As Quatro Estações do Amor

As Quatro Estações do Amor

Primavera:

Sopra um vento suave balançando a copa das árvores, como a querer acalentar os pequeninos botões das flores e rosas recém nascidos.

O céu adquire uma tonalidade azul-bebê, como se uma mão invisível propositadamente o houvesse pintado, espalhando suaves pinceladas de nuvens brancas espaçadas, fazendo uma bela e digna decoração.

A terra estende um lindo tapete verde de grama baixa, todo decorado de pequenas flores silvestres multicoloridas.

Pequenos pássaros saltitam de galo em galho, como se estes fossem móbiles de enfeites para o grande berço em que a terra se transforma. Entoam seu canto trinado como pequenas caixas de música. Animais de todas as espécies correm, rastejam, arrastam-se, nadam, voam e pulam como pequenos bichinhos de pelúcia movidos por força desconhecida. E, todo o ambiente se enche de vida para receber o amor.

É tempo de proliferação farta e saudável. Toda árvore frutífera dá seu fruto, como o leite de uma mãe que jorra do seio para a nova vida que se faz.

É o nascimento do amor. Do amor mágico e encantado, sublime e sem medo. O sonho dos deuses, gerado no ventre da mãe natureza.

Assim é a primavera dos tempos. Assim foi a primavera do meu amor.

Verão:

Chega então o verão. Sobe à temperatura, o amor entra em ebulição. O sol brilha ainda mais quente e mais forte, como também brilhante, mais quente e mais forte fica o amor.

Os dias se tornam mais longos e mais claros. Um espelho do amor prolongado, claro, nem dúvidas nem receios, sem nada o que temer.

Tornam-se os ventos variáveis. Hora sopram suave brisa, e hora fustigam os galhos das árvores, quase os obrigando a deitarem-se. É como um convite à que os amantes deitem-se. Rodopiam os ventos assim como o amor, em pequenos redemoinhos, e, às vezes tempestuosos furacões. Verdadeiro emblema da paixão e do desejo.

Nada parece mais com o amor, em sua progressão do carinho a luxuria. Dá suave carícia como uma brisa a fúria incontida do sexo, como um furacão de desejo.

O ar se torna seco, como seca fica a respiração dos amantes. A temperatura alta provoca uma estranha languidez, semelhante a dos que se amam. E, por fim, desaba uma chuva torrencial, cai à tempestade de verão. Uma verdadeira pintura da loucura do amor, sua fúria e desejo. Depois a água que os banha, assim como as chuvas de verão banha a terra.

Assim é o verão dos tempos. Assim foi o verão do meu amor.

Outono:

Vem o outono das Estações, assim como vem o outono dos amores.

Tornam-se os dias mais frios, assim como as paixões depois de exauridas.

Toda a vegetação cobre-se de uma folhagem esmaecida, amarelada. Um simbolismo da própria estação do amor e dos que amam.

Mas toda essa paisagem é apenas o prenúncio da queda. A precipitação das folhas, que perdendo seu brilho e seu verde, vão perdendo sua energia e caminhando para a morte feia e sem vida, como folhas secas ao chão.

Um amor que insiste em resistir ao tempo, mas que a própria natureza amortece o frescor da paixão e do desejo, escondendo-o por entre folhas e galhos secos da vida.

Toda a natureza assim como a própria vida cambaleia entre o verão que se foi e, o inverno que está por vir. Assim como o amor que fica entre o fogo abrasador do seu próprio verão que já se foi, e a expectativa do seu próprio inverno que já se aproxima.

As estações do amor terminam por incidir diretamente no comportamento dos amantes. É inevitável. É o ciclo natural da própria existência do amor.

A vida e a natureza parecem perder o brilho e o fulgor, retratando o mesmo ciclo existencial do amor.

Mas, assim como a natureza, os amantes devem resistir, pois assim como na natureza, após a estação vindoura – o inverno - tudo voltará a ser como era antes.

Mas nem sempre os amantes suportam a morte de suas paixões.

Diferentes da natureza, eles regulam sua vida e existência não em ciclos que iniciam, acabam e iniciam novamente. A vida e a noção de tempo lhes cobra viver. E viver intensamente.

Caem então no erro comum da busca pela primavera e pelo verão perdido.

Sem o saber, antecipam seu próprio inverno.

Assim é o outono dos tempos. Assim foi o outono do meu amor.

Inverno:

Chega por fim o inverno.

Os céus ficam carregados de nuvens escuras, assim como a alma dos amantes.

O ar se torna mais úmido, como os olhos dos que choram a primavera e o verão de seu amor perdido.

Os ventos tornam-se frios, e as noites geladas. O próprio retrato do amante que tem sua respiração fria, sem mais o calor da paixão perdida. É noite longa e fria no seu coração congelado de dor.

Toda a terra e sua natureza cobrem-se de um cinza-esbranquiçado, como assim cobre-se a alma daquele que enfrenta o inverno de seu coração.

Toda a vida parece hibernar em um sono gelado e triste. Não muito diferente daquele que enfrenta o inverno e o frio na alma.

Chuva espaça caem fina por sobre a terra, sem a força e o vigor das tempestades de verão. É algo semelhante o cair das lagrimas daquele que sem mais força e vigor chora a perda de sua amada para o outono de sua vida.

Quem olha a paisagem nesta Estação tem a impressão de que será eterna. E não é diferente para aquele que enfrenta sua própria estação de inverno da alma.

A natureza enterra a vida, e esta é literalmente sepultada no frio dos ventos sob a neve gelada. Um retrato vivo. Uma gravura fiel da realidade.

Parece não bastar ser inverno. Tem que ser frio como uma traição, e gelado como o gelo que friamente te queima o coração.

Como sobreviver a isso? Pensamos, ao olhar a paisagem morta. Uma espécie de visão da própria existência.

Mas a natureza sempre retorna, em seu ciclo interminável, fazendo-nos ver a vida lá fora, e a própria existência, sob o controle de nossas próprias estações.

Vivo eu estivesse, e teria a esperança de uma nova primavera de amor. De um novo verão a incendiar-me a paixão e o desejo.

Tenho uma natureza, mas não eu essa mesma natureza. Literalmente sucumbi ao outono do meu amor, sepultando meu coração sob a neve gelada do inverno de minha alma. Assim não há mais vida a ser vivida, nem estação a retornar.

Assim como o gelo congela e conserva tudo que é vivo, mantendo-o em suspensão, meu amor foi literalmente congelado. E em suspensão vive, por e para ele mesmo. Por Ela, e só por Ella, para todo o sempre.

Fico feliz por ela ter sobrevivido, e encontrado nos ventos frios e na neve gelada, forças para uma nova primavera em sua vida, e a expectativa de um novo verão de amor.

E que nunca, nunca, jamais lhe venha o outono e o inverno. Pois assim como na natureza, ele – o inverno - sepulta a beleza da vida em prol de sua própria existência, dessa mesma forma sepultou a beleza do meu viver.

Assim é o inverno dos tempos. Assim foi o inverno do meu amor.

A todos que sabem amar eternamente.

(Farias Israel-jan/2014-PE)

Farias Israel
Enviado por Farias Israel em 19/06/2017
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