A VIRTUDE DA FÉ

A virtude da fé, essa resplandecente clareira que desponta sobre uma floresta de milagres, nos aproxima de Deus; é uma força que só pode provir de um coração humilde; portanto, não é algo que se ensina por ninguém e nem algo que se incute através de discursos ideológicos ministrados com interesses estranhos. A fé em Deus vem a ser um alento para alma, um alento que propicia a abertura para o caminho do renovo e da esperança; servindo, nesse caso, como um alicerce ou um porto seguro.

A confiança nos dá, por outro lado, condições suficientes para sentir, de forma vivaz, que há um desígnio por trás de tudo aquilo que não podemos enxergar, mas que podemos, apesar da luta que sempre nos acompanha, sentir com coração cheio de esperança uma luz que brilha na estrada de nossas desilusões.

Infelizmente, há muitas igrejas que mais nos desviam dos caminhos de Deus com a falsa consciência de agirem como se fossem as únicas detentoras da ''verdade'', ao invés de nos dar auxílio no cuidado que deveríamos ter com nossas próprias vidas e com a de nossos semelhantes.Preferem apenas propagar ideologias que condiz com seus próprios interesses do que transmitir única e exclusivamente mensagens de amor e esperança para seus fiéis.

Em vez de fortalecerem o self das pessoas com a cura que a mensagem de Deus pode tão bem proporcionar, ensinando a experiência edificante dos homens que testemunharam a sua grandeza, preferem enfraquecê-los com superstições de todos os tipos ao ponto de muitos homens se tornarem intolerantes e fanáticos, mesmo não se dando conta de terem perdido o essencial: a fé em Deus e amor ao próximo!

Embora haja tanta deturpação e tanta intolerância desnecessária, o que mais existe nos dias de hoje são igrejas que, bem ou mal, falam em nome de Deus. Em meio a tantas crises, a chama da fé tem prevalecido no ser de muitas vidas ávidas por salvação e consolo.

Vivemos numa época governada pela técnica e pelas conquistas que ela trouxe, a mesma que também nos desviou do contato mais originário e radical com o divino e com a experiência epifânica do ser; uma experiência, sem dúvida anterior a toda a tentativa de racionalizar o que é inapreensível pela razão (uma experiência originária e mais próxima com as coisas).Essas experiências, tão profundas e importantes para o homem mais simples (o homem a que me refiro é aquele que vive longe dos ideais de nossa civilização, porém mais em sintonia com a experiência do cosmos, como tão bem Guimarães Rosa retratou no seu livro Sagarana), nos dias de hoje são raras, e poucas são as igrejas que favorecem uma experiência tão rica e intensa, apesar de haver algumas experiências desse tipo, de pessoas extremamente sensíveis e cheias de fé no coração.

O que também se tornou frequente é que a verdade revelada por Deus deixou de ser vivida em todas as esferas e passou a ser vivenciada apenas nos estritos limites da igreja, deixou de ser um estilo de vida até mesmo por aqueles que professam o nome de Deus. A fé no transcendente, portanto, se empobreceu no coração petrificado de nossa época, onde a tecnocracia se acha no direito de se afirmar como o único saber legítimo, mas que só permite o princípio de não-contradição.Esquece que o paradoxo faz parte da vida e que a civilização e suas conquistas foram erigidas sobre este princípio.

A virtude da devoção religiosa permeada pela confiança no Altíssimo, é uma aptidão presente no íntimo de um ser humano; é uma virtude que o motiva a viver experiências repletas de profundidade e paixão. O caminho da fé, de fato, nos conduz mais próximos do amor de Jesus; é um meio, portanto, de nos religarmos à Deus com toda a nossa sinceridade e verdade.Pode ser prejudicial para a nossa vida se for fundamentada em preconceitos e ideologias, discursos que fecham qualquer horizonte no momento que precisamos sinceramente buscar a Deus, pois ao invés de nos aproximar, mais nos distanciamos do mesmo, uma vez que só conseguimos projetar em outrem nossas inseguranças e temores, elementos que só podem proceder de nós mesmos...e de mais ninguém! (Enquanto formos vítimas desses sentimentos reacionários capazes de irem contra a nossa própria vida, tanto menos saberemos discernir o que procede de Deus e o que procede de ensinamentos perversos).

Mas a vida pode ser bastante libertadora se vivermos da fé em Deus; e ao vivermos com alegria a manifestação de seu amor por nossas almas, estamos em condições de adorá-lo em espírito e em verdade; e de amá-lo incondicionalmente (vivendo apaixonados por tudo o que foi revelado sob o seu consentimento). A revelação dos desígnios do altíssimo em nossos corações é a oportunidade para testemunharmos a sua grandeza e o fato de que somente dele pode proceder o nosso salvador!

Entender os desígnios de Deus, pela simples e vã curiosidade de desvendar seus enigmas, ou por uma pretensão que envolve egoísmo dos anseios mesquinhos por quem implora sem transparência uma verdade absoluta, está na ordem do impossível, principalmente quando, pela prepotência e pela arrogância, achamos que podemos descrevê-lo metafisica ou cientificamente, quando na verdade dele recebemos apenas sinais ou pistas para entender com franca humildade seus propósitos. 

O que nos resta, então, nesse caso, é crer, pois só assim estaremos preparados para compreender as dádivas, as promessas e as bençãos que misteriosamente Deus tem para nos assegurar.Sem dúvida tudo o que está na ordem do sobrenatural é um mistério, mas isso não significa que devemos perder a esperança e a fé; ao contrário, precisamos entender que Deus nunca nos abandona e no momento em que menos esperarmos ele enxugará nossas lágrimas!  

O melhor caminho para se abordar a experiência religiosa começa na compreensão da história de vida e das vivências de cada ser humano em particular, sem deixar de considerar o contexto sócio-cultural passível de ser desvelado pela especulação filosófica, pelas ciências humanas e pela teologia. Mas quantos tem a sensibilidade e a humanidade de compreender as motivações, as dores e as experiências de seus semelhantes? Considerar a experiência religiosa demanda fé e respeito pelo testemunho que sai da boca de outrem.

Em meio as fragilidades geradas pelas contingências da vida, é possível sermos revestidos de certezas íntimas enquanto vivemos impulsionados pela busca da revelação da verdade que nos liberta. Tais certezas íntimas sempre guardam um desejo de clamar em voz alta pela paz e pelo aconchego de uma nova morada espiritual (na medida em que esbanjamos sinceridade e integridade perante Deus, aprendemos a entender melhor os seus propósitos para as nossas vidas). Ao sermos alimentados pela luz espiritual que a fé descortina em nosso ser, deixamos de lado qualquer pretensão estúpida de achar que sabemos de tudo a respeito dos mistérios de Deus! Pois ele já havia dito que nenhum de nós seremos capazes de vê-lo com os nossos frágeis sentidos, apenas dá a possibilidade da fé como forma de nos aproximarmos, espiritualmente falando, de sua luz emancipadora, uma luz na qual somos guiados para as práticas das virtudes essenciais para uma vida cristã autêntica.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 21/01/2017
Reeditado em 22/01/2017
Código do texto: T5888926
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