Vida de Vestibulando

6:15. Acorda. Vai pro banheiro. Lava o rosto. Troca de roupa. Bom dia. Hora de ir pro cursinho. Chama o elevador. Vai até a garagem. Liga o radio. Conversa com a tia. Chega no cursinho. Desce do carro. Entra no cursinho. Bom dia, Rui. Vai até a cantina. Um pão de queijo e um café no débito por favor. Não precisa da minha via não. Pega o café da manhã. Vai até o bebedouro. Enche a garrafinha. Sobe pra sala. Bom dia migas. 7:15. Aula começa. Vem sono. 8:45. Intervalo. Hora do energético. 9:00. Volta pra aula. Vai sono. 10:30. Intervalo. Enche a garrafinha. Vai pro banheiro. 10:45. Volta pra aula. Vem fome. Vem frio. 11:30. É só mais uma aula. Pensar no que fazer pro almoço. Meu Deus, esse ar tá muito gelado. 12:15. Finalmente hora de ir pra casa. 12:24. Chegar em casa. Oi, Marcio. Fecha portão. Chama elevador. Que saudade de chegar e ter almoço pronto. Reclamar um pouco. Ligar TV. Prender cabelo. Fazer almoço. Comer. Dormir 30 minutos. Acordar. Estudar. Estudar. Cansar. Estudar. Estudar. Estudar. Ter fome. Comer. Estudar. Estudar. 19h. Parar. Relaxar. 22h. Tomar chá. Dormir. Recomeçar.

É isso, por meses. Todos os dias a mesma coisa, um dia da muita preguiça, mas você continua, uma hora o corpo pede pra parar e você para. Um hora você acha que isso não é pra você e não vai mais conseguir, mas no outro dia está lá de novo. Tem a fase em que você acha que vai conseguir, essa passa rápido. Logo vem outra fase ruim. O ano todo oscilando entre vou conseguir e não tenho capacidade pra isso.

O final do ano chega. Bem, para nós, isso é sinônimo de provas. É hora de provar a nossa resistência, de provar pra nós que somos capazes e de provar que tudo valeu a pena. PRESSÃO. Pressão que eu coloco em mim, ela é imensa, pressão que os professores colocam, pressão que a família coloca, os amigos, conhecidos, e todos que participam disso de alguma forma.

Chega o dia da prova, a vontade de chorar é gigantesca, o olho se enche de lágrimas, mas a gente segura pra mostrar que é forte. Na hora da prova é manter a calma e resolver. Pois bem, acaba a prova e nessa hora esperança passa 100%. Saindo da sala, é hora de ligar pra família avisando que terminou. "E, aí? Como foi? Tava tranquila? Conseguiu resolver tudo? Pegou o gabarito?" Sim, fiquei tranquila e consegui fazer quase tudo, não consegui uma só, vou esperar até 19:30 e pegar a prova, o gabarito sai às 20h.

Ficar com as amigas e não comentar sobre a prova, falar sobre mil coisas e relaxar. 2 anos depois, chegou 19:30. Corre pra pegar a prova. Volta com as amigas. Hora de ir pra casa.

Chegar em casa, correr pra internet conferir o gabarito. Começa tudo bem, esperança passa 200% e durante a correção começa a cair. Termina a correção e, mais uma vez, um não. Outro não.

Pode ser que um não dos pais seja doloroso, mas nunca vai ser tão doloroso quanto esse. Você se dedicar por três anos e só receber "não" faz SIM você duvidar da sua capacidade. Faz repensar se é isso mesmo o que quer pra vida. Se vai conseguir. Se tem força pra continuar batalhando.

Hoje, 25/10 às 04:06 da manhã a minha resposta também é não.

Eu NÃO sou capaz de passar em um vestibular pra medicina, eu NÃO vou conseguir, eu NÃO sei se quero mais um ano no cursinho e acredito que NÃO tenho mais forças pra batalhar por isso.

É a pior sensação da vida de um vestibulando. Até que ponto vale a pena o "não desista dos seus sonhos"?

Bruna Rigolon
Enviado por Bruna Rigolon em 25/10/2016
Código do texto: T5802316
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