MUDANÇAS E RENOVAÇÕES

A nossa vida só flui significativamente (no sentido de transcendência contra o absurdo que emana do tédio e do vazio), se buscamos vivenciar grandes mudanças e profundas renovações em nosso ser, atravessando desertos como um peregrino em busca de un oásis fértil e seguro. Pois não só de belas alvoradas são constituidas nossas vidas, mas também de um exuberante por-do-sol e de longas noites estreladas cheias de mistério e de silêncio sepulcral.

Ora, sem criatividade, vontade e liberdade para atravessar as fronteiras dos territórios das novas possibilidades, iriamos sucumbir aos absurdos mais desprezíveis da vida (...) Mas quando a luz de Deus brilha em nós, somos capazes de voar em espirito e, então, nos sentir triunfantes contra todos os escolhos e obstáculos.

Pois enquanto a voz do justo clama no deserto, a atenção do Ser eterno se volta ao determinar no tempo certo a paz no coração dos homens sinceros, na medida em que possui a chave e o desígnio elevado da vida eterna. Como nenhum ídolo cultural pode fazer qualquer coisa por cada um de nós, só com a esperança podemos voltar a sonhar com uma vida renovada e fortalecida, bem próxima de quem nos ama desde a fundação do mundo.

Com uma força que irradia vivacidade em nosso íntimo, uma força vinda do ser supremo, somos mais fortalecidos contra o caos da vida cotidiana; e, ao vivermos de gratidão, modéstia e reverência pela dádiva da vida, pairamos bem mais alto do que os muros colossais erguidos pela soberba dos orgulhosos de nosso tempo.

Porque não nos tornarmos cada um de nós os artistas da matéria bruta de nossa condição e de nossa situação existencial e, a partir daí, criar uma obra-prima ao lapidar de verdade o que estava opaco, e nessa significativa obra expressar o significado, o propósito e o sentido de nossas vidas?

O artista, na sua sensibilidade, chora sem lágrimas, sendo os acessos de loucura o grande despertar de sua linguagem; mas nessa condicão, e envolto por inspirações e intuições, ele constrói caminhos e sentidos, irradiando beleza mesmo na criação da obra-prima mais triste e tenebrosa.

É o artista quem expressa a verdade de seu ser através de uma linguagem própria, abrindo caminhos de compreensão da vida através dos mais variados simbolismos; além de expressar os acontecimentos do mundo e a condição dos seres sujeitos a finitude.

Entre tantas lutas da vida e entre tantos obstáculos evanescendo a intensidade de nosso querer, porque não revelar através de belos versos a vitória e os combates do herói frente as inexoráveis interpéries que subjugam a alma, tal como Dante no além túmulo ou Cervantes compondo a tragicômica saga de um herói que luta contra moinhos de vento?

Porque diante da morte, através de um derradeiro suspiro, não irradiarmos vida com uma criatividade sem precedentes, seja através do amor por quem mais amamos, seja através da esperança num porvir que transcende a aniquilação do ser?

De fato, onde os sofrimentos emergem, as impactantes peças da vida são encenadas, os mais encantadores versos são compostos e as canções mais expressivas são entoadas. Enquanto houver intensidade na expressão dos sentimentos mais elevados, resplandecendo de genialidade contra as opressões do mundo e das sociedades, mais incríveis serão as histórias contadas e reescritas pelo fluxo contínuo do tempo (Kairós).

Como um artista reescrevendo novas histórias, tudo o que sempre almejei foi ganhar novas experiências com as ricas descobertas que outras maneiras de ser podem me comunicar enquanto mantenho um vínculo permeado de solidariedade e de amizade; mas nunca deixando de sentir com grande sensibilidade o meu ser pulsando e vibrando ao sabor de cada situação aprazível aos sentidos; e ao sabor de novas sonoridades compondo a canção mais memorável e sublime de minha existência.

E assim, mesmo com tantos altos e baixos, quedas e ascensões, luzes e sombras, reescrevo com lágrimas, sensibilidade e sorriso a mais interessante sinfonia dos meus momentos de vida. Pois nesses dias em que a esperança resplandece uma inesperada clareira em meu porvir, renasço na espera do despertar lúcido do amanhecer ainda envolto de surprezas adormecidas.