DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA ALTAMIRENSE DE LETRAS

Ilma. Sra. Presidente da AAL, poetisa Profª. Sônia Portugal, em seu nome saúdo as autoridades que compõem a mesa diretiva desta solene assembleia, aos confrades e confreiras, membros desta casa de letras, e aos demais convidados.

Senhoras e senhores, boa noite! Nesta memorável noite quero ressaltar meu enorme contentamento por ingressar nesta altiva Academia Altamirense de Letras.

Antes e primeiro que tudo, quero agradecer a Deus, Senhor da nossa vida, e a vós, por me aceitarem! Me reporto, especialmente a poetisa, Sônia Portugal, pelo seu incentivo, ao ler alguns de meus escritos, me disse por algumas vezes: o seu lugar é aqui! Você tem que publicar suas crônicas.

Eu que não nutria o desejo de participar desta ilustre casa, pois pensava não possuir méritos suficientes para uma pretensa filiação, estou deveras feliz! Sinceramente, confesso não me achar uma pessoa tão culta (não tenho um nível superior de estudo), nem a titulação peculiar da maioria dos membros acadêmicos, mas um questionamento me ocorre no momento: o que é ser acadêmico, se não um aprendiz, um discípulo, um educando.

É, pois, nessa condição que aqui estou. Entendo que ocupar uma cadeira nesta nobre instituição é gozar de uma honra intelectual, advinda de um exercício acadêmico, científico, popular. Então, agora movido por esse desejo quero somar valores e adquirir novas experiências, com as confreiras e os confrades desta conceituada Academia. Por isso, ao tomar posse, hoje, da cadeira Nº 30, prometo zelar pelos valores éticos, culturais e humanísticos que norteiam esta casa, espaço de produção intelectual e reflexão social, tendo como patrono o escritor paraibano Ariano Suassuna, a quem passo a homenagear neste momento:

Ariano Suassuna foi um grande escritor brasileiro. Sua produção reúne além da capacidade imaginativa, seus conhecimentos sobre o folclore nordestino. Dono de uma escrita inspirada pelo simbolismo, pelo barroco e pela literatura de cordel, valorizou as formas de expressão popular em suas obras.

Poeta, romancista, dramaturgo, professor e advogado. Em 1990, ocupou a cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi eleito para a cadeira nº 18 da Academia Pernambucana de Letras e em 2000, ocupou a cadeira nº 35 da Academia Paraibana de Letras.

Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no sertão, na Fazenda Acauhan.

Com a Revolução de 30, e a morte de seu pai no Rio de Janeiro, a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nesta cidade, Ariano fez seus primeiros estudos.

A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, os estudos secundários em 1945, no ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto a ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco.

Ariano Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque no jornal do comércio do Recife.

Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito, e 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco.

Iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, como objetivo de valorizar os vários aspectos da cultura do Nordeste brasileiro, como a literatura de cordel, a música, a dança, teatro, entre outros.

Algumas de suas peças de teatro são: cantam as harpas de Sião, alto de João da Cruz, Alto da Compadecida, o santo e a porca, o casamento suspeitoso, a farsa da boa preguiça, a caseira e a Catarina, dentre suas peças o alto da compadecida, sua obra prima, além de encenada diversas vezes por todo mundo, já recebeu várias adaptações cinematográficas.

Seus livros, em sua maioria, viraram filmes e séries de televisão que conquistaram uma grande legião de leitores

Ariano morreu no dia 23 de julho de 2014 no Real Hospital Português, no Recife, após ter sofrido um AVC.

É uma honra e um privilégio ter esse grande nome da literatura brasileira como patrono.

