O SONHO RECORRENTE

Lá pelos meus 10 anos de idade, eu sempre tinha o mesmo sonho e o mesmo pesadelo, eram recorrentes e totalmente opostos, em um a parte triste era acordar no outro acordar era tudo que eu queria.

O sonho

Eu estava no sitio de meus avós quando decidia ir para meu lugar especial, uma espécie de jardim encantado o qual já fui muitas vezes em meus sonhos, porém, as memorias desse sempre foram um lapso temporal.

Para que eu chegasse nesse lugar tão especial eu tinha primeiro que passar por uma cerca e depois por uma cachoeira. Bem tudo se resumia a essa cachoeira, para atravessa-la tinha que saltar de uma pedra para outra, no meio um abismo sem fim. Na maioria das vezes eu conseguia saltar e chegar ao outro lado. Eram raras às vezes em que o sonho terminava antes do fim, com um salto mal dado, mas acontecia.

Ao chegar ao outro lado eu enxergava um bambuzal, eu me via em terceira pessoa indo em direção as folhas verdes, quase podia sentir o vento, deste ponto em diante é tudo branco.

Na volta para casa eu sinto uma paz, como se eu acabasse de vir do melhor lugar do mundo, na hora de atravessar a cachoeira sempre caio, sinto um frio na barriga e acordo.

O pesadelo matemático.

O pesadelo era algo que acordado nunca me deu medo, mas nos senhor eu tremia e acordava com uma cessação de que não podia ser só aquilo. No pesadelo, eu tinha que contar de um até um número absurdo, algo impossível, do contrario, algo de ruim aconteceria.

Eu fugia e enormes penhascos apareciam e tudo que eu queria ara acordar, sempre era um pesadelo lucido, eu fazia sempre o obvio, me jogava nos buracos para acordar, mas não funcionava a maioria das vezes e quando eu acordava, geralmente estava com febre e sabia que apenas aquilo não poderia me amedrontar tanto, os objetos dos lugares em que acordava de repente ficavam mudando de tamanho e o medo me abocanhava. Tenho certeza que na minha vida em 24 anos eu nunca senti tanto medo como quando tinha esses pesadelos.

Um dia, aos 11 anos, eu estava na sala de aula ouvindo as explicações do professor, foi quando vi a cabeça dele encolher e sua voz ficar mais alta e minhas mãos tremiam sem parar e lagrimas escorriam. Essa foi à primeira vez dos meus recorrentes pesadelos acordado, crise nervosa se assim preferirem. Era comum isso ocorre quando assistia TV, ia a escola, brincava e em alguns outros momentos. O resultado, uma visita ao medico, me proibiram de tomar café por um logo tempo.

Aos 16 anos, já fazia uns três anos desde minha última crise nervosa, mas durante uma febre alta delirei, via formas destorcidas e todos pareciam gritar comigo. Em meus pesadelos, sempre, dormindo ou acordado, o que me assustava era a enorme sensação de fracasso perante a minha incapacidade de concluir uma tarefa tão simples e ao mesmo tempo tão impossível.

Em algum momento dos meus 21 anos, meus sonhos e pesadelos voltaram em uma única noite. Sonhei que eu buscava uma terra perdida e na busca eu encontrava um caminho feito por bambus, eu sentia que era familiar, no entanto, tão diferente, em fim, vi meu lugar especial, era um campo enorme de grama seca com um leito de rio seco onde só se podia ver a areia branca.

Decepcionado eu senti que aquilo não podia ser meu lugar especial, foi quando vi ao longe as pedras que formavam a cachoeira, lá não corria mais água, senti que eu poderia acessar o meu lugar especial se atravessasse, porem não tentei, não avia água nem penhasco, apenas as pedras. Eu estava triste, logo o mundo ao meu redor começou a se despedaçar e o mesmo pesadelo veio à tona, agora menos assustador, porém, eu relutei a aceitar o que estava acontecendo, imagens negras e um som auto me invadiam a mente e eu acordei com uma sensação de que algo faltava em minha vida.

Nunca mais tive um pesadelo, pelo menos não até agora. Sinto como se o preço por perder meus medos foi também perder meus sonhos. Naquela noite não senti medo dos números infinitos ou das formas geométricas, o único medo foi de perder aquilo que nem cheguei a ter de verdade.

Emanuel Franca
Enviado por Emanuel Franca em 21/11/2017
Código do texto: T6177773
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