OS TABUS NÃO SUPERADOS

Em nossa época há dois tabus que ainda não foram superados, entre eles está o sexo, por um lado, e a morte, por outro. De fato, falta muito para que a sociedade aborde tais assuntos sem decair em reducionismos e meras superficialidades...É perceptível o poder que as indústrias mídiáticas, as indústrias do entretenimento e as demais instituições tem sobre o comportamento dos indivíduos; como forças atrozes a moldarem as consciências individuais, criam hábitos, pensamentoss e práticas que fogem das coisas mais simples e das vivências mais essenciais e originárias da vida.

O primeiro deles, o sexo, apesar de ser muito comentado nos dias de hoje e também haver muitos alvoroços em torno desse assunto que sempre fascinou os homens, se tornou algo banalizado; apenas uma mercadoria como qualquer outra a serviço de uma lógica desumana que lucra com algo tão importante para as nossas vidas!

O sexualidade humana é uma dentre muitas das dimensões que constituem e integram o ser humano. A prática sexual, baseada no amor entre um homem e uma mulher é a intensificação da vida; é, portanto, uma manifestação que propicia um imenso fortalecimento da intimidade e do amor (amor em suas variadas formas, a saber: éros, philia e ágape).

Quando a sinceridade e o desejo mútuo permeiam numa relação sexual, é possível o surgimento do encontro profundo entre duas almas que se amam. As relações sexuais entre pessoas movidas pelo amor, são as mais intensas entre todas as formas de relacionamentos humanos, na medida em que estão presentes a cumplicidade e a intensidade do contato de dois seres em prol do mesmo objetivo e em busca dos mesmos sonhos.

Nos relacionamentos conjugais amparados pela fidelidade (relacionamentos esses enriquecidos pela dádiva eterna do amor), o sexo é a possibilidade dos parceiros manifestarem o que tem de mais belo e profundo em seu ser... Não somente é a possibilidade do surgimento de uma nova vida (o fruto de um ato permeado de responsabilidade), mas também a chance de aflorar uma maré de desejos, prazeres, carícias, suspiros e demais manifestações que envolvem entrega, doação e cumplicidade.

No que diz respeito ao sexo vendido pela mídia, pelo entretenimento e pela indústria do sexo, está implícita uma concepção banalizada desse assunto; a maneira como a sociedade trata o sexo é sempre superficial e permeada de futilidades. Sem dúvidas, o lucro gerado por esse mercado tão promissor não paga o embrutecimento de muitos a respeito desse assunto, que esquecem que há outros elementos que estão presentes na prática sexual, manifestações que integram uma relação sexual sadia, tais como carinho, amor, paixão, desejo, respeito, ternura, afetos, cumplicidade, intimidade, etc...

Em nossa época, o assunto relacionado ao sexo é claramente negligenciado pela indústria da mídia: responsável por moldar o comportamento da massa com ilusões de todos os tipos. Como consequência disso, vemos diversos casos de pessoas agindo possessivamente como se fossem donos de outras pessoas...Há casos de indivíduos que usam outros como brinquedos desprovidos de vitalidade, apenas para satisfazerem uma necessidade do momento...nada mais insano e desprovido de amor do que uma relação movida pelo jogo de interesse, pela brutalidade nos gestos, pelo embotamento afetivo e por uma prática em que apenas uma pessoa obtém satisfação sexual!

A objetificação do ser humano sem dúvida invadiu esse importante aspecto da vida humana e é por isso que se tornou algo tão banalizado; não deixa, portanto, de ser um tabu nos dias de hoje: numa época em que falar de amor e demonstrar atitudes de companheirismo na relação parece ser uma palavra proibida e ultrapassada na relação de muitos casais. A frieza na manifestação dos afetos é um dos sintomas que mais dificultam a fruição dos prazeres e o aparecimento do orgasmo.

O segundo tabu, talvez mais difícil ainda de ser falado nos dias de hoje pelas pessoas, é a morte (os únicos recintos ou lugares que são mais convenientes falar desse assunto são nos cemitérios e nos velórios; do contrário, só as igrejas permitem assuntos como esses). Nas rodas de amigos, os assuntos mais triviais sempre foram os preponderantes, especialmente numa sociedade como a nossa: cujos valores estão impregnados de hedonismo e de imediatismo.

