OS INVISÍVEIS

Saindo do restaurante reparei com o homem deitado na calçada, vestindo roupas imundas e com aparência de bêbado. Ao entrar já o tinha visto de relance. Segurando nas mãos um pacote com o que sobrou da comida me aproximei com a intenção de entrega-lo para que comesse alguma coisa. Chamei por duas ou três vezes ele se sentou com dificuldade avaliou a situação por alguns instantes enfim reparou em mim. Estendi-lhe o pacote com a comida e ele não pegou. Olhando fixamente deu uma explicação surpreendente “não tenho dinheiro”. Não acreditou que poderia ser um gesto de generosidade. Insisti e ele resolveu aceitar meio desconfiado. Segui meu caminho comovido. Aquele ser humano em farrapos, ainda conservava um fio de dignidade. Relutou em aceitar o alimento de graça. Quantas vezes a fome já o teria obrigado a pedir comida e recebido um NÃO como resposta. Certa vez perguntei a um garçon se havia muita sobra de comida no restaurante no final da noite. Ele respondeu que sim, poucas pessoas pedem para levar as sobras. Então perguntei porque não era distribuída aos moradores de rua e mendigos. Ele me deu três motivos: 1-Porque eles começariam uma fila no início da noite para esperar as sobras no fechamento do restaurante, o que seria um espetáculo deprimente para a clientela. 2 – Por segurança do estabelecimento, pois se algum deles passasse mal, poderia abrir um processo. 3 –Os empregados teriam que trabalhar tempo extra sem remuneração para fazer a distribuição, e já cansados não teriam disposição para fazê-lo. Excetuando a última resposta que teria raízes no egoísmo, não discordo das duas primeiras. Uma fila de famintos na porta poderia prejudicar e até inibir o acesso da clientela por medo ou preconceito. Um processo poderia ser aberto por um deles, principalmente se aconselhado por uma ONG ou um advogado. Mas acredito que possa haver uma maneira de redirecionar nossas sobras e desperdícios para essa parte da população. Salvo alguns poucos grupos de caráter humanitário e voluntário, pouca gente se preocupa com eles. Com um pouco de boa vontade sempre se pode ajudar, cada um usando sua criatividade. Sei que a obrigação principal de resolver o problema é do poder público, no entanto se cada um fizer a sua parte o problema já reduz bastante, enfim no nosso País não são tantos assim. Se eu não tivesse baixado o meu olhar para a sarjeta não o teria visto e teria seguido em frente como já deve ter acontecido tantas vezes. Estes seres são invisíveis para a sociedade. Ajuda-los é nosso dever ético e cristão. Todos temos condições de participar dessa corrente, cada um a seu modo e dentro de suas posses, basta parar um instante e descobrir como.

Al Primo
Enviado por Al Primo em 20/11/2017
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