A NEGLIGÊNCIA DOS HOMENS COM A PRÓPRIA VIDA

O maior crime que muitos seres humanos podem cometer contra suas próprias vidas, um crime bem próximo do suicídio, na medida em que há grandes riscos de sucumbirem a uma falsa consciência de si mesmos, é nunca ou raramente exprimirem suas fraquezas e frustrações, angústias e temores, bem como os anseios mais inquietantes e as alegrias mais contagiantes, sendo essa falsa consciência, não há dúvida, um potente veneno que inibe qualquer chance de autenticidade e transparência do próprio indivíduo consigo mesmo.

Muitas pessoas não só escondem ou camuflam a causa de seus martírios da presença do seu ''próximo'', como também, o que é pior, ocultam de si mesmas as suas perturbações, o que é sempre mais angustiante e aterrorizador se forem trazidas à luz de uma reflexão desnudada pela sinceridade!

Mas o preço que muitos indivíduos pagam pelo ocultamento de suas próprias verdades não pode ser mais devastador para a constituição da personalidade: o adoecimento psíquico; sendo esse um fenômeno tão frequente e alarmante em nossa sociedade, que os manuais de psicopatologia dia após dia precisam se atualizar se quiserem responder prontamente às exigências de tantos enfermos, pois muitos deles, senão a grande maioria, vivem imersos no desespero e, o que é pior, sem chances de gritarem sua revolta já muda (tamanha é a proporção do beco sem saída em que se encontram!).

A vida na terra, em nossa era governada pela competição desenfreada, se transformou num objeto como qualquer outro, apenas uma mera mercadoria ou produto desprovido de qualquer profundidade espiritual, onde os sentimentos, as emoções, e os desejos singelos são pouco ou quase nada levados em consideração, sem que haja qualquer forma de respeito, compreensão ou tolerância até mesmo por aqueles que exigem o mesmo tratamento, na maior parte da vezes pouco interessados em qualquer forma de alteridade, ou mesmo abertos para o diálogo singelos com o seu semelhante.

A maior prova dessa decadência nas relações humanas são as conversas nada edificantes em rodas de amigos, que em muitos casos aproveitam os seus momentos de lazer, desfrutando ávidamente de diversões baratas e empobrecidas dos assuntos que norteiam as suas conversas; podemos encontrar também nos relacionamentos amorosos a mesma realidade vivida por diversas pessoas (em que falar de coisas com forte teor espiritual com certa dose de melancolia e revolta é sempre um assunto proibido, uma vã tentativa mas reservada para poucos)

Para ser franco, raros são aqueles que se arriscam em manter atitudes autênticas frente a vida, atitudes essas acusadas pelo senso comum, em diversas situações, de excêntricas e bizarras.Com o decorrer dos anos, foi criado um mecanismo para obliterar o tempo que as pessoas deveriam ter para refletirem seriamente (com certa dose de humor e responsabilidade), a respeito de suas vidas e do que estão fazendo com as mesmas; ou se há alguém que tenha esse tempo, prefere muitas vezes, por escolha própria, fugir do compromisso que deveria ter consigo mesma.Não que não haja seres humanos empenhados nessa empreitada, uma empreitada de desocultamento daquilo que deveria ser escutado, mas a educação ainda não evoluiu ao ponto de favorecer a grande parcela da população!

A todo momento é exigido de nossas vidas que sejamos sempre fortes, alegres e que demonstremos para os holofotes que a nossa vida está bem a todo instante; mas esquecemos que essa exigência ditatorial é intolerante quando está diante de qualquer sinal de esgotamento físico e psíquico; contudo, o mais interessante de tudo isso é que nunca houve tantos casos de depressão e infelicidade como tem se anunciado em nossa era.

É como se fosse possível vivermos sorridentes e satisfeitos pelo resto da vida,mas caso haja alguém que demonstre aparentemente isso, ou essa pessoa mente, ou ela é uma atriz de muito mal gosto! O desastre sobre a qual milhares de pessoas estão submetidas é tanto, que a toda hora precisam, sob pena de ficarem à margem de sua comunidade, provarem que são cidadãos modelos, mas, o que é pior, sem demonstrarem publicamente qualquer indício de fraqueza humana.

O mais impressionante é que nunca se admite, quando uma pessoa tem algo de valioso a oferecer para pessoas pouco expressivas, que esta mesma pessoa tem seus momentos de falhas e debilidades; afinal, são pessoas que não podem em nenhuma circunstância ficarem enclausuradas na masmorra que criaram para elas ficarem sufocadas. Novamente, é interessante mencionar que o prejuízo que podemos levar para o resto de nossas vidas, nesse jogo fantasmagórico de insinceridade e de faz de conta, é desastroso para a nossa constituição psíquica! Os nossos frágeis calcanhares escamoteiam a nossa condição de seres finitos, mas quantos tem a coragem para reconhecer e, simultaneamente, viver a todo instante essa realidade íntima, tão presente na vida de todos nós seres humanos?

A vida só se torna aprazível para aqueles que se lançam nos turbilhões do mundo sem se deixar levar pelas suas correntezas; mas caso isso aconteça há pouca esperança para uma existência marcada pela falsificação de si mesma. O sentido da vida só se aproxima do pleno quando temos a coragem e a firmeza de vontade para não deixar a desintegração da personalidade tomar conta de nossas vidas; e também de não permitirmos que sejamos sugados pela banalidade dos valores instituídos pela massa; mas, sobretudo, de permanecermos fiéis as nossas convicções e à nossa capacidade de significar e ressignificar o que nos cerca quantas vezes for preciso. Mas para isso é sempre importante termos o amparo da fé naquele que nos ama, sem o qual ficaremos fragilizados e não suportaremos tamanha luta sem tregua advinda do mundo dificil em que vivemos!

A vida é uma aventura, e só tem uma razão de ser quando deixamos de lado preconceitos infundados; e procurarmos da melhor forma possível desfrutar de um crescimento espiritual e cognitivo que nunca termina enquanto estivermos sendo movidos por uma força vital que nos mantêm perseverantes durante a brevidade de nossa existência. Sim, de fato, crescer espiritualmente é uma boa chance para quem está esgotado psiquicamente por tanta mentira; e a busca se dá quando vemos que nada mais no mundo nos encanta mais; é nesse momento que a fé em Deus aparece como uma oportunidade de buscarmos a sua redenção. A partir desse instante vemos o quanto ele nos ama; e por essa razão, chegarmos mais perto dele com lágrimas nos olhos para toda eternidade; não sem antes falarmos  ainda em vida e a todo momento do seu nome, do único que que morreu na cruz para nos salvar.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 26/01/2017
Reeditado em 26/01/2017
Código do texto: T5893091
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