Falar a respeito da morte e do morrer é tão inconveniente nos dias atuais, que uma pessoa que tenta abordá-la seriamente ou em certos ambientes é logo chamada de mórbida ou algo semelhante... É como se fosse algo proibido, e que merecesse o silêncio das pessoas...é como se, ao discorrermos sobre a morte, fosse gerar um incomodo nas pessoas mais sensíveis, especialmente em ambientes repletos de agitação e de pressa...

É incrível que poucos se preocupam realmente com a problemática da morte, uma preocupação que diz respeito a um interesse em pensarmos sobre o nosso destino depois dessa vida. De fato, a morte é um assunto fascinante e complexo; é um assunto que demanda muita maturidade emocional, especialmente se queremos fazer uma compreensão da vida em que vivemos a partir de nossas vivências também sujeitas ao esgotamento e à finitude.

Na verdade, é pela consciência da brevidade de nossas vidas, que verdadeiramente buscamos um sentido para a nossa existência. Com essa consciência, podemos nos perguntar se valeu cada instante vivido ao lado das pessoas que amamos. Ao meditarmos sobre a morte e a finitude humana, podemos sempre reavaliar os lugares que conhecemos, os ambientes que frequentamos; e, por fim, elaborarmos questionamentos profundos em busca de respostas que sinalizem caminhos mais retos e planos. Na medida em que formamos concepções a respeito do valor das relações que mantivemos com as pessoas que povoam até hoje nossas lembranças e tambêm das situações que enfrentamos, estamos reavaliando nossas experiências de vida iluminados pela consciência de nosso ser-para-a-morte.

Aprendemos, quando colocamos a questão da morte sempre em pauta, a dar valor naqueles que amamos, nas mesmas pessoas que também nos retribuem com o mesmo amor e afeto. A partir do instante que certas reflexões se impoem, é inevitável que percebamos que as pessoas que estimamos não estarão sempre próximas de nós; de que chegará obviamente um dia não iremos mais vê-las em nossas vidas.

Aprendemos com os contratempos e com as surprezas da vida, que os entes que nos rodeia nunca serão os mesmos; que os animais que estimamos tem vida mais efêmera do que a nossa existência; e que as pessoas com as quais mantemos vínculos cessam de estar próximas quando menos esperamos. Mas ainda que a fatalidade nos condiciona ao sofrimento e às sensações de desânimo, podemos nos consolar ao buscarmos singelas alternativas de amar. Talvez seja por essa razão que meditar sobre a morte é tão angustiante! Afinal, não é através da meditação que encontramos uma alternativa redentora para vencermos a aniquilação absoluta de nosso ser?

A morte geralmente é um tabu porque nos deixa sérios e atônitos; porém, quando somos impulsionados pelo fascínio das especulações filosóficas, ficamos mais motivados ao silêncio de uma meditação consistente sobre a existência, até concluirmos com sabedoria de vida sobre o quanto ficamos vulneráveis as fatalidades da vida. De fato, a todo momentos estamos sujeitos de desaparecer desse mundo pelas mais diversas contingências e causas. Por conta disso, muitos preferem não se angustiar com essas questões, quanto mais pensar em darem respostas para perguntas como ''para onde vamos depois que morrermos?'' e outras desse tipo. Há casos de pessoas que preferem viver apenas as alegrias e as emoções do presente como forma de esquecerem de assuntos tão sérios e pertinentes!

Realmente, a morte é um assunto que nos deixa encurralados e taciturnos, mas se o pensamento sobre a finitude não passar a fazer parte da nossas vidas, corremos o risco de esquecermos de buscar uma razão de ser para tudo o que fazemos; ou, então, deixamos de buscar um sentido para a vida, um significado que nos orienta quanto ao fato de vivermos num mundo sujeito as ameaças das fatalidades. É provável que haja pessoas que evitam até mesmo de refletirem se os lugares que frequentam, se as pessoas que convivem, se tais alimentos que comem, são de fato saudáveis e aprazíveis para suas vidas! Quando o ser humano protela e evita de encarar a sua realidade de frente, corre o risco de se tornar frágil quando surgem os contratempos e as adversidades mais inexoráveis que o mundo está cheio.

