As Paredes Têm Ouvidos

Ah, essas aspirações indolentes de uma vaidade incontrolável! Incontrolável vaidade. Notavelmente incontrolável. Incontrolavelmente extenuante, a vaidade.

Estas palavras se discorrem sobre uma necessidade de dizer alguma coisa que encontre ouvidos sãos. No caso, olhos vivos, que leiam, que percebam. É um desespero. Um movimento agoniado pela observação. Não há mais nada a ser feito senão perceber minha própria vida e compor essas percepções da maneira mais graciosa possível, mesmo que a graça seja torpe, grotesca. A proposta é o gemido. Um gemido que se ouça à distância das fronteiras do mundo, porque, se há o reconhecimento dessas barreiras quiméricas, então já se descarta a improbabilidade de um cérebro atento, que nota o sangue que escorre em uma alma ferida de... vaidade. É pura vaidade. Vaidade das vaidades.

Onde há quem se interesse verdadeiramente por alguma coisa que se diga lá do fundo do coração? Ou será que há aqui mais do mesmo? Mais do mesmo, meu deus do céu! Será? Será que o que difere um gemido de outro é um glamour que se esconde na memória acumulada de quem geme? Então os mais velhos têm vantagem.

Mas ainda não se respondeu aqui para mim, na solidão da minha cabeça que se aperta e se retorce, espremendo o próprio dilema para transparecer nestas palavras uma verdade de si: há diferença entre os desejos, ou todo desejo é um?

Não é possível que não seja notável o objeto destes termos. E se é para ter graça, por que não fazer uso irrestrito desse material de criação? Tantas palavras há, e quer-se que se utilize meia dúzia de termos para chorar? Assim é esperado. Minha mãe me acha louco. Os amigos, um faz-nada. Os solitários é que acenam de longe. E são tão poucos. São tantos, para todo canto, mas são tão poucos que se percebem em um espelho.

O Facebook não comporta essa pressão. Nem outras mídias, outros canais. Mas é indolência. É preguiça. Não quero aparecer, quero ser aparecido. Sou quem se esconde para ser procurado.

Eu só quero dizer, no final das contas, dizer. E tenho dito. Ainda digo. Escrevo. E é indolência, certamente, minha vaidade impaciente. "As palavras não saem por aí buscando olhos, caro Morsa!" Não saem, mas eu queria que saíssem. Não quero cultivar um florescer que de mim dependa, só quero sua atenção. "Desculpe incomodar a viagem de vocês." Atenção. Atenção. Atenção!

Sabe então por que vim? Evidentemente, não é? Neste calabouço posso chorar sobre as paredes. "As paredes têm ouvidos."

Ouçam, paredes! Ouçam-me chorar!

Julião Morsa
Enviado por Julião Morsa em 24/11/2016
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