AMOR DESCONTROLADO

As paixões movem o mundo e abrem fronteiras na ilimitada percepção humana. O coração dispara e os sentidos se aguçam, inundando de emoção os momentos marcantes em nossa humilde existência. O nascimento de um filho, a formatura tão almejada, um beijo intenso ou um abraço caloroso, a conquista de um difícil processo seletivo e para os amantes do futebol, o tempo pára no contagiante momento que a bola estufa o barbante. Uma avalanche de sentimentos tomam conta da torcida e tudo fica mais exuberante e indescritível quando seu time do coração ergue a taça garantindo mais um título para o clube. Os críticos assinalam que não vale a pena dar quórum para o “pão e circo” dos tempos modernos em que por vezes, a paixão dá lugar a violência e as negociações milionárias concentram recursos que poderiam alavancar muitos outros esportes que estão excluídos. As pessoas que gostam de acompanhar o cenário dos esportes em geral, e principalmente do futebol, em sua maioria assinalam que as transações milionárias ofuscaram o brilho do histórico passatempo bretão. Contudo, as anomalias que refletem a ambição capitalista não corromperam o amor descontrolado que assume uma condição inalienável da tradição que só tem valor pelos feitos heroicos e a história de um clube. O cultivo desse amor vêm de berço por uma tênue ligação familiar ou é semeado no disputado “carrasquinho” e no alegre “3 dentro e 3 fora” com os amiguinhos da rua. Onde passa uma bola corre uma criança atrás, brincando sorrindo e sonhando. Da rua para os campos da “várzea”, o futebol amador é o celeiro de bons talentos e atletas que demonstram grandes habilidades e espírito de equipe onde a coletividade e o companheirismo são fundamentais. Por trás do brasão de um clube existe uma legião de apaixonados que faz a festa quando a bola rola. Eu aprendi a perceber o futebol como uma filosofia capaz de nos ensinar sobre a sociedade em que vivemos, onde o respeito deve prevalecer e o esporte serve como uma eficaz ferramenta de inclusão social e desenvolvimento integral das pessoas. Meu Amor Descontrolado pelo Grêmio Foot – Ball Portoalegrense (1903) vêm de berço, assim como canta a nossa torcida: “Vamos Grêmio, tu és Copeiro; E hoje temos que ganhar; Eu te sigo desde pequeno; Já não posso mais parar; Tu és a vida, tu és a paixão; O sentimento vai além da razão; E não importa se perder ou ganhar; O tempo inteiro eu vou te apoiar!” Os olhos azulados de meu pai, Sr. Waldir A. Porto, me ensinaram o caminho para o velho casarão da Azenha, o estádio Olímpico, onde tive minhas primeiras experiências como torcedor e hoje, desfrutamos os novos ares da Arena do Grêmio. Nosso amor sempre foi presenteado pelas três cores: azul, preto e branco e sempre me ensinou que para exaltar meu clube não preciso menosprezar os outros clubes e seus torcedores, pois a essência do futebol é um mosaico de paixões, aspirações, vitórias, derrotas, histórias e tradições. Das elites aristocráticas para uma paixão popular onde as classes sociais se diluem entre as quatro linhas e a vontade de vencer da coletividade deve prevalecer. Assim também é diante das adversidades da vida, ora amargamos decepções, outrora regozijamos o esplendor das glórias. Nasci em 1982 embebido pelo néctar do Mundial em 1983 e passei a juventude vibrando com as conquistas do Tricolor, sendo as mais significativas o Bi da Libertadores em 1995, Recopa Sul- Americana em 1996, Bicampeão Invicto da Copa do Brasil em 1994, Bicampeão Brasileiro em 1996, Tricampeão Invicto da Copa do Brasil em 1997 e o Tetracampeonato da Copa do Brasil em 2001. Após um longo jejum de títulos expressivos, exceto um Gauchão em 2010, rompemos o Rio Grande com o brado de Pentacampeão da Copa do Brasil em 2016. O Rei das Copas Voltou, o clube copeiro, lutador que esbanja bom futebol batizou seu novo estádio e impregnou a nova geração de tricolores com a vibração do seu escudo! A festa não teve hora para acabar, em todos os lugares as pessoas ostentavam orgulhosas seu manto gremista, cantando alto e empunhando suas bandeiras. Na última rodada do Brasileirão, fui com os tricoamigos da Geral do Grêmio e os Borrachos de Torres numa atividade que me emocionou. Saímos em carreata do estádio Olímpico, na Azenha até o bairro do Humaitá, local da gloriosa Arena do Grêmio. No trajeto, com os olhos marejados, reconheci a História impregnada de maneira simbólica no amor pelo clube do meu coração que me conecta com minha família e com o coração de tantos outros lares tricolores espalhados pelo mundo. No jogo Grêmio x Botafogo, o time carioca sai com o resultado de um a zero, apesar das chances de gol que tivemos. Era uma continuação da comemoração do penta, enquanto testemunhávamos o rebaixamento para a Série B do nosso co-irmão, Internacional. Por muito tempo escutamos que time grande não cai, uma afirmação descabida porque time grande é o que compete na Série B e consegue sagrar-se campeão. O verdadeiro futebol sem as estruturas e o glamour da divisão principal, serve para separar o “joio do trigo” e como uma “fênix” ressurgir das cinzas com força total. Meu time foi rebaixado duas vezes e isso não malogrou suas virtudes, pelo contrário nos legou um episódio singular conhecido como a “Batalha dos Aflitos” quando foi Campeão Brasileiro da Série B em 2005. Nosso co-irmão mereceu o rebaixamento para mergulhar num mar de humildade e realinhar seus propósitos diante de uma crise administrativa e reconquistar seus torcedores. Admiro o futebol do Sul do Brasil, alma castelhana, artimanha e gingado brasileiro, que eleva aos mais altos patamares os índices futebolísticos. A nova lista da CBF coloca o Grêmio em primeiro lugar novamente e ano que vem nosso desejo é o Tri da Libertadores e o Bi- Mundial porque assim como Lupicínio Rodrigues “Estarei com o Grêmio onde o Grêmio Estiver...”

Publicado no Jornal A Folha/ Torres e Jornal Litoral Norte RS.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 15/12/2016
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