo cedo, crianças ainda, nos açudes e na Vida!

Trabalhamos sol-a-sol, Felizes, cantando: “ôlê mulé rendêra, ôlê mulé rendá, tu m’ensina a fazê renda, qu’eu t’ensino a namorá”.

A Voz Limpa, e Alegre de Homens, Mulheres, Adultos, Jovens e Crianças, ecoando sobre os cercados, alcançando outros roçados, fazendo com que em instantes, as cercanias se unam numa orquestra onde até os animais tem seu papel.

Você conhece, de verdade, a Alma do meu Povo, Os Nordestinos do Brasil (que não se utiliza de Z), do interior de Alagoas?

Se fossemos uma sub-raça já teríamos sido extintos da face da Terra.

Somos resistentes feito Angico, Macambira, Agave, Rasga-beiço, Catingueira, Umbuzeiro, Juazeiro (a árvore), Unha-de-gato, Cipó-fogo, Barriguda, entre outros... e ele, o nosso Símbolo Natalino: O MANDACARU!

Pense nisso: Quando o Mandacaru começar a morrer, no sertão… feito as abelhas que estão sendo assassinadas... acabou-se o que era doce…

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 02/02/2017
Reeditado em 29/12/2019
Código do texto: T5900105
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