“É necessário nunca ter medo de ir longe, porque a verdade está sempre mais adiante”, disse o romancista francês, Marcel Proust. Nesse sentido, se faz relevante destacar que nunca tive medo, por isso, fiz algumas publicações e trabalhos na área da literatura. Entretanto, eu os fiz como hobby, mas, ao ser aceito como membro de um quadro seleto de escritores, irmano-me ao pensamento de um acadêmico e escritor maranhense, que cem anos faria, no dia vinte e um de agosto deste ano se vivo estivesse: Josué Montello. No seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras ele disse:

Torna-se indispensável exigir da arte da palavra, a fim de reabilitá-la no âmbito de seu próprio domínio, que as letras espelhem três fidelidades básicas: a fidelidade do homem às suas convicções, a fidelidade do escritor ao seu tempo e a fidelidade do artista à sua arte. (MONTELLO, www.academia.org.br)

Ainda sou iniciante, não posso comparar-me ao nobre acadêmico, mas creio que está aqui é, se não o reconhecimento de uma vida literária de anos, no exercício de vários gêneros: poesia, conto, crônica, cordel e outros... Em conjunto, eles historiam momentos vivenciados no dia a dia. São crônicas poéticas da vida, registros de pensamentos, de relatos e fatos reais que a linguagem literária transforma e faz “registro”. Eles que, no momento da criação, proporcionam a viagem que a imaginação faz no tempo e no espaço, palco de duras lutas travadas pela subjetividade. Vencê-las, impossível! Escrevê-las, mais fácil, pois, a arte da escrita impulsiona o momento criador, alimentado pelo entusiasmo de passar para o papel as inquietações e angústias do ser existencial.

Quero, ainda, valer-me do discurso de recepção que fez Marcos Vinícios Rodrigues Vilaça, da Academia Brasileira de Letras,na posse de Ariano Suassuna, para fazer uma citação. Disse ele:

Aqui encontrará, porém, a glória que não passa mesmo, porque as academias não inventam, não fazem escritores menores ou maiores. As academias nada têm a dar além do reconhecimento dos valores e dos poderes do convívio. As academias não prejudicam a obra de ninguém, não amordaçam nem libertam escritores. Nem as academias representam estações de fim de linha

Quero, pois, e de outro modo, compreender a natureza dos ritos e dizer que, receber o fardão, simboliza a relevância litúrgica que completa a dignidade ou o ridículo de quem o recebe, isto é, finaliza Marcos Vinicios “depende do monge que o use”.

Desde muito cedo fiz do trabalho a prioridade na minha vida. Por anos a fio, a exemplo de alguns outros irmãos e irmãs, persegui a busca de dias melhores, propiciando aos familiares melhores oportunidades, e aos mais novos, a chance de concluir os estudos mais completos, o que graças a Deus, foi possível. Homenageio aqui a minha irmã, Camila Maria Silva Nascimento. Ela é cronista, professora de Teoria Literária e Literatura Brasileira, da Universidade Estadual do Maranhão, é doutora, em Ciência da Literatura pela UFRJ. Com ela, sempre que posso, confidencio as minhas inquietudes literárias.

Sou nascido de uma família grande e rica! Realmente grandiosa em número: tenho seis irmãs e seis irmãos, sendo um deles meu irmão gêmeo, todos bastante e ainda presentes, na minha vida. Nossa família é rica, de muitas bênçãos e fortunas, pois compomos uma grande e abençoada árvore, cujo tronco foram os nossos pais, exemplos de espiritualidade, que fomentaram em nós o valor da oração em família, para a manutenção do bem, da paz e da união.

O casal Vicente e Elvira, do qual tivemos a sortuda gênese, ficou conosco por um bom tempo, nos levando a celebrar suas bodas de diamante. Há poucos anos, porém, ambos partiram. Ela, em março de 2010, com 79 anos, ele, em Março de 2012, com 95 anos, de admirável lucidez! Nos últimos meses, entretanto, o Sr. Vicente carregava consigo um imenso vazio pela perda de seu único e grande amor – companheira de 61 anos.

Imensurável foi a nossa tristeza e incomparável a orfandade que nos abateu ao vê-los partir, cada um em sua hora. No entanto, não nos acometeu a infelicidade, pois aceitamos os desígnios de Deus, a quem agradecemos pelo tempo que nos permitiu que partilhássemos das suas companhias. Tenho a certeza de que ele os chamou, após permitir-lhes cumprir a sua missão, de pais educadores e dedicados aos seus treze rebentos, na ordem natural da vida – os filhos cuidaram e se despedirem dos seus pais!