A filosofia ocidental começou a se disseminar não só em razão da angústia que a morte sempre gerou na vida dos seres humanos, como também devido ao fascínio que o além-túmulo sempre despertou nos mesmos. Buscando explicações ''mais palpáveis'' e ''coerentes'' do que a sabedoria encontrada nos mitos, os primeiros filósofos do ocidente criaram formas de pensar voltaddas para o entendimento da origem do universo e do cosmos. Tais pensamentos foram uma profunda tentativa de fazerem uma compreensão não só da origem da vida, mas também do propósito e do destino da existência humana.

As religiões, por outro lado, também proporcionam excelentes explicações a respeito da vida, da morte e da transcendência, talvez até mais do que qualquer outros tipos de saber, pois proporcionam aos homens consolações infindáveis para o seu viver, de tal modo que sempre apontaram vias para sua redenção, além de ministrarem ensinamentos morais, a fim de nortearem suas condutas e comportamentos. A maor parte das religiões dizem como os homens devem agir e em quem precisam acreditar ou depositar a sua confiança.

A religião cristã, por exemplo, proporciona revelações marcantes aos homens, tais como o fim da aventura humana nesse mundo, o projeto de redenção futura dos seres humanos remidos por intermédio de Jesus Cristo (o filho de Deus) e, também, a ressurreição de todos os mortos. Tais promessas, presentes na bíblia, são maravilhosos consolos para aqueles que creem que existe uma vida eterna após a sua morte terrena.Sem dúvidas, os ensinamentos de Cristo e toda sua preciosa sabedoria (profundamente escatológica e libertadora) são verdadeiros bálsamos para os homens que buscam paz, salvação alívio para suas vidas!

A consciência da morte, portanto, é o maior despertar de consciências que podemos ter... Infelizmente, poucos procuram encara-la de frente e assumir as mudanças corporais e comportamentais que passaram ao longo da vida. Nos dias de hoje, vemos o fenômeno da negligência dos homens consigo mesmos na ânsia desesperada de tentarem parar a roda do tempo com plásticas e mudanças corporais de todos os tipos, talvez até para se aliviarem do sofrimento que o tempo deixou em seus corpos!

A ciência, de fato, desenvolveu técnicas eficientes para reconstruir os corpos, prometendo a melhora da autoestima; porém há questões que arduamente consegue penetrar e oferecer para as pessoas, como por exemplo, dar respostas favoráveis para obtenção da felicidade e da auto-estima; abordar com profundidade sobre o destino do ser humano e o significado de sua existência; e apontar alternativas que possam libertar os homens dos impasses da existência. Permanecem sendo respostas com as quais a ciência não consegue dar explicações satisfatórias.

Há um mercado incrivelmente vasto que tem se proliferado em nossa sociedade, cujo intento é vender ilusões de todos os tipos para as pessoas mais incomodadas com as transformações operadas pelo tempo em seus corpos e também para as pessoas que não lidam bem com a velhice e com a progressiva diminuição da libido sexual. Assim como na área da sexualidade humana, há uma lógica cruel que almeja interferir na relação do homem com a sua sexualidade e a sua finitude, ora oferecendo cirurgias para a correção das imperfeições do corpo, ora fomentando valores que desconsideram a processo do envelhecimento e a velhice em si, ora oferecendo soluções fáceis para os homens continuarem esbanjando juventude.Tais promessas, criam uma sociedade de seres humanos frustrados...Inevitavelmente, inúmeras pessoas, movidas pela frenética busca do rejuvenecimento, recorrem a propagandas e a muitas promessas duvidosas (excessivamente predatórias e expladoras), a fim de minimizaram a sua baixa auto-estima e os efeitos produzidos pelo envelhecimento.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 23/12/2016
Reeditado em 28/01/2017
Código do texto: T5861742
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