Barulho do silêncio

Não era bonito, alguns diziam, mas não. Nunca foi o que esperavam dele, nem o que ele mesmo esperava. Não estava pronto, só era contemplativo, que há uma diferença. Não era decidido, só impulsivo, sem remédio. Não era forte, só aparentava ser, a camada de força que fingia ter se esvaia a cada noite ao vestir o pijama para poder afundar no travesseiro e chorar por tudo ou chorar por nada. Era forte de outra maneira, com o coração partido e cheio de cicatrizes cada dia se levantava. Sempre perdoava, pensava que se faziam mal era porque precisavam, ou porque sofrem por dentro, e por isso sempre suportou. Tinha medo de ferir e acabava se armando, mas sempre esquecia a armadura em casa. Ele era um desastre ambulante de sentimentos, mas se recusava a ser um instante, uma inspiração, por isso nunca esqueceu. Tinha um sorriso sincero, do mesmo tamanho da dor que o pesava. Acariciava as noites, mesmo que não saibas, perdeu sua mão nos cabelos da ausência inoportuna de um lugar outrora ocupado, e quando tenta dormir, afasta-se dos sonhos a muito roubados, levados para um horizonte longínquo. Agora tenta beijar almas, não pelos lábios, mas pelos sentimentos, por isso beija bonito sem ter muita prática. está se construindo aos poucos, caco por caco, sonhos e imaginações das madrugadas eternas, erros, como vários outros, por isso, decepcionado, mas se reconstruindo. Ele era diferente, mesmo que não acredites. Nunca se escureceu nesses abismos noturnos, onde muitos se perdem no tempo que tanto lhes faltam. Ele era a cura para as doenças de outros, mas também era contagioso. Dava sem receber e isso lhe matava. Acreditava em coincidências, mas não as desafiava. Ele só queria um bom dia, o suficiente, não era preciso perguntar-lhe sobre as mensagens que tanto almejava. Ele falava com os olhos, alguns dizem que embrulhavam sonetos e estrofes de várias melodias, algumas tristes, outras alegres, com seu olhar expressava, beijava, até fazia amor, odiava, silenciava e gritava. Ninguém sabia a cor dos mesmos, mas quem sabia olhar para ele, podia contar com o brilho do olhar como os seus guias. Ele não perdia a vontade, a tiraram com empenho e insanidade. Ninguém o via feliz e o que ninguém sabia é que era feliz só de olhar para ela. E todas as vezes que tenha visto a sua alma, encontrara o que escrevia em segredo, assim, sem dizer nada. O que levou a ir embora sem ouvir adeus, nem um último beijo... Ele fazia muito barulho, mas quando alguém vai embora, faz barulho em silêncio...

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 24/12/2016
Reeditado em 24/12/2016
Código do texto: T5861867
Classificação de conteúdo: seguro