Hoje, restam-me saudades, mas um profundo orgulho de ter sido um dos seus. Meu pai, o Mestre Vicente, como era chamado na pequena cidade de Missão Velha, no Carirí cearense! Esse título, um reconhecimento e atributo pelo esmero que ele tinha, no trabalho com a madeira! Ele foi um escultor, um exímio marceneiro e carpinteiro, além de tirar das cordas do seu violão nas horas de folga, as mais belas e suaves melodias! Minha mãe, Dona Elvira, mulher prendada e altiva! Uma exímia costureira e cozinheira que, pela sua criatividade e despojamento, ajudou a bem criar e vestir os seus filhos.

Foi com eles que aprendi desde cedo, na incansável lida diária, a superar as condições adversas pelo trabalho, que sustentou a família com dignidade. Boa comida à mesa, graças a Deus nunca nos faltou. Foi deles que recebi, entre tantas outras lições, uma de grande importância – a humildade. Também recebi deles as primeiras noções de ambientalismo sustentável: não desperdiçar a água e os alimentos, valorizar o que se tinha à mesa e tirar da natureza somente o necessário. Diziam eles que, enquanto a nossa mesa se abastava do necessário,muita gente sobrevivia de sobras!

Voltando ao motivo que aqui me trouxe. Desde cedo fui atraído pela literatura popular, quando adolescente, trabalhei em feiras e mercados de algumas pequenas cidades nordestinas. Era lá que, costumamente eu assistia aos cordelistas, com seus livretos contando histórias, casos e aventuras de personagens tirados do dia-a-dia. Ali, me admiravam os repentistas com seus poemas compostos de improviso. Impressionava-me a sutileza dos versos, as rimas de acordo com o mote apresentado e o desenvolvimento de qualquer tema sugerido.

As histórias cantadas variavam do universal ao particular, da ciência ao religioso. Eles, muitas vezes, eram os veículos, através dos quais as informações, as notícias, os valores sociais e culturais se faziam ensinamentos. Em versos, rimados, ritmados e poéticos, eles viajavam pelos pequenos lugarejos, a exemplo dos menestréis das Cantigas Trovadorescas, comunicando e formando opinião com seus repentes, hoje, por muitos considerados anacrônicos. Essa Arte ainda hoje me fascina quando vejo os repentistas, de viola em punho, abordando as pessoas em locais públicos e improvisando com bom humor os seus versos.

Ainda no tocante à arte popular, refiro-me, também, à Música Popular Brasileira e seus movimentos, como a Bossa Nova, Tropicália dentre outros. No período de um pouco mais de três décadas, como lojista, e no seguimento de vendas de Long plays (discos de vinil) e fitas k7, hoje, Cds e outras mídias, acompanhei muitos compositores renomados ou não, mas que escreveram excelentes letras de canções, verdadeiros poemas. Estes, certamente, se comparados a textos literários de escritores que os credenciam, poderiam ocupar concernentes vagas em academias de letras. Isto ilustra, a meu ver, a relação próxima dessas distintas e singulares artes, espaços em que a literatura se faz presente como arte da palavra escrita.

Encerrando, quero destacar que, ao ser recebido nesta ilustre casa, me coloco a disposição para contribuir, humildemente, mas com muito zelo, pelo seu engrandecimento, principalmente honrando a Cadeira de Nº 30 que vou ocupar. Prometo respeitá-la, devotando afeição, e, sobretudo, fidelidade. Tenho a convicção de que, após o dever cumprido, quando aqui eu não mais estiver, o meu sucessor faça por ela o melhor! Por fim, agradeço uma vez mais, a todos quantos nos honraram com suas presenças nesta noite para este grandioso evento. Ressalto aqui, meus irmãos e irmãs, presentes em pensamentos, representados pelo meu gêmeo, Paulo Ivan, que em comum também, tem a coragem de escrever e, a ousadia de fazer publicações. Não poderia deixar de agradecer a presença da minha filha Marília, de sua mãe Elielda Amaral, de Maria Antonia, minha companheira desses últimos anos, da prima, Elineide Silva, de amigas e amigos presentes. Meu muito obrigado!

Mariano Gomes Silva.

Altamira, PA, 23 de Setembro de 2017.

Mariano Silva
Enviado por Mariano Silva em 28/09/2017
Código do texto: T6127220
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