REFLEXOS

Contando...

NAWARÃ

Luna espalhava claridade pela sobre o Sagrado Ventre de Gaia, quando a suçuarana retorna do labor diário, trazendo no ventre um Guerreiro Arrojado que lhe faz sentir a força da vida, clamando pela liberdade.

Mas, valente como a fera que é, a mãe resiste até o amanhecer daquela sexta-feira 13. Às 5:00hs, ela chega! Silenciosa, sem um único murmúrio. Silenciosa como um peixe (Moreia?). Nasce como um Guerreiro que retorna do Vale da Morte: ainda amortalhado.

Por um estranho vaticínio fora rejeitada desde o ventre materno. Ali, onde deveria ser um Santuário, recebera doses maciças de drogas abortiva, letais. Mas lutara com garras e dentes para sobreviver...

______ Não morrerei. Não ainda, e se morrer te levo comigo!

Luna a abençoa e o mal se volta contra o agressor. Sua dor e agonia se fazem sentir além dela e sua genitora, no limiar da passagem, ajoelha-se suplicando pela vida de ambas.

_______Se nascer vivo e me deixar viver, lhe darei o Nome Sagrado do Santo Amigo dos Animais - FRANCISCO DE ASSIS se for um Guerreiro... GUERREIRA sendo, assim será chamada: FRANCISCA, também de ASSIS...

O veneno ingerido deixa sequela visível e ao chegar, na transição entre a noite e o alvorecer, apesar do Augúrio, não porta a Fúria do "INFERNO AMBULANTE", mas a docilidade, a gentileza e o silêncio cheio de paz de um cordeiro. Pequenina e frágil, ela é a imagem do animalzinho enjeitado que poucos acolhem e amam, menos ainda querem, por ser feio e estranho. E ali é rejeitada, mais uma vez, por sua mãe.

_______Não a quero. Ela é só pele e osso... Parece filhote de cachorro lenguenzo!!! Que a família do pai dela crie. Eu não quero.

______Se dá filho de cachorro e olhe lá. Muitas cadelas paridas enlouquecem e mordem quem lhe toma os filhotes. Se der Minha Neta... pode dar os doutros dois. Se uma é filho de cachorro... os outros também são.

E a Velha Matriarca de olhos piscosos, cor de safira, de cabelos claros quais raios de sol, acolhe em seu colo macio (cheirando a alfavaca, alecrim e manjericão), o fruto rejeitado, solfejando canções ancestrais.

______Sagrado Machado-de-dois-gumes, esse será o seu nome! Arma do povo-bárbaro-do-fim-do-mundo... eu devia lhe chamar Amélia ou Felicidade... você tem a firmeza de caráter e a coragem das duas! Mas é melhor assim. Ninguém vai lhe afastar de mim... trarei sempre sobre o meu peito, bem junto ao coração, o sarcófago de pele que lhe resguardou da morte infame... eu lhe ensinarei a ler o alfabeto das águas, conversar com vento e a ouvi-lo... conversar com as plantas... não tema... curarei todas as suas dores e ninguém, que esteja abaixo de Deus, conseguirá lhe destruir... lhe ensinarei a linguagem dos animais... a ler o pensamento dos homens, dentro dos olhos apavorados... no cheiro ruim exalado do suor provocado pelo medo... cuidarei de você até que desenvolva suas garras e possa, sozinha, estraçalhar seus inimigos... por agora durma, eu estou aqui!

Sob o olhar atento da Matriarca a pequenina fera cresce e vai descendo goela abaixo, na marra, de todos os que, por preconceito, ousam pensar ou lhe dizem...

______NÃO!!!

Ela não se irrita facilmente, mas quando lhe chutam bastante, tirando-a do sério, ferindo-a ao extremo, fazendo-a sangrar em jorros, ela escancara as fauces e rosnando furiosa, ataca sem piedade, de defesa não dá chances, pondo fim ao breve gozo da vitória almejada e sombria do seu agressor. Em tempos de paz, está sempre sorrindo, brincando. Gosta de dizer ser descendente dos Mandacarus.

______Sou só espinhos... kkkkkkk... mas se está ferido, sedento ou faminto, em pleno deserto, aproxima-se, não temas. Sabe que sou uma árvore sem sombras, de agudos espinhos, mas há uma FLOR: O Meu Coração. Se você conseguir alcançá-lo, lhe levo ao Oásis, onde estão meus amigos da Comunidade. Lá não habita o mal, a dor ou o medo. Escute o meu segredo... também sou um metamorfo. Vem comigo? Sim? Antes, porém ouça a Minha Oração: ”Prudência, calmamente me ensine os Segredos da Misericórdia. Preciso Agir, mas antes de qualquer Ação, necessito Ouvir e Pensar!” Agora, me fala um pouco sobre você, depois então partiremos.

Nawarã foi criada, aprendendo com a mãe que a morte é a libertação da nossa Alma Imortal, prisioneira desse corpo corruptível, exilada neste Vale de Lágrimas e Sombras, que retornará livre e gloriosa ao seu lugar de origem: O TODO PODEROSO e INFINITO! Com a morte, lhe dizia a mãe, deixaremos de sofrer qualquer tipo de dor. Sua mãe a treinou para encarar a Potens Regina, sem nenhum medo!

______Então, por que cargas d'água, aqui, no mais intimo do meu coração, uma dor se esconde e machuca como um espinho sob a mucosa do lábio, quando penso na transição dos seres a quem amo muito e/ou nem tanto? Mesmo quando quem parte nunca demonstrou ser capaz de amar e sorrir... que eu percebesse, sinto com se uma parcela de mim fosse com ela/e... me sinto mutilada, sempre?!

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Continua...

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 27/01/2017
Reeditado em 13/03/2017
Código do texto: T5895027
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