Eu e a solidão

Achei que a solidão fosse minha amiga, nos demos bem durante muito tempo. Aquele tempo comigo mesma que eu considerava como independência emocional. Aqueles minutos em que eu lia um livro na rede. Em que assistia um filme ou jogava vídeo game. Eu me sentia tão confortável em minha própria pele.

E agora não é mais assim. A solidão havia me tratado bem. E desde então parou. Eu achei que tivesse haver com outra pessoa, talvez por ser sozinha por tanto tempo eu esperava alguém que viesse pra ficar. Mas eu confundi tudo.

E me parece que as pessoas já não me querem mais ao lado delas, me isolei mais tempo que o necessário e não foi saudável.

Sinto falta da vida que habitava em mim. As músicas já não me transmitem paz, meu cérebro não para de me bombardear com lembranças do passado e oportunidades perdidas. E me pergunto se vai ser sempre assim.

Olho para meus vinte e poucos anos e me vejo alegre e feliz no começo dos vinte, com a casa cheia de amigos, iniciando um faculdade, fazendo estágio e escolhendo a pessoa errada pra namorar.

Me vejo pós 25 anos, com menos amigos, uma vida mais séria, solteira, iniciando uma segunda faculdade e me fechando a todas as oportunidades de namoro.

Me vejo aos 29 e não sei nem traduzir como tem sido a vida nessa fase. Olhei ao meu redor, vi que todos os meus amigos haviam se casado e tido filhos. Meu melhor amigo havia gastado seus vinte e poucos anos viajando pelo mundo, meu irmão havia se casado e viajado pelo Brasil a trabalho. E eu do mesmo jeito, na minha solidão que achava confortável.

Até que apareceu alguém, se interessou por mim, mas eu já estava tão desanimada e desabituada a conhecer gente nova que espantei ele. Tive uma confusão mental, tentei voltar no tempo. E desde então não me reconheço mais. Já não consigo ver filmes com antigamente, nem ouvir música, me sinto sozinha e queria muito estar iniciando a casa dos vinte de novo. Mas a realidade é que me preparo para a casa dos trinta e estou com tanto medo que já me vejo com 40, sozinha, fragilizada emocionalmente, sem nenhum amigo (talvez com uma), observando meus amigos do colegial contando histórias dos seus filhos, vendo meus alunos se tornarem jovens. E isso é assustador. A vida está passando por mim e não mais o menor controle sobre ela.