Infâmia de Adão

Um império inovador escolhe pesar o universo para esquivar a infâmia de Adão. O inesgotável choro da árvore oriental tentando cobrir a história das suas raízes. O poeta mitológico sentado à sua sombra viu tropas e gritos ferozes marchar para o abismo. A história foi cruel com eles... pensou ele.

Como pintar o paradoxo de renunciar à carícia familiar para morrer nas páginas da guerra?

E então nasceu o mito de semideuses: Imortais... Do devoto historiador sentado à sua volta, que narra a unicidade de um Deus hebraico lutando contra o panteísmo egipciano, assírio, babilônico ou grego que tenta sufoca-los. Se ganhar a guerra contra os seus preconceitos, a história o substituirá. Do filósofo que subiu à árvore e parou no ramo seco a levantar a sua bandeira. Viu Platão a imortalidade da alma que defendia? Vai haver lavado as suas ideias no mitológico Rio Estige? Talvez pagou o óbolo ao barqueiro Caronte para ensiná-lo a silhueta de uma alma? Compareceu perante os juízes infernais do mito? Talvez, ao ouvir a sua filosofia; estes, se olharam e cozinharam: "o indultaremos de seus medos e crimes para que não sofra no tártaro, que volte ao ramo até que os homens do últimos dias vejam a lenha." Senti a realidade da invenção grega do limbo: ou do Purgatório onde se purificariam as almas? Ou a resposta é, não era apto para desfrutar de uma boa consciência pelo desatino de justificar a escravidão? Isso explica a sua exigência de uma segunda oportunidade para se redimir.

Dois mil e quinhentos anos mais tarde, o olhar de um homem atravessa as copas das árvores. As nuvens estão carregadas. Não suportam tantas utopias! Continuarão a chorar para ir para o mar. Vá cruz etérea a vaidade do homem, que, influenciado pela necessidade intrínseca de se salvar, inventa escadarias de tretas que cercam a Deus para voltar para o mar procurando os joelhos que lhe rendam homenagem intelectual. Quanta verdade pode abranger uma mão côncava? Algumas gotas da sua banheira arranham o silêncio; "Esqueci-me de fechar a torneira..." pensou ele.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 06/12/2016
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